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Autor:
José Matias Pereira
Qualificação:
Doutor em Ciência Política (UCM-Espanha) e ex-coordenador do Programa de Pós-graduação em Administração da Universidade de Brasília
E-Mail
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Data:
14/05/04
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Educação, Ciência e Tecnologia e Desenvolvimento no Brasil

O progresso da ciência é decorrente da imposição de novos paradigmas -
novas explicações e/ou procedimentos para entender o mundo - sobre verdades estabelecidas. A necessidade de buscar o novo é parte integrante e razão do dinamismo do sistema capitalista. Não é por acaso que está aumentando, de maneira preocupante, o fosso do nível econômico e social entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento. Isso pode ser constatado, por exemplo, na questão do reconhecimento de patentes no planeta. No ano de 2000, num total de 90.948 pedidos de patentes deferidos pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual (WIPO), 42% foram solicitados pelos Estados Unidos da América (EE.UU.), 13,2% pela Alemanha e 10,3% pelo Japão.

O Brasil teve atendido naquele ano, apenas 161 pedidos de patentes. Isto explica porque o nosso país ocupa o desconfortável 43º lugar no índice da Organização das Nações Unidas (ONU), que avaliou a capacidade de 72 países para transformar ciência e tecnologia em desenvolvimento econômico.

Está comprovado que, nenhum país avançado chegou ao seu atual nível de desenvolvimento econômico e social, sem o suporte da Ciência e da Tecnologia (C&T). Não existe o primeiro (desenvolvimento), sem o segundo (C&T). Conforme observa Rosenberg e Birdzell (1986), o sistema bem sucedido de crescimento do Ocidente pode ser descrito como um processo de interação entre três vetores: um que envolve as instituições firmas, mercados, Estado e qualificações-, outro que carrega as fontes de crescimento as inovações e, um terceiro, que incorpora atitudes que valorizam a diversidade de condutas a disposição a enfrentar desafios e experimentar o novo.

O Brasil encontra-se numa escala intermediária entre os países que buscam posicionar a produção de conhecimento no centro do desenvolvimento econômico e social. Os recursos aplicados em ciência, pesquisa e fomento tecnológico representam 0,89% do PIB (MCT, 2004), média semelhante à de nações como a Espanha (0,9%), mas muito distante das maiores economias, como os Estados Unidos (2,7%) e Japão (3%), ou de tigres asiáticos, como a Coréia do Sul (2,5%). Nestes países, a iniciativa privada, em especial a indústria, é a responsável por 60% dos investimentos em pesquisa e tecnologia, enquanto no Brasil e outras nações intermediárias, o setor o governo assume cerca de 65% a 70% dessas inversões.

Existem na atualidade, 800 mil cientistas fazendo pesquisa em empresas nos Estados Unidos; na Coréia do Sul, são cerca de 75 mil; no Brasil, são menos de 10 mil. Por sua vez, a Coréia registra em média 3.500 patentes por ano, e o Brasil, apenas 100. Explica-se, assim, porque nos encontramos numa posição tão desconfortável no campo da produção e agregação de tecnologia de ponta.

É válido recordar que, o conhecimento foi abordado como elemento explícito e condicionante do desenvolvimento somente nos anos 90, nas "Novas Teorias de Crescimento\", formuladas por Paul Romer e seus colaboradores (Chicago, EUA). Até então, o conhecimento era considerado variável exógena à teoria econômica. O conhecimento que apóia e impulsiona a inovação técnica é cada vez mais complexo. Para avançar, depende da aplicação e do uso cada vez mais intensivo e dedicado da ciência e da tecnologia. Assim, para continuar inovando é necessário introduzir e explorar novos produtos, processos, formas de organização, insumos e mercados e o afastamento daqueles até então dominantes.

A partir do entendimento de que, o progresso decorre da expansão dos limites de conhecimento existentes, é possível afirmar que isso somente irá ocorrer se houver a determinação de experimentar, aprender e dominar
métodos que facilitem a inovação. Esta é a razão de se ter um consenso na sociedade mundial, de que os investimentos sejam prioritariamente alocados em educação, ciência e tecnologia. Diante da constatação de que a importação de tecnologia pelos países em desenvolvimento está se inviabilizando rapidamente, o desafio que se coloca para o governo e a sociedade brasileira, especialmente para o empresariado, é entender que o conhecimento se tornou vital. Pode-se concluir, portanto, que a inserção consistente do Brasil na economia mundial exige a criação de uma cultura de pesquisas nas empresas e uma cultura empreendedora nas universidades.

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