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« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 32 (22/05/1991)

Mudança Começa Dentro da Empresa

Nenhuma empresa é uma ilha: toda administração está ligada diretamente ao ambiente político e econômico do País e dele depende para a sobrevivência. Baseado neste princípio de co-relação de forças, o diretor-presidente da Elka Plásticos Ltda., Emerson Kapaz, traçou uma estratégia interna que privilegia a gestão participativa e conseqüente delegação de poderes.
Para ele, procurar saber o que os funcionários pensam para poder motivá-los - e assim enfrentar a concorrência - é um processo que passa pela democratização das relações de trabalho e pela distribuição de renda. Isso leva ao comprometimento do empresário com seu sindicato e, conseqüentemente, com o resto da sociedade civil. Esta, estruturada com lideranças legítimas, pode pressionar as autoridades para implantar um projeto viável, que faça o País sair da crise e prosperar. É assim que funciona a nova postura empresarial, segundo suas declarações exclusivas a esta seção.

EMPRESÁRIO QUE NÃO PRECISA DE MERCADO NÃO FAZ QUESTÃO DE DEMOCRACIA
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"Cartel ou monopólio não se ocupa com mudanças gerenciais internas, participação de resultados ou incentivo às idéias dos seus funcionários empreendedores. Mas quem depende da lei da oferta e da procura e precisa ser competente para enfrentar a concorrência já tem outra estratégia: se ele não conseguir conquistar seus funcionários para lutar contra a crise, por exemplo, a empresa pode quebrar. Se não buscar apoio no próprio setor, como poderá evitar a aprovação de uma lei que ameaça sua atividade produtiva?
Existe uma ligação entre democratização de capital e democratização política. A grande concentração de renda no Brasil - onde 2% das empresas detêm 50% do Produto Interno Bruto - é responsável pela demora da consolidação da economia de mercado entre nós. Precisamos de uma cultura empresarial nova, em que prevaleça uma filosofia de envolvimento em relação à sociedade, através de um debate transparente, franco e direto."

SALÁRIO NÃO INTERESSA SÓ AO TRABALHADOR

"Se entendermos que salário não é custo, mas mercado, ele fica sendo mais importante para nós do que para o trabalhador. Enquanto a participação dos salários na renda nacional brasileira é de 32%, nos países desenvolvidos é de 60, 65%. E eles têm muito menos inflação, muito menos concentração de renda.
O empresariado teve uma visão míope nesses últimos anos, ao achar que era possível crescer concentrando renda, sem nenhum outro tipo de posicionamento. Acabou o mercado, não tem salário, nem para quem vender."

ADMINISTRAR É GERENCIAR PESSOAS

"O grande segredo da administração é entender que ela é, antes de tudo, gerência de pessoas, de convivência de seres humanos. Aí é o ponto fraco ou forte de uma empresa. No momento em que você tem um envolvimento, uma motivação e for valorizado internamente, a empresa consegue ultrapassar todos os obstáculos, aumentar sua criatividade, lançar produtos, brigar mais pelo mercado.
Acho que a administração participativa tem uma chave, um segredo que é a possibilidade de formação de líderes, dentro da sua empresa, com todos os riscos que isso significa e com a necessidade que existe, a nível pessoal, de exercer a cidadania. Significa também amadurecimento político.
Trata-se de criar um elo de ligação - que é a mesma coisa que se tenta fazer a nível de uma negociação com a sociedade civil. Fazemos isso há um ano e meio na Elka, já com o objetivo de introduzir futuramente a participação nos lucros. Mas entendemos que ela só é benéfica para o próprio trabalhador quando é discutida, quando há uma administração participativa que lhe permita a relação entre você e os funcionários da empresa. É preciso encarar a relação capital/trabalho como de conflito e administrá-lo, não o colocando embaixo do tapete."

DELEGAR PODERES, O CAMINHO PARA A MUDANÇA

"Na hora em que você começa a entender a importância dessa administração voltada para a área humana, a postura do empresário extrapola para um contexto social mais amplo. Essa saída do empresário, que implica uma divisão de seu tempo, passa por uma nova visão da sua própria administração. E isso significa delegar poderes, pois só assim é possível conseguir tempo para administrar e envolver-se em questões externas.
A empresa só cresce quando eu consigo contratar profissionais que tenham função executiva. Eu, como sócio, não posso cumprir funções executivas. O empreendedor, infelizmente, cresce com esse estigma do faz-tudo.
Um dos grandes erros nas sucessões familiares é colocar parentes em posição de privilégio, sem que haja um caminho natural em direção ao topo. Isso prejudica as pessoas que estão crescendo dentro da empresa, que sofrem com uma imposição de cima para baixo. Comigo foi diferente. Como segunda geração dentro de uma empresa familiar, entrei por baixo, pois essa era a filosofia do meu pai e de mais dois sócios. Participei de todos os setores antes de passar por um processo de administração. Fui conhecendo a fábrica por dentro e conquistando um espaço próprio que não estava ligado à minha situação de ser filho do dono, mas por minha atuação interna.
A meu ver, esse é o momento do grande salto, quando a empresa se torna mais profissionalizada. Hoje, ao detectar três meses antes o que vai acontecer na economia, posso sair e atuar no nível externo. Quando volto, minha empresa está na frente das outras, tendo avançado na minha ausência. Ela está melhor em relação ao futuro, com os governantes e trabalhadores e com toda a sociedade."

VOZ PARA QUEM NÃO TEM

"A necessidade de se relacionar com o meio social aumentou a partir do nosso envolvimento com o sindicato patronal da categoria de brinquedos. Vi que o trabalho dentro de uma empresa também pode ser feito no sindicato. Percebi que a aglutinação de um setor econômico em torno de propostas que extrapolam questões corporativas é urgente e necessária para nós.
No nosso setor, vimos que quase a metade dos empresários não tinha voz. Nosso trabalho foi fazer essa parcela significativa expressar-se, mas descobrimos que os vícios sindicais são defeitos de estrutura, com representatividades falsas. Por isso, fundamos a Abrinq, que significava mais autonomia e possuía um perfil nacional, pois convocou empresários fora do Estado de São Paulo."


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