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Astrologia e Vida Econômico-Financeira
Copyright 1999 Delphos Astrologia

    A vida econômica de uma pessoa adulta pode ser estudada com o auxílio de seus mapas astrológicos. O mapa natal dá indicações de natureza fundamental, enquanto que os mapas dinâmicos (de previsão) avaliam a situação no tempo (atual e futuro) e os mapas de astrocartografia e relocação avaliam a situação no espaço.

    Começaremos mostrando a utilização das indicações funda-mentais do mapa astrológico natal. Este mapa é uma espécie de PLANO DE VIDA, um verdadeiro projeto válido para toda uma existência terrena. Assim sendo, o importantíssimo setor da parte econômico-financeira está, evidentemente, devida-mente sinalizado.

    O mapa natal começa por dar preciosos indicativos a respeito de VOCAÇÃO e a respeito de TRABALHO E PRO-FISSÃO. Contudo, vale lembrar que nem todas as pessoas vão ganhar dinheiro através de um trabalho profissional. Algumas serão sustentadas por outros, algumas herdarão fortunas, outras, ainda, não ganharão nada e terão uma vida miserável.

    Por outro lado, nem sempre a pessoa poderá trabalhar em uma atividade que satisfaça à sua VOCAÇÃO. E nem sempre trabalhar em algo que satisfaz à sua vocação resulta em bom rendimento econômico ou em sucesso profissional.

    Gosto de ilustrar essas diferenças entre VOCAÇÃO, TRABALHO, GANHO E SUCESSO com o exemplo de um cliente meu de longos anos, um veterano sambista muito conhecido nas rodas carnavalescas. Meu cliente é um autor de sambas-enredo bem sucedido. Ganhou alguns carnavais ao longo de sua longa carreira e daí advém toda a sua fama e sucesso - em especial com suas ‘cabrochas’.

    Só que essa atividade, para a qual ele sem dúvida é extremamente vocacionado, não é o seu trabalho profissional e não lhe rendeu muitos ganhos. Na verdade nosso sambista tem um emprego em um banco público há dezenas de anos, onde exerce uma humilde posição de contínuo. Passa o expediente todo subindo e descendo os muitos andares do prédio, espalhando seu sorriso e seu bom humor contagiantes nos elevadores, corredores e salas. O salário é, corresponden-temente, muito baixo.

    Mas nosso amigo não pensou jamais em deixar seu emprego. Isso porque, enquanto circula entre centenas de pessoas todos os dias, entregando e recebendo documentos, ele aproveita para distribuir e receber as listas diárias de JOGO DO BICHO. É aí que está a sua grande fonte de renda. Mesmo nos raros momentos de repressão ao jogo, ele foi sempre respeitado e preservado, como uma verdadeira instituição nacional.

    Aí temos um exemplo de uma pessoa que tem um emprego como contínuo de banco, tem sucesso como autor de sambas de carnaval e ganha dinheiro com jogo do bicho. Um típico brasileiro.

    Já mestre Ivo Pitangui trabalha diariamente com cirurgia plástica, ganha dinheiro com cirurgia plástica e tem um grande sucesso e um enorme renome nesse mesmo campo profissional. Podemos dizer que trabalhar com a atividade de sua máxima vocação lhe dá dinheiro, prazer e sucesso.

    Pois bem, ao observarmos um mapa astrológico, podemos ver se a pessoa está mais para Pitangui ou mais para contínuo/agente de jogo/sambista. Em outras palavras, o mapa mostra com clareza qual o melhor caminho a seguir para utilizarmos nossos melhores potenciais dentro de atividades que respondem à nossa real VOCAÇÃO. E mostra também qual o melhor caminho a seguir para GANHAR DINHEIRO. Integrar essas duas facetas da vida é uma das maiores dificuldades do ser humano.

    Já a idéia de SUCESSO merece uma análise à parte. Toda e qualquer criatura deseja ser reconhecida e admirada. Algumas jogam todas as suas fichas apenas em sua aparência física e podem fazer sucesso enquanto são jovens e belas. As demais, - e mesmo aquelas, ao perderem o viço da juventude - terão que depender de outros valores para alcançarem o almejado reconhecimento e respeito. Esses valores podem ser próprios ou não. Sempre é possível ter um certo destaque por ser filho ou esposa de uma personalidade importante. Também é possível comprar um certo grau de sucesso com bastante dinheiro, próprio ou não.

    Mas, na maior parte dos casos, você depende de alcançar um certo grau de capacidade própria, de competência e experiência, para alcançar o sucesso - como sambista, enfermeira, cirurgião ou diretora. Só que o sucesso, alcançado pelas próprias forças, costuma ser algo que se atinge após muito tempo de esforço persistente. Essa persistência, o segredo maior do sucesso dos realmente vocacionados, nem sempre é observada pelos mais afoitos e superficiais.

    Por isso, num mapa astrológico, os indicativos do caminho do sucesso costumam ser um tanto diferentes dos indicativos do caminho do ganho de dinheiro e do trabalho do dia-a-dia. Na verdade eles são um somatório de diversos percursos, que se adicionam à medida que uma pessoa persevera e amadurece dentro de uma atividade na qual se sente ajustada, produtiva e contente.

    Como fazemos normalmente, vamos ilustrar este E-zine com um exemplo real, com seu respectivo mapa astrológico natal. Este é um exemplo bastante característico e serve para ilustrar como a nossa vida econômico-financeira está absolutamente condicionada por nossas componentes psico-lógicas mais ocultas. Mostra também o quanto a análise astrológica profunda pode ser importante para ajudar uma pessoa a conscientizar-se de suas barreiras inconscientes.

    A consulta
    O cliente (código AE9772) que, como cerca de 65% dos meus clientes eu nunca vi (o atendimento por telefone e por Internet já ultrapassou há muito o atendimento pessoal, uma tendência que só tende a aumentar), ligou interessado em fazer uma consulta. Havia lido uma reportagem sobre o meu trabalho de consultoria astrológica a empresas na revista da editora Globo ‘Pequenas Empresas Grandes Negócios’. Ele queria saber:

    1. Deve continuar no seu atual ramo de negócios ou mudar?
    2. Se continuar, pode comprar a parte do sócio (50%)?
    3. Se mudar, qual deve ser o novo ramo?
    4. Ou pode continuar no atual ramo e acumular um novo?
    5. Como estão as coisas agora, no geral?
    6. Como vão ficar depois? (Previsão por um ano)

    Note-se que as perguntas 1 e 3 devem ser respondidas através de análise vocacional do mapa natal. As outras, através de mapas diversos de previsão.

    Contudo, ouvindo as perguntas do cliente, deve-se procurar o móvel de sua inquietação: ele se queixa que não ganha dinheiro suficiente em nenhum dos negócios que faz. No seu histórico de vida, ele já passou por duas faculdades, nove tipos diferentes de ocupação ( 2 empregos e 7 negócios próprios) e já viveu em quatro cidades diferentes do país e uma do exterior.

    As respostas e os mapas
    A análise dos mapas natal e relocado e dos mapas de previsão nos levou a sugerir uma mudança de enfoque e de prioridades. Isso nasce da observação do mapa progredido e do mapa natal.

    No mapa progredido, que descreve grandes temas do período que está transcorrendo, percebe-se uma estrutura complexa formada desde meados do ano anterior, culminando neste ano: Sol Progredido em quadratura com Júpiter Progredido. E o Ascendente Progredido no ponto médio dessa quadratura, ou seja, em semiquadratura crescente com Júpiter e semiqua-dratura minguante com o Sol, simultaneamente.

    O Sol progrediu, ao longo da vida do cliente, passando de Escorpião para Sagitário. No mapa progredido temos Júpiter na Casa XI (anseios, ideais, projetos de vida, amigos), pressionando o Sol Progredido que está na casa II progredida.

    Essa estrutura simboliza assim uma premência inconsciente de crescimento (Júpiter) em termos de importância pessoal (Sol) e significado social (Sagitário). Essa premência surge como uma meta de vida (casa XI) a ser sentida sobre o Ego (Sol) pressionado a ganhar muito, possuir muito (casa II = posse, ganho de dinheiro, aquisição, acumulação).

    Já o Ascendente, progredindo agora em Escorpião, sob semiquadratura crescente (45 graus, em afastamento) de Júpiter mostra que existe, já há vários meses, uma forte pressão psicológica no sentido expansivo e integrador, impelindo o indivíduo a agir impulsivamente para se tornar mais reconhecido e com mais poder e controle sobre a situação (Escorpião).

    Ao mesmo tempo, o Descendente Progredido (estágio atual das relações de sociedade e casamento) se vê pressionado pelo mesmo Júpiter, através de um ângulo de sesquiquadratura minguante (135 graus, em aproximação); esse é um claro indicador de crise associativa, quando a premência de crescer atrapalha o convívio com o sócio, sentido como um empecilho ao crescimento.

    Por outro lado, o Ascendente Progredido em semiquadratura minguante (45 graus, em aproximação) com o Sol Progredido mostra que vem deste Ego em evolução (Sol Progr.) um excedente de energia psicológica de individualização, dando ímpetos de aparecer mais, de ser visto com mais consideração,


    Mapa astrológico natal de AE9772
    de fazer mais sucesso, de ter mais poder, mais prazer, mais sexo (Sol e Escorpião). A semiquadratura minguante implica uma crise de objetivos e ideais.

    Essa estrutura complexa, envolvendo o Sol, o Ascendente e Júpiter no mapa de progressão secundária, é apenas uma das muitas que se formam durante um período de dois ou mais anos de vida. Nesta época da consulta, só os mapas progredidos (direto e pré-natal) mostravam dezesseis dessas estruturas em ação. Apenas estamos dando destaque a esta por ser a mais diretamente envolvida com o tema das perguntas formuladas por AE. Isso sem falar nas mais de cinco dezenas advindas dos trânsitos, lunações e eclipses e luas progredidas do mesmo período.

    Por aí se pode ver como é inconsistente o velho costume que tantos astrólogos e seus clientes têm de fazer uma "leitura" anual de uma ou duas horas sobre as ‘previsões’ do cliente para o ano seguinte. Chega a ser cômico, não fosse na verdade um trágico desperdício de preciosas informações a serem desenvolvidas com profundidade e responsabilidade, além de um claro desserviço ao cliente.

    Por limitações de poder aquisitivo dos clientes, que mal lhes permite pagar uma única consulta com o profissional, a maior parte dos astrólogos faz esse jogo que lhes é conveniente, pois não afugenta a maior parte de sua clientela potencial. Assim se limitam a faturar essa importância dessa única consulta por ano, como se isso pudesse ser de algum valor prático para o cliente. Acaba sendo de valor prático apenas para o astrólogo, que garante e embolsa o seu. E parte em busca de mais e mais clientes, para abordar dessa forma superficial e inconsistente, pois este tipo de trabalho depende de quantidade e não de qualidade.

    Mas a ética profissional obriga o profissional de Astrologia a proceder de forma diferente. Como o bom médico ou o bom dentista ele acabará ficando à disposição de um número restrito de clientes habituais, a cujas famílias e negócios prestará serviços regulares ao longo do ano, à medida em que sejam solicitados.

    Os clientes que se acostumam com esta forma correta de utilizar a Astrologia como ferramental de apoio à sua vida e seus negócios são os que tiram o máximo proveito dela.

    A Síndrome da Perda do Herói
    Voltando ao caso de AE9772, o estudo da estrutura mostrada no seu mapa anual de Progressão direta, que acabamos de expor na página anterior, nos levou a pesquisar esse tema no mapa natal. Pois é aí que se encontram as indicações das causas primárias de todos os acontecimentos. Os mapas anuais indicam o que pode vir à tona e como isso pode vir à tona. Mas as causas fundamentais e a importância relativa dessas questões só é mostrada pela análise meticulosa do mapa natal. Então havia que procurar as indicações de como AE poderia reagir aos estímulos expansivos que os mapas anuais estavam mostrando.

    Procurando Júpiter no mapa natal (já que é de Júpiter do mapa anual que provêm a indicações de problemas atuais) o encontramos no signo de Virgem, na Primeira Casa astrológi-ca, numa íntima conjunção com o asteróide Vesta. Essa conjunção indica um potencial para um forte dogmatismo ideológico com o trabalho (Virgem), um verdadeiro furor workaholic do tipo ‘quanto mais (Júpiter) eu trabalho (Virgem), mais digno e puro (Vesta) eu sou’. Como qualquer planeta da Casa I, Júpiter ali indica um fortíssimo processo de formação de complexo durante a primeira infância.

    No mapa natal Júpiter está em semiquadratura crescente com o Sol. Esse tipo de ângulo indica uma crise de substanciação, uma imperiosa necessidade de manifestar o complexo expansivo (Júpiter) através de formas concretas, aquisitivas e acumulativas. Como se isso não fosse suficientemente forte, vamos encontrar o próprio Sol dentro da casa II, justamente aquela da posse e aquisição.

    Ora, como qualquer pessoa que tem o Sol na casa 2 natal, também AE precisa, para sentir-se aceito, respeitado, para resgatar sua auto-estima e amor-próprio (tudo isso é simbolizado pelo Sol), triunfar na experiência de posse. Precisa mostrar ao mundo que é capaz de ganhar, adquirir, possuir e acumular. O signo onde está o Sol nos indica que tipo de sentido de posse é esse. No caso de AE é o signo de Escorpião, assinalando uma marcante fixação na necessidade compulsiva de garantir segurança e poder, controle das situações, domínio das pessoas e estruturas sociais.

    Pode-se deduzir então que, pressionado inconscientemente a produzir muito, a mostrar-se extremamente produtivo e eficiente (Júpiter/Vesta em Virgem na casa 1), AE escoa essa premência através da necessidade de mostrar-se forte e heróico (Sol) através do sucesso (Sol) econômico-financeiro (casa 2) e da ostentação (Sol) de sua capacidade de possuir (casa 2). Fazendo isso, AE pode se sentir seguro, poderoso, no controle da situação e das pessoas (Escorpião).
    Contudo, se essa experiência de posse não for bem sucedida, o que acontece dentro da mente de AE? Produz-se,

    evidentemente, um enorme insatisfação e uma grande ansiedade difusa domina e desfocaliza sua vida. Ele começa a ficar impaciente, agitado, desconfortável, precisando com enorme urgência ganhar mais dinheiro, mais dinheiro...

    Pareceu-me evidente que este era, basicamente, o grande problema de AE; desconfiei, desde a primeira visão dessa estrutura no mapa natal, que por aí deveria conduzir a necessária anamnese quando viéssemos a fazer a primeira sessão de trabalho sobre o mapa natal. Ainda mais que a vinculação do complexo jupiteriano com a mãe e a infância é tão evidente nesse mapa.

    Pondo a mãe no meio
    Essa importantíssima senhora é mostrada de duas formas no mapa natal, como qualquer mãe o é, aliás. A primeira indicação é a da mãe arquetípica, a figura genérica inconscien-te da Grande Mãe, arquétipo esse indicado pela Lua natal. A segunda indicação é a da mãe física, o ser humano de carne e osso, a presença real ostensiva - o que é mostrado por tudo que estiver ligado com a casa astrológica número 4 do mapa natal. No caso de AE temos a Lua em Touro (substanciação, posse, segurança) na casa 9 (ideologia, filosofia de vida, integração social, lei). A segurança está na posse, possuir é meta de vida, estabilidade pela posse é a lei. Potencialmente é a mãe quem forma este tipo de complexo durante os primeiros dois anos e meio de vida. Tal é o poder do simbolismo lunar. A Lua simboliza o Ágape, uma forma de amor básica e instintiva, tão bem mostrada no amor materno, cuja função é dar segurança emocional.

    Mas a mãe de carne e osso é mostrada por Vênus e Sagitário, conseqüentemente por Júpiter também. Sagitário é o signo no início da casa 4 e Júpiter é o regente de Sagitário, daí a ligação. Vênus é o planeta à entrada da casa IV, uma posição de fortíssima energia simbólica à entrada dessa casa angular. No gráfico parece que Vênus está na parte final da casa 3 e não na casa 4. Fisicamente é verdade. Mas, em termos de realidade interpretativa, toda essa energia afetiva está mesmo é na casa IV. Como aliás, o próprio caso de AE vai, mais uma vez, confirmar.
    Vênus num mapa astrológico indica um outro arquétipo: a Amada. Ela é a loura Afrodite, a deusa grega do amor e da beleza, cujo filho menino Eros (Cupido em latim), flechando o coração da pessoas com suas invisíveis setas de prata, as fazia apaixonarem-se perdidamente. Vênus indica a busca pelo outro, a premência pela associação, pela complemen-tação, pela cumplicidade, pelo compartilhar. Vênus simboliza outra forma de amor, justamente denominada Eros, tão bem mostrada pelos casais apaixonados. O lugar do mapa onde encontramos Vênus é o local do encontro potencial com a Amada, com os parceiros, com os associados.

    Para AE a Amada, a parceira, está na casa 4 - a mãe! A associação de Vênus com essa casa mostra o Eros potencialmente direcionado para a figura da mãe. Ela é sentida como o objeto do desejo, é vista como a encarnação da beleza, como aquela a quem se quer agradar, com quem se busca a harmonia e a associação. Potencialmente, num mapa de homem, ao vermos Vênus associada à casa 4, temos a obrigação profissional de investigar o Complexo de Édipo. Logo, vamos ter que procurar o pai no mapa natal.

    O pai e a perda do herói
    O pai tem também dupla indicação no mapa natal: um pai arquetípico, genérico, inconsciente, de indicação astrológica também dual - Sol e Saturno; e um pai físico, real, de carne e osso, indicado por tudo que estiver associado à casa astrológica número 10.

    No mapa de AE o Sol ocupa, como já vimos, a Segunda Casa das posses e aquisições. Ali está sob semiquadratura crescente de Júpiter, o que indica como este homem sente a propensão a buscar, compulsivamente, caminhos de compensação (Júpiter) a qualquer ferida do Ego (Sol) através do sentido de aquisição e posse. E existe alguma indicação de Ego ferido?

    Basta observar que o Sol está sob quadratura crescente de Plutão (indicador potencial de poder e regeneração - as estranhas e geralmente dolorosas experiências de morte e renascimento = perdas). Esta é uma clássica indicação de perda do herói, de morte simbólica (às vezes real, morte física mesmo) de uma ou mais figuras heróicas (Sol), sobre as quais se projeta, na infância, o sentido de orgulho e amor-próprio.

    Para AE esta quadratura sinaliza a possível perda do referencial heróico colocado como expectativa na figura do pai. De alguma forma, podemos inferir, o pai foi "abatido em vôo" durante a infância de AE. Como terá acontecido?

    A anamnese
    Esta palavra descreve o processo de diálogo através do qual o médico ou terapeuta conduz seu paciente numa descrição pormenorizada de eventos e experiências passados. O astrólogo consciencioso tem a mesma obrigação de realizar uma longa e minuciosa anamnese com seu cliente. Afinal, o que o mapa astrológico lhe proporciona é apenas a confluência de uma linguagem rigorosamente matemática (equações astronômicas, trigonometria esférica, geometria analítica) com uma linguagem simbólica - em que símbolos de planetas, asteróides e pontos matemáticos passam a representar a linguagem arquetípica do inconsciente do ser humano.

    Em outras palavras: eu podia inferir a perda de herói de AE como uma certeza, mas jamais poderia saber COMO isso aconteceu de verdade. Dava para ver que a mãe era, possivelmente, o instrumento dessa perda, uma vez que Júpiter, impondo seu jugo ao Sol, é o regente da Casa 4 no mapa natal, casa que indica sua mãe. O regente da 4 na 1 indica normalmente uma mãe de influência maximizada na infância. E a casa 1 tem a ver, também, com as ambições e anseio de status da mãe.

    A anamnese confirmou o Édipo. O cliente mata o pai dentro de si, estimulado pela mãe Afrodite (Vênus na 4). Examinan-do Júpiter na I nós o vemos ladeado por dois asteróides, Vesta e Quíron. De Vesta já falamos. Quíron expressa simbolicamente o sábio filósofo ou o mártir sofredor. Em sua expressão negativa, tem, como Vesta, um acento radical de dogmatismo inarredável.

    Na vida de AE funcionou como uma sombra: uma tônica de dor e sofrimento envolve essa mãe todo-poderosa e moldadora. O asteróide Quíron aqui se manifesta menos como o sábio que instrui e muito mais como a visão distorcida de uma mãe bondosa que sofre injustamente um calvário sem fim. Essa dominante é reforçada pela Lua (mãe arquetípica) em aspecto com Netuno (sacrifício): a mãe mártir, que sofre a perda (sesquiquadratura minguante) de posição social, causada pela pouca competência do marido para ganhar dinheiro.

    O asteróide Ceres, indicador do princípio da ordem e da análise crítica, do trabalho e do método está em uma aflitiva associação (conjunção) com seu oposto polar, Netuno (síntese, resultado final, desordem). Revela essa conjunção, num campo de casa I, uma angústia interior, uma sensação difusa de parcial percepção, pelo indivíduo, do seu próprio processo caótico de operação funcional perante o mundo. E o receio que o mundo perceba isso e o trate como um fracassado, que ele fique igualzinho ao pai.

    A aí está enfim a chave para todo o nosso trabalho. É óbvio que o cliente vive, conforme já vimos pela análise do mapa progredido, um momento de grande exacerbação do fator Júpiter (importância, expansão), algo que lhe é particularmente morbidógeno. Pressionado, no inconsciente, pela revoada de fatores de compensação, pela imagem da mãe lamentosa, o cliente busca redimir o pai, salvar o herói, tornar-se o novo herói.

    Busca fazê-lo, mais uma vez na vida, através de um maior ganho de dinheiro: partir para um novo e mais lucrativo negócio ou comprar a parte do sócio no negócio atual. Está preso em uma armadilha infernal e não o percebe; raptado às profundezas do Hades (Plutão/Sol), o Ego luta para se libertar comprando sua dignidade ultrajada: precisa ganhar mais dinheiro, mais dinheiro, não repartir os eventuais lucros com um sócio. Seja mudando sagitarianamente para outro Shangri-lá, seja abrindo uma nova firma em Marte ou em Alfa Centauro.

    Na busca de mais e mais lucros, de ganhar muito dinheiro, nosso cliente simplesmente não paga o pedágio de persistir num negócio o tempo suficiente para implementá-lo à realidade concreta. Mata o negócio antes disso. É sua maldição inconsciente. Condena-se inconscientemente a fracassar antes de se permitir a vitória; obriga-se, sem saber, a ficar preso a um modelo de vida que quer mas não sabe que quer. Obriga-se ao fracasso, mantém-se como um fracassado.

    E, assim, justifica o pai, cumpre o vaticínio da mãe, se auto-pune. Justifica o pai, o ser simples e bom, distante e amigo ao mesmo tempo, sem ambições, simbolizado por Urano e por Gêmeos, na casa 10. Um homem humilde, de profissão técnica humilde, filho de pai alcoólatra - humilhado pela esposa que lhe reprova incessantemente o insucesso, pela cunhada que coloca o dinheiro em casa.

    A mãe lamenta e chora a posição humilhante, lava roupa pra fora, sempre reclamando sua injusta sina. Somatiza longos processos doentios e depressivos, durante os quais hostiliza ainda mais o vilão fracassado, o culpado por sua pobreza. Volta-se compulsivamente para o filho, apavora-se com a indolência suposta nele, apavora-o com a terrível possibi-lidade de se tornar igualzinho ao pai. Nos momentos de calma adverte-o: "Você não pode ser como seu pai, que nunca nos deu nada na vida". Nos momentos de raiva, vocifera: "Você é igual ao seu pai, nunca vai ter nada na vida"!

    Pois bem, o menino está até hoje se esforçando para cumprir essa profecia; até nisso lembra Édipo, também condenado desde o nascer por uma profecia.

    A verdade é que, aprisionado nessa teia invisível, nosso herói fracassado busca com insistência redimir o pai fracassado dentro de si. Por que se identifica com ele, é óbvio. Por que sente culpa de sua própria inclemência com o pai durante a infância e juventude, como cúmplice da mãe. Por que sabe agora, como adulto, como é duro ganhar a vida e como é difícil satisfazer as expectativas dos que o escalam para ser o herói de plantão.

    AE sente culpa por não ter gostado do pai (quincúncio minguante entre Vênus e Saturno). O pior é que o pai já morreu, há 18 anos, morreu mirrado como um passarinho, feio, pobre, sem respeito algum. Irreparável. Se ao menos ele ainda vivesse... Isso tornaria um pouco mais fácil o absolutamente indispensável processo de reconciliação com o pai. Agora AE vai ter que buscar a reconciliação somente dentro de si. E, enquanto não lograr, internamente, essa reconciliação, esse perdão, essa redenção... bem, não haverá paz possível jamais.

    Não haverá ramo de negócio possível. Não haverá análise vocacional que funcione. Não haverá astrólogo que funcione. E não haverá Astrologia que funcione. Portanto é a hora de perguntar? Adianta responder simplesmente às perguntas que o cliente formulou?

    Interpretar tendências de previsão e responder sim ao cliente? Vá em frente, compre a parte do seu sócio, esquematize a dívida com ele; sim, monte um negócio paralelo no campo de comunicações visuais, você vai aumentar ainda mais seus ganhos. E daí?

    Que vai adiantar tudo isso? Acaso vai lhe dar mais satisfação? De nada adianta estimulá-lo a empreender um novo negócio que abandonará dentro de dois ou três anos, porque "não dá dinheiro suficiente". E nunca dará! Porque não haverá esse suficiente jamais, enquanto o cliente não se tratar, não se livrar desse pendurar-se compulsivo numa imagem inconsciente de fracasso necessário, enquanto busca a redenção pelo sucesso na posse.

    As respostas
    Enfim as respostas para AE. Quais foram?
    Na verdade, foi uma resposta só: não devo responder às suas perguntas! Para pasmo do cliente, é claro. Trato então de lhe explicar que o melhor que posso fazer é não satisfazer seu pedido de serviços in totum. Que se o fizer estarei agindo aquém da ética profissional, como um dentista que aceita extrair um dente do seu paciente só porque ele está pedindo isso, quando seu conhecimento técnico lhe mostra que o importante é restaurar o dente e mostrar ao paciente como proceder para não ter mais o mesmo tipo de problema. Acho que um dentista consciencioso se recusaria terminantemente a atender ao pedido errôneo de seu paciente, mesmo que isso implicasse na perda certa do cliente.

    AE felizmente entendeu a procedência do lhe falei. Lembrou-se que, cada vez que tinha um triunfo expressivo, que ganhava um dinheiro maior, mandava presentes caros para sua mãe, enfrentando reações iradas da esposa. E que, quando o contrário acontecia, proibia mulher e filhos de falar qualquer coisa à sogra e avó - para "não deixá-la preocupada sem necessidade", era sua mentira consciente. Não foi muito difícil reconstituirmos, na série de sessões que se seguiram, usando exclusivamente o mapa natal, como foi implantado o renitente complexo em seu inconsciente. Daí para a frente o caminho estava aberto para a recuperação.

    Como faço habitualmente em casos assim, recomendei que AE desse continuidade ao trabalho em sua cidade, procurando uma terapeuta de linha Junguiana, já que o próprio mapa natal nos permite inferir qual a melhor corrente de análise e terapia psicológica para uma determinada pessoa; e com qual dos sexos de terapeuta poderá ter mais resultado num determinado momento.

    Felizmente AE mora em uma capital estadual e conseguiu encontrar uma boa profissional. Com ela AE tem trabalhado seu resistente complexo e os resultados vêm sendo muito satisfatórios. Happy end? Ainda é cedo para comemorar. Esse trabalho não se faz da noite para o dia mas, com o auxílio da Astrologia, certamente todo mundo ganhou muito tempo. O principal aconteceu: houve a conscientização inicial e criou-se a motivação para buscar a transformação. E, nessa hora, você pode confiar num plutoniano como AE: de tanto morrer um dia ele aprende a renascer pra valer, sem precisar de novas mortes simbólicas, de novas perdas; de tanto morrer, um dia ele aprende, enfim,. a viver.

    AE terá que viver como um feliz e mais humilde virginiano (sua proposta de Ascendente), sem se deixar levar por desmedidas ambições, sem precisar ser grande e rico para se sentir aceito e amado. Sorrindo intimamente ao observar que até agora ainda não ficou milionário e que isso não o faz sofrer mais.

    [Este artigo foi primeiramente publicado, com sua autorização, no livro "Interpretação do Horóscopo - Técnicas e Estilos", da Editora Hipocampo (RJ), onde está desenvolvido mais a fundo, com pleno jargão profissional e incluindo os mapas de progressão. De lá para cá AE realmente conseguiu resolver seu problema. Continua no mesmo ramo, ele e seu sócio admitiram mais um sócio e ultimamente, bem dentro dos cânones da temível globalização, acabaram fundindo sua firma com sua maior concorrente. E a vida continua.]

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