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Autor:
Marcus Vinicius Pereira de Oliveira
Qualificação:
Psicólogo Organizacional e especialista na área de Qualidade & Produtividade
E-Mail
[email protected]
Data:
14/04/04
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A liderança e o seu papel nas estratégias organizacionais

Garantir o funcionamento de uma estratégia competitiva é tornar todos os colaboradores da organização seus donos. É colocar em prática as ações que muitas vezes só exprimem valor no papel ou nas apresentações pirotécnicas. Para isso, a liderança tem papel fundamental na construção da missão organizacional, disseminação dos objetivos, metas e meios para se atingir os resultados esperados, cabendo ao principal líder da empresa, o presidente, assumir tal responsabilidade. É o presidente da empresa quem deve ter a disposição para efetuar escolhas e enfrentar os conflitos decorrentes das mesmas. Como toda estratégia está baseada em escolhas e estas sempre carregam restrições, é preciso que o líder entenda e defina quem fica de fora do jogo e como a empresa irá lidar com essa condição, inclusive no caso de clientes.

A estratégia exige comando e para liderá-la é preciso ter a capacidade de atrair e conduzir seguidores. Por isso, o líder carrega o peso de definir e tornar executáveis as estratégias de competitividade que a empresa irá utilizar para garantir a sustentação de seus resultados ao longo do tempo. Cabe-lhe a incumbência de influenciar seus colaboradores e de alinhar seus respectivos processos com os objetivos propostos pela organização. Daí é fácil compreendermos a importância do líder como agente de direcionamento organizacional e das pessoas como executoras dos processos principais decorrentes deste posicionamento.

Alinhar os processos aos objetivos da empresa, juntamente com o desenvolvimento das competências essenciais é a base para a implementação bem sucedida de uma estratégia. Trata-se de liderança, alinhada a ações educacionais eficazes que incorporarão a estratégia à cultura organizacional.

Duas habilidades básicas devem estar presentes nos líderes para tornar eficaz a implementação de estratégias: as habilidades humanas e as habilidades conceituais. As habilidades humanas representam a capacidade de interagir com as pessoas, comunicar-se de forma clara, motivando os colaboradores e valorizando os resultados obtidos. As habilidades conceituais referem-se à capacidade de olhar o todo, ter uma visão sistêmica dos processos e de suas interações com o meio externo (mercado, clientes, governo...).

Implementando a estratégia

A transição entre as visões da alta direção e sua realização tem sido o principal desafio das empresas. Se por um lado diretores e presidentes de empresas estão sensíveis a fazer algo diferente mediante as pressões do mercado, as mudanças ou novos posicionamentos ficam estancados apenas no discurso inicial, às vezes inflamado, mas sem nenhuma eficácia. O mesmo pode acontecer com as estratégias; tudo muito bonito nas primeiras reuniões, mas pouco efeito prático sobre os processos.

Existem duas características nas lideranças que devem ser combinadas para que a implementação da estratégia competitiva seja efetiva. A primeira é a característica do líder de idéias, cuja capacidade de articulação e de carisma é muito alta. Tem grande poder de mobilização das pessoas, mas encontra dificuldade em executar as ações, em estabelecer os "comos". Em contrapartida, existem líderes com extrema capacidade de executar projetos, mesmo que não sejam inspirados ou tenham o melhor discurso. Sua principal habilidade é a de "pôr a mão na massa", "fazer acontecer". Estas duas características são importantes na implementação de uma estratégia, porém a predominância do estilo "pôr a mão na massa" é a mais eficaz, neste caso.

A condução das equipes

Outro fator importante da liderança combinada com as práticas de gestão de pessoas é a habilidade para compreender e conduzir as equipes.

A liderança deve analisar e conhecer as características de suas equipes para buscar resultados. Segundo muitos autores, pode-se mapear os traços predominantes de uma equipe, utilizando-se as dimensões de personalidade descritas por Carl Jung. Estas dimensões são:
  • Extroversão X Introversão;

  • Sensação X Intuição;

  • Pensamento X Emoção;

  • Análise X Percepção.

Equipes mais extrovertidas: São equipes rápidas e confiantes na execução de tarefas. Devem aprender a escutar mais sugestões internas e utilizar maior tempo para reflexão antes de implementar qualquer mudança.

Equipes mais introvertidas: São eficazes em trabalhos internos e que não exijam muita exposição. Podem aprender a estar mais atentas ao ambiente externo, a solicitar opiniões e verificar as necessidades do mercado.

Equipes mais sensitivas: São bastante ligadas ao meio em que vivem e adaptáveis à realidade objetiva. Devem estar mais abertas às inovações e às visões sistêmicas onde os processos organizacionais estão contidos.

Equipes mais intuitivas: São movidas por questões mais inconscientes com grande sensibilidade para perceber tendências a partir de dados pouco estruturados. Precisam aprender a dar maior atenção aos fatos e às implicações práticas de soluções criativas.

Equipes mais pensantes: Possuem grande discernimento das coisas, suas discussões tendem a ser exclusivamente técnicas e pontuais. Devem aprender o que impulsiona as pessoas ao alto desempenho e a prestar atenção para valores, princípios e para o lado humano da empresa.

Equipes mais emotivas: Preocupam-se em estabelecer os impactos das decisões sob o aspecto humano. Podem melhorar a visibilidade de princípios e o equilíbrio na tomada de decisões, não deixando se levar por situações individuais.

Equipes mais analíticas: Possuem grande capacidade de síntese e de chegar a conclusões. Precisam melhorar a capacidade de não tomar decisões prematuras sem olhar seus efeitos a montante.

Equipes mais perceptivas: Possuem facilidade de articulações e de promover grandes debates. Devem estar atentas para tornar mais simples e diretas as formas de enfrentamentos de desafios e para o cumprimento de metas.

Os líderes devem se empenhar para usar bem a característica predominante da equipe de trabalho e desenvolver as competências complementares da mesma. Estes cuidados podem garantir resultados duradouros e manter a saúde da equipe. Equipes saudáveis são aquelas que aprendem várias formas de compreender as informações e tomar decisões adequadas sobre as mesmas. Equipes saudáveis, se bem direcionadas, permitem construções de estratégias estáveis sem entrar em caminhos de competitividade interna.

Cuidados com as resistências

Os executivos que definem ou são escalados para implementarem estratégias competitivas devem compreender que mudanças geram resistências, principalmente quando mal direcionadas. Mais do que simplesmente mudar é preciso estabelecer para onde a empresa está caminhando. Quanto mais clara for esta resposta e difundida nos vários níveis hierárquicos, menores serão os níveis de resistências. A incerteza é um fator que leva à insegurança.

Não existe um método exato para se vencer as resistências diante de mudanças organizacionais, mas algumas condições podem reduzir o impacto destas para se alcançar os resultados almejados:

  • Honestidade ao comunicar os fatos e as idéias, apresentando a realidade do momento e seus efeitos em relação à estratégia competitiva;

  • Implementação das mudanças em etapas bem delineadas, onde os resultados possam ser avaliados e discutidos antes do avanço de novas ações;

  • Atenção às equipes de trabalho de forma a conquistar o apoio dos colaboradores;

  • Sensibilidade para a correção de rumo, ouvindo as bases da empresa e evitando que toda estratégia seja apenas implementada com ações no sentido de cima para baixo.

As resistências são reações naturais em qualquer processo de mudança. Seus efeitos podem levar a vários danos, caso a organização utilize políticas de combate através da medição de forças. A resistência, quando compreendida em seu centro de energia, é um pólo de aprendizagem, pois o seu potencial para travar ações, também, está disponível como alavanca para as transformações organizacionais. Um mecanismo presente em algumas artes marciais, onde se potencializa o golpe através da força empregada pelo oponente.

As organizações, em seus caminhos de sobrevivência, precisam criar formas singulares para se posicionar no mercado e obter vantagens competitivas. Porém, atingir os resultados desejados é função dos líderes que entendem a necessidade de tornar prática as estratégias desenhadas no papel.


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