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« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 61 (06/06/1993)

Espuma Leva Choque de Qualidade

Qual a sensação de descontar uma duplicata? Empresário sabe o que é isso, mas e os especialistas em economia, será que já enfrentaram esse tipo de situação? É por isso que Pedro Paulo Prado de Almeida, ex-bancário e um dos sócios da Art Spuma Indústria e Comércio Ltda., não costuma perder tempo com as opiniões que são veiculadas obsessivamente na mídia por pessoas que, em sua opinião, não conhecem a realidade do País.
Pedro Paulo teve que optar entre a teoria e a prática logo que fundou a Art Spuma, em 1981. Quando cursava o terceiro ano de uma faculdade de Economia, foi aconselhar-se com um dos seus professores, que falou o óbvio: a crise estava terrível, não era hora de montar uma empresa e ele iria dar-se mal. Na opinião do mestre, o aluno não deveria abandonar um bem remunerado emprego no banco. Só que, no primeiro pedido, ele trancou a matrícula e nunca mais voltou para a escola.
Aprendeu tudo na marra, com a ajuda do seu sócio - o ex-torneiro mecânico José Acioly Lins -, desde o princípio: foi assaltado logo de cara e perdeu a Kombi que tinha comprado para fazer as entregas. Vendeu apartamento, levantou alguns empréstimos e resolveu apostar tudo na Art Spuma. O momento decisivo foi em 1986, quando, numa feira na Alemanha, viu a tendência mundial do seu setor: qualidade ou morte.
Foi nessa época que resolveu focar a produção em peças técnicas de espuma, principalmente para a indústria automobilística. Hoje, com cem funcionários, a Art Spuma é uma das empresas fornecedoras da Autolatina, mas tem contratos firmados com a General Motors e a Fiat, além de atender clientes importantes, como a Gradiente e a indústria de ônibus Marcopolo. Neste primeiro semestre de 1993, Pedro Paulo é um dos empresários envolvidos com o chamado P.1, plano de reestruturação da indústria de autopeças, incentivado pela Autolatina e realizado através de um trabalho da Andersen Consulting em convênio com o SEBRAE/SP.

QUEM SÃO ELES PARA PREGAR O CAOS?

"Tem gente que não sai da televisão prevendo a explosão inflacionária, dizendo que o País vai virar um caos, mas eu nem escuto. Eles nunca tiveram que honrar uma folha de pagamento, arranjar dinheiro para pagar um aluguel astronômico, nem sabem como parcelar o ICM ou receber um fiscal. Eles ficam pregando reformas só no papel.
O futuro do Brasil vai sair daqui, de empresas pequenas como esta. Quando eu consigo pagar um pouco melhor nossos funcionários, eles jogam o dinheiro no mercado. É um absurdo dizer que salário provoca mais inflação. Os arautos do caos é que decretam o índice inflacionário, por pura incompetência. O importante é você conseguir definir um objetivo para sua empresa, conseguir um sócio e desenvolver o empreendimento, abrindo mão do que é supérfluo e esquecendo a palavra dinheiro, pois o lucro será apenas conseqüência do bom trabalho que você puder fazer.
Quero ver algum entendido ter que pagar 36% de juros ao mês para conseguir sobreviver. A sensação é a mesma do assalto. Mas não tem outro jeito: precisamos dos bancos, apesar de vê-los faturar muito com uma agência de 200 metros quadrados e apenas quinze funcionários. Só aqui, em Taboão da Serra, na Grande São Paulo, trabalhamos em 2 mil metros de área construída. Estamos também num prédio em Betim, Minas Gerais, onde vamos fornecer para a Fiat."

CONSULTORIA PROFISSIONAL NÃO ATRAPALHA

" Quando a Autolatina chamou todos os seus seiscentos fornecedores para avisar que iria reduzir esse número pela metade, resolvemos agir. Sugeri a adoção de uma consultoria de verdade, e não dessas que chegam na tua fábrica, mexem com tudo e criam apenas confusão. Já tive experiência com consultoria amadora e só gastei dinheiro e não resolvi nada. A Andersen Consulting, por ser profissional, primeiro escutou-nos e elogiou alguns procedimentos adotados.
Depois, as mudanças que ela sugeriu tiveram efeito imediato: ganhamos 30% em produtividade já no primeiro dia de funcionamento da primeira das cinco células que estão sendo implantadas. Foi quando todos foram treinados para fazer de tudo e deixamos de depender dos especialistas, aqueles que se tornam superpoderosos e, quando faltam, a fábrica pára. Em vez de cuidar do controle de qualidade, agora nos ocupamos com a garantia da qualidade total, pois nosso objetivo é conseguir ser ISO-9000, um reconhecimento internacional de excelência.
Qualidade é ter um número menor de pessoas fazendo mais coisas. Mas não adianta fazer consultoria com uma multinacional e ter aqui dentro gente insatisfeita com o trabalho. Trazemos bons profissionais do mercado, e isso nos tem dado excelente retorno. As pessoas, aqui, precisam ter condições, mas, para isso, contamos com o apoio deles. As sugestões são aceitas, e a limpeza é feita pelos próprios funcionários, já que não gastamos mais dinheiro com faxineiras ou jardineiros.
Nesse aspecto, miramo-nos em exemplos como o da Marcopolo, que é uma das mais eficientes e limpas empresas do País. No lugar em que betuminamos a espuma, por exemplo, coloquei azulejos brancos, pois tudo precisa estar rigorosamente impecável. É assim que conseguimos bons resultados, criando um ambiente favorável para a produtividade e tentando remunerar à altura. Na mexida da estrutura, muita gente que estava sumida no esquema antigo revelou-se e está produzindo muito mais, pois sentiu-se valorizada e pode desenvolver habilidades que antes eram subestimadas."

A RESERVA DE MERCADO ACABOU

"Substituímos, na preferência dos nossos clientes, muitas empresas que ficaram para trás. Hoje, o que conta é prazo de entrega, qualidade e preço. Para você ter esses três itens em ordem é preciso cuidar da produtividade, pois não adianta ser ótimo e ter que cobrar caro. O exemplo do carro popular é típico. Carro popular não quer dizer de segunda mão: o novo Fusca, por exemplo, terá pneu radial e o Gol não pode ficar sem o isolamento acústico que nossas peças proporcionam.
O carro popular vai atender as necessidades básicas do comprador, oferecendo conforto. Acabou a mentalidade da reserva de mercado. Hoje, somos parceiros dos nossos clientes: eles nos convidam para participar da fabricação de um automóvel ou de um ônibus, e nós temos que arriscar juntos, oferecendo preços competitivos, senão seremos também substituídos. O mercado mesmo vai selecionar e, num processo de reaquecimento da economia, os funcionários vão escolher empresas com uma nova mentalidade.
A velha visão empresarial tende a desaparecer. Muita gente pergunta-me por que pago melhor pessoas que acabei de contratar e trabalhariam por qualquer salário. Acho que não pode mais ser assim. Precisamos ter noção de custo, pagar melhor as pessoas que operam máquinas caríssimas e podem provocar prejuízos enormes só por defasagem salarial. É preciso ter planejamento de entrega, trabalhar em cima de um objetivo, colocar tudo no papel.
Devemos divulgar essa nova mentalidade e lutar para conseguir melhores condições de financiamento para renovar nosso sucateado parque industrial. Estou aqui no batente, pois acredito que o Brasil vai melhorar, senão abandonaria tudo. Penso em deixar alguma coisa boa para a geração dos meus filhos."


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