Empresários do Futuro

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EUA Incentivam Vocações

Desde a pré-escola, norte-americanos recebem educação formal sobre economia e finanças e são encaminhados para as atividades produtivas.

Os entrepreneurs norte-americanos ganham dinheiro, geram riqueza e criam empregos estabelecendo empresas sólidas não só por contarem com condições econômicas favoráveis mas também porque são business literate, ou seja, educados para a vida financeira. Ao contrário do que acontece no Brasil, o espírito empreendedor e aquisitivo é valorizado e incentivado, desde a infância, no cotidiano da família americana. As crianças ganham a sua mesada prestando pequenos serviços (lavar o carro, tirar a neve da calçada etc.). Os jovens conseguem empregos de verão para financiar suas viagens. Assim, além de convívio com o processo produtivo, de familiaridade com o dia-a-dia de operações financeiras e atividades econômicas diversas, os norte-americanos desenvolvem uma atitude positiva, não preconceituosa, em relação a "negar o ócio" ou fazer negócio.

Material de apoio às crianças

A educação formal sobre economia e finanças, mesmo assim, começa com a admissão à escola: é parte do currículo até dos jardins de infância associados à Ewing Marion Kauffman Foundation, de Kansas City, que patrocina aulas de economia e administração empresarial para crianças e projetos de "negócios caseiros", criados por mães e filhos pequenos. Existem, literalmente, milhares de programas e projetos como esses sendo desenvolvidos em todos os estados norte-americanos.

Desde a década de 1980, a imensa maioria deles obriga as escolas secundárias a incluir no currículo pelo menos um curso sobre atividade econômica e administração de empresas. Em 1983, a totalidade dos estados também passou a reconhecer os créditos de cursos de "administração de empresas". Hoje, existem cerca de setecentos cursos do gênero, segundo estimativa do Center on Education Training for Employment.

Os empresários-mirins também dispõem de considerável material de apoio para a "alfabetização econômica na infância", fora da sala de aula. O Federal Reserve (equivalente ao Banco Central no Brasil) publica histórias em quadrinhos, vídeos e programas de multimídia que introduzem e familiarizam as crianças com o mundo da economia e das finanças. A série "The Story of..." resume a história do dinheiro, dos bancos, dos cheques e do pagamento eletrônico, da inflação, do sistema de crédito ao consumidor, do funcionamento do câmbio e do comércio internacional.

Os professores Bonnie e Noel Drew publicaram "Fast Cash for Kids", um livro de idéias para crianças fazerem dinheiro rápido, incluindo planos administrativos e instruções para pais e mestres apoiarem e viabilizarem os negócios dos pequenos. Na Flórida, a organização Business Kids produz material de orientação para empresários adolescentes, com uma série de kits sobre planejamento, criação e sustentação de empreendimentos lucrativos para jovens de 10 a 18 anos.

O Departamento de Agricultura do governo americano foi o primeiro a reconhecer que, na livre iniciativa, idade não é documento: oferece anualmente uma linha de crédito de até US$ 10 mil para empresários de 10 a 21 anos. O dinheiro pode ser aplicado em qualquer tipo de iniciativa vinculada à agricultura, mas não necessariamente agrícola, como uma banca de verduras na beira da estrada, ou processamento de documentação para pequenos fazendeiros. Os beneficiários precisam contar com apoio de alguma organização dedicada à assistência da juventude e obter autorização dos pais para montar o negócio.

Tal incentivo da sociedade vem rendendo frutos, com o surgimento de centenas de microempresários-mirins em todas as camadas da sociedade. O estímulo à iniciativa empresarial do adolescente também vem revelando-se uma forma de integrar à sociedade jovens à beira da delinqüência, como as 85 empresas formadas em bairros pobres de Nova York e Newark por estudantes de Steve Mariotti.

Mariotti, um alto executivo da Ford aposentado, ajudou seus alunos a criar carrocinhas de cachorro-quente, venda de lingerie por telefone e de porta em porta, serviços de limpeza doméstica, jardinagem e de eletrotécnica. Para ele, mais do que ganhar dinheiro, o importante nesses negócios é a nova atitude dos proprietários, que desenvolvem mentalidade independente e empreendedora.

Essa moçada economicamente produtiva substituirá a atual geração "X" entre os indicadores de comportamento da juventude. Já tem até um novo nome: geração "E", de entrepreneur e empreendedor. A geração "E" conta até com seus primeiros líderes empresariais de destaque, como Jay Liebowitz, um californiano de 14 anos, que é diretor-presidente da Utilisoft. Jay começou a ganhar dinheiro com dez anos de idade, quando criou um software - BatchEdit - que ensina crianças a operar computadores que funcionam com o sistema operacional DOS. O pai ajudou-o a patentear o produto e publicar classificados nas revistas especializadas. Assim, o BatchEdit tornou-se grande sucesso de vendas. Em 1994, Jay lançou seu segundo produto de grande aceitação, o WinDOS, também criado para ajudar crianças a atuar como programadores de computador.

Atualmente, existem cerca de quinhentas business schools nos Estados Unidos, lançando, anualmente, no mercado de trabalho, cerca de 80 mil profissionais com mestrado em economia, engenharia financeira e administração de empresas, de acordo com dados do National Center for Education Statistics. Tradicionalmente, desde o final do século XIX, os estudantes de Harvard, Wharton, Yale ou Sloan, entre as muitas business schools americanas de renome internacional, recebem formação acadêmica para atuar, principalmente, como administradores e dirigentes de grandes corporações e empresas já estabelecidas ou para se integrar ao mercado financeiro. No ano passado, em Wall Street, cerca de 90% dos graduados nas melhores faculdades de economia e administração do país conseguiram empregos nos primeiros três meses após sair da escola.

Mas essa educação tradicional começou a mudar na década de 80, em razão do downsizing das grandes companhias e da demanda cada vez menor de executivos e gerentes intermediários. As business schools passaram a ampliar os cursos de Small Business ou Entrepreneurship. Segundo pesquisa nacional, realizada em 1995 por U.S. News, as faculdades americanas com os melhores programas para formação de novos empresários são (por ordem de preferência de alunos e professores): Babson College, de Massachusett, Wharton School of Business (University of Pensylvania), Harvard University, Stanford University e University of Southern California.

Nesses programas de Entrepreneurship, além da formação técnica em administração, os futuros empresários são educados para desenvolver um conjunto de características pessoais imprescindíveis para vencer no mundo dos negócios. Brian O'Reilly, editor de Management da revista Fortune, diz que os principais fatores de personalidade valorizados pelas business schools são os seguintes: ser visionário; ser multifacetado, com talentos múltiplos; saber liderar e trabalhar em equipe; ser ético; pensar "grande"; ser global; ser "alfabetizado" em Informática; sentir-se à vontade com novas tecnologias; ser esperto; ser responsável; e praticar um esporte, hobby ou atividade em que consiga atingir o nível de excelência.

Apesar do prestígio e do rigor científico desses cursos universitários, eles são muito criticados pelo seu caráter essencialmente teórico e ainda não são o principal berço ou centro incubador de novas empresas ou de empresários do futuro. O perfil do micro e pequeno empresários dos Estados Unidos não é exceção à regra: como acontece no mundo inteiro, trata-se do clássico self made man.

A grande maioria dos self made men é constituída de profissionais competentes que já se estabeleceram ou dominaram algum nicho de mercado antes de se lançarem como operadores autônomos. Trabalham duro e vão construindo suas empresas a partir da experiência adquirida no ramo, de seu tino para os negócios, da capacidade de identificar ou criar oportunidades etc.

Freqüentemente, entretanto, o principiante é apenas uma pessoa com pequeno capital inicial e uma boa idéia na cabeça, que cria a sua empresa depois de realizar uma pesquisa de mercado e ler alguns livros técnicos de know-how do tipo "Como Formar a sua Própria Empresa". Na microempresa e nos negócios caseiros, muitos entrepreneurs lançaram-se no mundo dos negócios depois de freqüentar apenas um seminário ou cursinho de fim de semana do tipo "Como Criar seu Negócio Artesanal" ou "Como Montar uma Empresa de Venda pelo Correio", entre os muitos oferecidos regularmente por clubes de ensino, como The Learning Annex ou escolas para adultos.

Sem criar preconceitos contra o mundo dos negócios, os Estados Unidos conseguem envolver as crianças numa saudável relação com o trabalho, formando, assim, cidadãos sintonizados com o dinamismo da maior economia do mundo. É uma lição para países como o Brasil, onde lucro ainda é considerado pecado e empresário virou palavrão.

Brincando de mercado na sala de aula

"Mini-sociedade", programa experimental adotado em diversas escolas norte-americanas do primeiro grau, é considerado um dos modelos mais simples e eficientes de jogo pedagógico para educação prática sobre atividade econômica elementar no "mundo real". Desenvolvido em 1973 pela Escola de Educação da Universidade da Califórnia, Mini-Society ensina administração de empresa comercial em todos os seus detalhes, por intermédio da criação de um "mercado" na sala de aula: durante 45 minutos, duas ou três vezes por semana, durante o ano letivo, a classe transforma-se em uma cidade imaginária, com comerciantes, firmas de prestação de serviço, credores, cobradores, atacado e varejo. Os vendedores oferecem lápis, material escolar, balas, figurinhas, patins, brinquedos, revistas em quadrinhos e seja lá o que tiver aceitação entre os seus colegas. Eles registram empresas, pagam aluguel pelo "ponto" onde expõem as mercadorias, recolhem impostos, contratam empregados, inventariam estoques e, como lição de casa, preparam um minilivro-caixa com a contabilidade da empresa. Os mais espertos até ganham dinheiro para aprender, por conta própria, a operar um estabelecimento comercial "em tempo real", competindo pela clientela, criando ofertas e promoções especiais, lançando novos produtos e fazendo publicidade. Nessa Mini-Society, o papel do professor é apenas de consultor especial, ajudando os alunos a identificarem custo e benefício de suas decisões. Resultado: esses estudantes vão para o segundo grau com nível de reconhecimento de linguagem e conceitos econômicos equivalente ao de muitos alunos do primeiro ano das faculdades de Economia.

Fontes de apoio ao empresário-mirim

Existem, nos Estados Unidos, mais de cem programas de apoio ao empresário-mirim, criados por governos estaduais, prefeituras, escolas e fundações. Selecionamos alguns entre os mais citados nas publicações especializadas.

  • CONCURSOS E BOLSAS
    An Income of her Own ("Uma fonte de renda só dela") é um concurso anual para projetos de empreendimentos criados por meninas de 13 a 19 anos. Os projetos selecionados recebem financiamento para implementar o negócio. P.O. Box 987, Santa Barbara, CA 93102. - Outstanding High School Entrepreneur Contest ("Concurso para estudantes colegiais empreendedores de destaque") investe anualmente US$ 250 mil para financiar iniciativas empresariais e educação superior no College of Business da Johnson & Wales University. 8 Abbott Park Place, Providence, RI 02903. - Young Entrepreneur of the Year escolhe o jovem empresário do ano entre os alunos da escola técnica National Foundation for Teaching Entrepreneurship (NFTE), financiando seu primeiro negócio e patrocinando estudo superior no Babson College. NFTE Partnership, Babson College, Babson Park, MA 02157. - Youth Entrepreneur Camp, programa prático intensivo de uma semana sobre administração de empresas, para estudantes secundários (durante as férias), patrocinado pelo North Idaho College Small Business Development Center durante as férias. 525 West Clearwater Loop, Post Falls, ID 83854-9400.

  • PARA CRIANÇAS
    Camp Lemonade Stand ensina crianças de 7 a 10 anos de idade como criar e administrar uma microempresa a partir do clássico modelo da banquinha de limonada e refrigerante na calçada. O programa é administrado pelo Loyola College, Professional Development. 4501 North Charles Street, Baltimore, MD 21210-2699. - Keeper Holiday Gift Shop é um programa desenvolvido em Rhode Island pela Cooperative Educational Service Agency para ajudar estudantes do primeiro grau a ganhar dinheiro nas semanas que antecedem o Natal, criando pequenas empresas com catálogo de presentes ou auxiliando adultos nas compras. P.O. Box 2568,2300 State Road 44, Oshkosh, WI 54903-2568.

  • PARA ADOLESCENTES
    Business Professionals of America é uma organização que atua junto às escolas secundárias, oferecendo apoio logístico e incentivos para aumentar o número de jovens que optam por uma carreira no mundo dos negócios. 5454 Cleveland Ave., Columbus, OH 43231. - Overcoming Obstacles Center for Entrepreneurship, da Comunity for Education Foundation (CEF), da Califórnia, programa que cria um pequeno business center nas escolas secundárias, oferecendo apoio e financiamento para iniciativas empresariais dos estudantes. CEF, 208 West Eighth Street, 602, Los Angeles, CA 90014. - The Meyerhoff Business Alliance seleciona estudantes pós-segundo grau para trabalharem durante nove meses como aprendizes na administração de pequenas empresas. 2105 Central Ave, N.E., Minneapolis, MN 55418.

  • OUTROS ENDEREÇOS ÚTEIS
    • The Entrepreneurial Development Institute
      2025 I Street, N.W., 905, Washington, DC 20006
    • National Foundation for Teaching Entrepreneurship
      64 Fulton Street, 700, New York, NY 10038
    • Institute for Youth Entrepreneurship
      310 Lenox Ave., New York, NY 10027
    • Young Entrepreneurs Organization
      1010 N. Glebe Road, 625, Arlington, VA 22201
    • Education Center & Enterprise Center
      313 Market Street, Camden, NJ 08102
    • Business Kids
      1 Alhambra Plaza #1400, Coral Gables, FL 33134
    • Ewing Marion Kauffman Foundation
      4900 Oak, Kansas City, MO 64112-2776
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Publicado na Revista Sala do Empresário - Edição nº 10
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