A Criação Ainda é Vulnerável
Pouco compreendido e até, com freqüência, rotulado desmerecidamente de 'professor Pardal', o inventor é, antes de tudo, pessoa com qualidades de observação e de sensibilidade extremamente aguçadas, que dedica forte paixão à atividade de criar coisas novas ou, no mínimo, de aperfeiçoar e melhorar objetos, produtos e processos existentes. Integram essa categoria diferenciada da sociedade pessoas com os mais diferentes tipos de formação, desde donas-de-casa, operários e trabalhadores em geral, até acadêmicos e profissionais com formação superior como médicos e engenheiros de todas as especialidades, marcados por um traço comum: o caráter extremamente reservado no tocante às suas idéias, para evitar o plágio, ou a apropriação indevida da criação, em suma, da eventual concorrência desleal entre eles próprios. Esse perfil do inventor é traçado, em depoimento exclusivo, pelo empresário Sérgio Lavieri Schleier, da S. Lavieri & Schleier Mecatrônica - Tel.: (11) 980-6253 -, que fabrica um equipamento de sua invenção, totalmente automático, limitador de giros e temporizador de ignição para veículos automotivos equipados com turbocompressor, evitando o desgaste prematuro de peças.
CRIATIVIDADE, PRINCIPALMENTE, SE APRIMORA
"Como engenheiro operacional eletrônico e mecânico, fui convidado pela Unicamp para fazer mestrado em fontes alternativas de energia, desenvolvendo motor movido a hidrogênio. Sou, também, presidente da Associação dos Inventores do Estado de São Paulo (Aiesp), entidade sem fins lucrativos, criada em 1996, que visa apoiar e aprimorar o inventor e o processo criativo, desde a idéia inicial até as fases de registro e obtenção de patentes e a industrialização do invento. Obviamente, não há uma disciplina ou curso que 'ensine' a técnica da criação ou possibilite a 'formação' de inventores, porém é inegável que a cultura e o nível educacional são importantes fatores de estímulo ao caráter inventivo, o qual pode, ainda, ser aprimorado. Em 1996, São Paulo contribuiu com 14 mil invenções ou pouco mais de 50% do total surgido no País."
ESCOLA PREPARA A SOCIEDADE DO CONHECIMENTO
"A Aiesp também irá proporcionar respaldo administrativo e burocrático para a obtenção de patentes no INPI, maiores facilidades para a participação e a exposição dos inventos em mostras internacionais. À semelhança do que há nos Estados Unidos, por exemplo, temos ainda o intuito de lutar para que se criem, em todos os níveis escolares, disciplinas, cadeiras ou mesmo salas especiais para estimular e trabalhar a criatividade intelectual dos alunos, preparando-os para a sociedade do conhecimento que, de maneira inexorável, deverá prevalecer na virada do milênio. Dentro de alguns meses teremos condições de organizar e ministrar cursos de 'criatividade', com a colaboração dos próprios inventores, que, naturalmente, exercem até fascínio e liderança entre os alunos das escolas, quando se apresentam para fazer palestras. Lamentavelmente, até agora, no Brasil, ninguém havia sido educado ou treinado para inventar, para criar - e essa situação precisa mudar."
VIABILIZAR O APOIO NECESSÁRIO
"A etapa certamente mais problemática do ciclo inventivo é a operacionalização do projeto em nível industrial devido à mentalidade pouco inovadora do nosso empresário, que não investe no desenvolvimento de produtos, preferindo as tecnologias estrangeiras já prontas a valorizar a criação nacional, à desconfiança com relação ao próprio inventor à insegurança deste em revelar a terceiro detalhes de seu projeto. Assim, é muito difícil ao inventor chegar até às instâncias decisórias da empresa, as quais deveriam atribuir tais contatos a departamentos especializados, como os de desenvolvimento de novos produtos, por exemplo. Ao buscar a participação, de forma organizada, dos inventores, o propósito fundamental da Aiesp é, então, viabilizar-lhes todo o apoio necessário, especialmente, do Poder Público (por intermédio do SEDAI), de universidades e da classe empresarial, abrindo-lhes a possibilidade de obtenção de recursos financeiros, de acesso a laboratórios de pesquisa, onde possam executar seus protótipos e testes, a bibliotecas e a bancos de dados e informações científicas."
|