.
Autor:
Simone Terra
Qualificação:
Diretora de Pesquisa do POPAI Brasil e da Múltipla P&D
E-mail:
[email protected]
Data:
30/12/05
As opiniões expressas em matérias assinadas não refletem, necessariamente, a posição do Empresário Online. Proibida a reprodução sem a autorização expressa do autor.

A Evolução do Merchandising no Canal de Alimentos

Muitas coisas mudaram nos últimos dois anos quando observamos o merchandising no varejo de alimentos brasileiro. Podemos dizer que desde a realização do estudo “Super e Hipermercados” do POPAI Brasil - Point of Purchase Advertising International, até hoje, percebemos uma revolução do merchandising nos pontos-de-venda.

Nos últimos resultados do Estudo POPAI, ficou evidente que o consumidor estava mais racional em suas compras e, conseqüentemente, menos encantado com o ato de ir ao supermercado. A redução do poder de compra e o aumento de gastos com novos produtos que entraram no mercado (celular, internet, TV a cabo, etc.) diminuíram o número de itens comprados neste canal.

Além de reduzir a cesta habitual de alimentos, o consumidor muitas vezes trocou as marcas líderes por marcas mais baratas, ou mesmo desconhecidas, e o resultado desta mudança se fez presente nos fracos resultados financeiros dos quais o varejo foi vítima no início do século XXI.

Muitos produtos supérfluos ou de impulsão foram trocados pela previsão certeira e contida do dinheiro a ser despendido em alimentos. Entretanto, o estudo também demonstrou claramente que existiam possibilidades de reversão neste quadro, pois além de evidenciar que as novidades ainda mobilizavam a compra (24% de consumidores compravam algo novo para experimentar), deixou claro que os consumidores estavam fazendo suas compras nos “mercadinhos” de proximidade ou buscando canais mais especializados como hortifrutis, empórios, queijarias, lojas de conveniências e adegas. E mesmo que a busca destes canais fosse um movimento mais presente no segmento com maior poder de compra, o estudo demonstrou claramente que o consumidor desejava mudanças e inovações no PDV.

Cada vez mais os estudos que realizamos confirmam a importância de se agregar prazer ao ato de compra criando ambientes agradáveis e chamativos, gerando movimento (visual e circular), despertando desejo, estimulando a interatividade, inclusive o relacionamento, ou seja, utilizando atributos emotivos para encantar o consumidor.

Esta é a função do merchandising e, ciente disso, os super e hipermercados “foram à luta”. Os pontos-de-venda estão mais criativos e logicamente quem sai lucrando com isto é o consumidor! Cada um desenvolve sua estratégia - grandes e pequenos PDV´s - mas a maioria está de olho no ato de compra, vivendo e aprendendo o ‘chão de loja’ como uma oportunidade ou até um diferencial.

O Carrefour, por exemplo, vem estimulando inovações na composição de ambientes, na lógica de exposição com os pontos focais, e, sobretudo, na parceria com fabricantes na exposição (cross-merchandising, displays, check-stand e inclusive na gôndola/geladeira).

O CBD, com lógica diferente para as bandeiras, vem incrementando suas lojas. O Pão de Açúcar usa muito o PDV para comunicar suas campanhas promocionais e institucionais (wobblers, banners, stoppers, etc.). O Extra continua buscando integração de categorias afins e, como no Sendas, tem dado cada vez mais destaque para as promoções, marcas próprias, cross-merchandising e terminais de gôndola.

Os pequenos não ficam atrás em relação a mudanças no PDV e, inclusive, segundo os fabricantes, costumam ser mais receptivos a parcerias no merchandising, pois estão sempre desejando trazer uma novidade para incrementar suas lojas e, conseqüentemente, suas vendas. Talvez porque percebam mais facilmente o resultado atingido com estas ferramentas.

Aprenderam bem o dever de casa, afinal de contas, quando o merchandising vende mais, todos lucram: fabricantes, varejistas e consumidores que adoram as mudanças e novidades que se operam no PDV!

Tenho certeza de que se todos vissem os filmes do ato da compra, que passo minha vida analisando, entenderiam que mais do que somente para destacar produtos, as peças de merchandising funcionam como verdadeiros instrumentos de relacionamento e atratividade no PDV, gerando curiosidade, movimento, circulação, destacando pontos “mortos” e transformando compras de obrigação em compras de interação.

Para compreender claramente o que digo, basta parar a uns 3 metros de algum display bem localizado e ficar observando, sobretudo se ele tiver movimento, luz ou “coisas para ler e mexer”, vocês perceberão que os consumidores podem chegar a parecer crianças com os olhos brilhando. O caminho do merchandising já está traçado, o lugar ideal para fugir do comum e oferecer algo diferente do preço baixo - cada vez mais obrigatório - é transformar nossos PDVs de tal maneira que o consumidor tenha tantas coisas para descobrir e se distrair dentro deles que não queira mais sair correndo das lojas. Nesse momento talvez possamos considerar super e hipermercados os parques de diversão dos adultos!


.

© 1996/2005 - Hífen Comunicação Ltda.
Todos os Direitos Reservados.