Na Ciranda da Economia
Fazer previsões sobre as perspectivas do mercado, especialmente no que se refere às pequenas e médias empresas, não é uma tarefa fácil nem para renomados representantes do pensamento econômico brasileiro que já ocuparam posições de destaque no cenário político nacional e internacional. Vale lembrar que esse segmento empresarial, responsável por 60% da oferta de empregos, adquire importância crucial num momento em que a questão do desemprego ganha contornos alarmantes. Segundo dados do Dieese, até o final do ano teremos um contingente de 1,8 milhão de pessoas sem ocupação profissional. Mesmo assim, as atenções ainda parecem estar mais voltadas à situação das grandes corporações, uma vez que as projeções feitas pelos "arquitetos da economia", apesar de indicarem a preocupação em criar mecanismos de estímulo ao desenvolvimento do negócio de menor porte, não revelam a objetividade necessária para transformá-los em realidade imediata. Mas em um aspecto todos concordam e enfatizam: a urgência da reforma tributária como o grande impasse para a retomada do crescimento. Foi o que mostrou o seminário promovido pelo Grupo IOB, que discutiu os reflexos do ajuste fiscal e da desvalorização cambial. O evento ocorreu no dia 9 de abril, nas instalações do Hotel Crowne Plaza, em São Paulo. Em depoimentos exclusivos, alguns dos palestrantes refletiram sobre o futuro das pequenas empresas no Brasil, que têm a abertura formal bastante facilitada, mas sofrem com o descomprometimento em relação à sua sobrevivência.
ANTONIO KANDIR
"Os pequenos e médios empresários dependem, hoje, de vários fatores para o seu desenvolvimento. Basicamente crédito, sistema tributário e crescimento econômico. Essas empresas precisam, antes de mais nada, de uma situação de mercado melhor, e isso se encontra bastante relacionado à tributação. Como o Congresso atual está interessado em avançar na reforma tributária e dar um tratamento específico a esse segmento empresarial, teremos não só crescimento econômico como também a melhora do faturamento interno. As emendas constitucionais que estão sendo discutidas procuram sempre dar um tratamento diferenciado, mas é muito importante romper com um dos problemas fundamentais do pequeno negócio, que é a questão do crédito. Para isso, o governo vem trabalhando por intermédio de instituições como o BNDES, com o objetivo de criar fundos que possam garantir o risco nas operações de financiamento. O pequeno empresário tem a vantagem da agilidade, permitindo que ele aproveite as oportunidades com mais rapidez do que a grande empresa. À medida que as mudanças necessárias forem introduzidas, ele será capaz de sair na frente."
MAILSON DA NÓBREGA
"O futuro do pequeno negócio está muito ligado à capacidade de recuperação do País, sobretudo à redução da taxa de juros. Se o Brasil não conseguir resolver a questão fiscal e, com isso, não criar um clima favorável a essa queda, vai ficar difícil para todo mundo. Dependendo do setor de atuação, do tipo de atividade e da necessidade de crédito, dificilmente a pequena empresa vai sobreviver. O SIMPLES é realmente uma forma eficiente de arrecadação de impostos e, ao mesmo tempo, de atender às peculiaridades da pequena empresa, que não tem a capacidade de acompanhar as mudanças da legislação tributária, mas vai depender de cada um. Houve uma reversão de expectativas com relação à variação cambial, que vem resultando num quadro de otimismo que deve permanecer estável nos próximos três meses. Os pequenos e médios empresários devem precaver-se durante esse período, evitando contrair dívidas e não acumulando estoques, porque são muito poucos aqueles que têm a sua atividade influenciada pelo comportamento da taxa de câmbio."
MARCÍLIO MARQUES MOREIRA
"Passamos por um momento crítico em janeiro e fevereiro, mas, de certa maneira, conseguimos superar e resgatar a esperança. Porém, para alcançar o objetivo de um país com um desenvolvimento sustentável e com justiça social, ainda temos muito o que fazer, sendo preciso perseverar para consolidar os nossos esforços. Na atual conjuntura, os pequenos e médios empresários devem evitar o pânico, pois não há razão para isso, adotando uma postura otimista, porém cautelosa, no sentido de não tentar pulos grandes demais. É necessário sempre testar o mercado para buscar o equilíbrio nas iniciativas de investimento, numa combinação constante de intuição e informação. Com relação às exportações, o momento é favorável, porque a taxa externa está atrativa, sendo aconselhável aproveitar essa ocasião para consolidar o próprio futuro. Com a melhora da balança comercial, aumenta a credibilidade do País e, conseqüentemente, as oportunidades para o pequeno negócio desenvolver-se nesse panorama."
|