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« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 25 (26/05/1988)

Quando o Negócio é Assunto de Família

A administração familiar tem sofrido uma queda de popularidade em todo o mundo, onde a prioridade é promover a chamada profissionalização do gerenciamento, para evitar que os laços de sangue interfiram negativamente na vida de uma empresa. Mas existem exemplos de sobra de sucesso baseado na comodidade do parentesco. A Vinícola Armando Peterlongo S. A., de Garibaldi, Rio Grande do Sul, é um deles. A receita dada pelo diretor-geral da empresa, Ivo Franciosi, para que essa opção seja exercida sem traumas, é muito simples.
Para ele, o fundamental é assumir uma postura técnica de administração, nunca a exercendo de pai para filho, tendo a preocupação constante para evitar que traumas familiares ou influências negativas, como ganância e inveja, prejudiquem o bom andamento dos negócios. Todos devem ter em mente que "a empresa é quem sustenta a família, portanto está acima dela e é ela que deve ser preservada", diz Franciosi.
A saga da família Peterlongo - à qual Franciosi e Alino Lorenzini, também diretor, tiveram acesso através do casamento com as herdeiras - começa em 1890, quando o imigrante Manoel Peterlongo Filho chegou ao Brasil trazendo uma muda de videira. Hoje, a empresa possui 20% do mercado, com uma linha de 35 produtos, que vão desde o Grande Champanha Peterlongo Clássico, passando pelo Peter Cooler e a campeã de vendas, a sidra de maçã Espuma de Prata, um filtrado doce de uvas com baixo teor alcoólico. A seguir, essa bem-sucedida estratégia é revelada, a partir do depoimento de Ivo Franciosi.

MEDALHA DE OURO

"Manoel Peterlongo Filho chegou ao Brasil com menos de 20 anos de idade. Além da muda de videira, trazia também a experiência na fabricação de licores - atividade que exercia na Itália - e uma formação técnica como engenheiro agrícola. A região nordeste da Serra do Rio Grande do Sul era propícia para o desenvolvimento de vinhedos. Já no início do século, Manoel fazia a colheita e, com base nos livros que trouxera, especialmente da região de Moscato de Canelli, produziu artesanalmente, no porão da sua casa, o primeiro vinho espumante do Brasil.
Em 1913, na primeira exposição de uvas e vinhos do País, em Garibaldi, Peterlongo apresentou seu moscato espumante e um vinho de mesa feito com a mesma uva. Recebeu medalha de ouro. Nessa época, ele trabalhava como engenheiro agrimensor - tendo feito as medições para a formação do núcleo urbano de Garibaldi - e como coletor das receitas estaduais. Sua medalha chamou a atenção dos outros produtores, que ficaram interessados em experimentar o espumante. Oito anos mais tarde, com a produção crescente, Manoel mandou buscar seu filho Armando, que estudava farmacêutica em Porto Alegre, para trabalhar com ele na vinícola.
Manoel morreu em 1924, e o filho ficou sozinho na indústria, que já estava desenvolvida. O herdeiro resolveu, então, lançar o vinho nacionalmente, mas o champanha importado, o único até então conhecido pelos brasileiros, representava uma forte concorrência, já que chegava ao nosso mercado com isenção de impostos. Foi então que a pequena empresa pioneira recebeu o apoio decisivo de Getúlio Vargas. Entusiasmado com a marca Peterlongo, quando ainda era presidente do estado, Getúlio começou a prestigiá-la a partir do momento em que virou presidente do País, em 1930, mandando servir nos banquetes oficiais e no batismo dos navios. Isso ajudou a tornar a empresa conhecida."

EXPORTAÇÃO DURANTE A GUERRA

"Na década de 30, Armando transferiu a fábrica da velha casa da família para uma nova cantina, construída toda em basalto, nos moldes das cantinas européias. E, abandonando o processo italiano de produção usada pelo seu pai, começou a desenvolver o método francês champenoise, de fermentação natural dentro da própria garrafa. O governo francês tinha proibido a exportação de livros sobre o assunto, pois queria proteger sua indústria, que dominava o mercado mundial, mas, graças ao interesse dos laboratórios europeus de venderem fermentos e equipamentos, para a fabricação do champanha, a Peterlongo teve acesso a essa tecnologia.
A empresa conseguiu entrar no mercado americano na década de 40, quando a guerra tornou impossível a importação de champanha e vinhos da França, Itália e Alemanha. Um dos contratos mais importantes foi com a magazine Macy's, de Nova York. Só que o fim do conflito fez a empresa voltar-se novamente apenas para o mercado interno, onde a concorrência aumentava com a entrada de cantinas da região de Caxias do Sul. Mas o domínio da técnica francesa de produção garantiu a liderança.
Nos anos 50, o encarecimento do custo industrial do champanha levou a empresa a substituir o processo champenoise pelo charman, de fermentação natural em grandes recipientes. Com isso, a produção aumentou, graças à automatização e à redução do tempo de fabricação de três para um ano. Em conseqüência, o preço foi reduzido pela metade. A diversificação chegou nos anos 70, com o lançamento da Espuma de Prata e, mais tarde, do conhaque Peterlongo e do uísque Royal Guard. Esses dois últimos respondem por apenas 5% das vendas, já que são produtos que fogem à vocação da empresa."

TECNOLOGIA NOVA

"A vocação da Peterlongo é ampliar os 20% que detém no mercado de engarrafados e conquistar a liderança. Para isso, a estratégia é a busca da tecnologia nova. O constante aprimoramento técnico, inclusive com a aquisição permanente de novos equipamentos, é considerado fundamental para a redução de custos, melhora da produtividade e manutenção da competitividade, principalmente diante das multinacionais, que trazem sua tecnologia do exterior.
Hoje, a empresa está instalando uma grande bateria de tanques de aço inoxidável para fermentação a frio, com controles automáticos de temperatura. Essa técnica permite que o produto não perca suas qualidades de aroma e sabor durante a fermentação, contribuindo para que a empresa mantenha o ponto de equilíbrio entre qualidade e preço.
Uma das vantagens da administração familiar é que permite uma estrutura mais enxuta e barata. Isso valeu à empresa, na década de 70, à sobrevivência ao assédio das multinacionais, que chegaram a comprar grande parte das cantinas vinícolas do Rio Grande do Sul. Todo o primeiro escalão da empresa é ocupado pela família."


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