A Mágica da Internet
Muito se fala sobre as mudanças radicais que a comunicação eletrônica vai trazer aos negócios em nível mundial já nos próximos anos. Especialistas e estudiosos de economia não se cansam de afirmar que a estrutura comercial sofrerá alterações profundas, transformando as relações entre clientes e fornecedores dentro e fora das empresas. Tudo parece encaixar-se perfeitamente nessas previsões: as estatísticas do crescimento vertiginoso dos usuários da Internet, as facilidades do comércio virtual, bem como o enorme potencial a ser explorado nas transações cibernéticas. No entanto, pouco ou quase nada é mencionado a respeito das condições atuais e das reais possibilidades da rede, em termos físicos, principalmente para um país como o Brasil, obrigado a conviver com a miséria e as tecnologias de ponta lado a lado. Em depoimento exclusivo, Dimitri E. Lee, diretor do provedor MacBBS - Tel.: (11) 816-7859, levanta nossos principais problemas com a experiência de quem viu a Internet nascer e crescer no cenário nacional.
CREDIBILIDADE
"Internet virou uma palavra mágica, pois, no começo, ninguém sabia o que era e agora todos acham que sabem do que se trata. Seu valor hoje encontra-se mais ligado àquilo que as pessoas acreditam que um dia ela virá a representar enquanto potencial de mercado do que propriamente ao negócio em si. Existe muita gente, grandes grupos, investindo muito dinheiro na Internet sem a garantia do retorno esperado. Por outro lado, a capacidade de criar novos produtos e tecnologias a cada instante talvez consiga manter essa credibilidade por um tempo indefinido e sustentar a sobrevalorização. As regras que os economistas mais tradicionais usam para avaliar riscos de mercado não devem ser utilizadas para avaliar os riscos da Internet, pois isso é imensurável no momento. Pode até ser que os investidores obtenham resultados acima das expectativas, mas não existe nada garantido. O lucro pode ser muito grande assim como o prejuízo também."
DESCOMPASSO TECNOLÓGICO
"Temos um problema de qualidade de infra-estrutura em termos de telefonia que a Internet parece que veio para agravar. O maior problema nesse sentido não é a velocidade, mas sim a estabilidade, porque a linha costuma cair. O sistema a cabo entraria como uma alternativa eficiente e confiável, mas quem está desenvolvendo isso no Brasil normalmente não é do ramo e está focando o marketing na velocidade. Existe uma demanda por conexão estável e fixa e, por outro lado, a mobilidade, que é algo paradoxal. Quanto maior a mobilidade, menor a possibilidade de ganhar velocidade e estabilidade. Nos Estados Unidos, a coisa funciona porque existe uma conexão nacional, eles são uma Intranet. Cerca de 40% da nossa navegação vem por intermédio de servidores de lá, passando por um gargalo enorme. Temos também problemas de segurança, pois não há aparelho policial nem jurídico que consiga entender e definir claramente o que é o crime na rede. Assistimos hoje a um descompasso entre as novas tecnologias e a sociedade que se agrava cada vez mais com o passar dos anos."
PRECAUÇÕES
"A escolha de um provedor de Internet depende da necessidade do usuário. A primeira pergunta a ser feita é o que se quer da rede. Em segundo lugar, é saber qual é a relação de links por usuários, ou seja, a taxa de ocupação, para que se possa ter uma noção da velocidade. Outro aspecto importante é verificar se o suporte está adequado à plataforma e que tipo de contrato está sendo oferecido, seja ele verbal ou por escrito. Existem provedores que continuam cobrando mesmo depois de receber ou de o serviço ser cancelado, porque precisam manter determinado número de assinantes para valorizar as ações lá fora. O provedor tem que funcionar como um hospital, tem que ter o especialista que resolve os problemas realmente complicados e 90% de técnicos para solucionar os problemas do dia-a-dia, mas é fundamental que todos saibam fazer essa distinção. A tendência dos pequenos e médios provedores é estabelecer-se no provimento de conteúdo, próprio ou de terceiros, pois não será mais possível conviver a longo prazo com o provimento de acesso, que vai ficar a cargo dos grandes.
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