Espuma Leva Choque de Qualidade
Qual a sensação de descontar uma duplicata? Empresário sabe
o que é isso, mas e os especialistas em economia, será que já
enfrentaram esse tipo de situação? É por isso que Pedro
Paulo Prado de Almeida, ex-bancário e um dos sócios da Art
Spuma Indústria e Comércio Ltda., não costuma perder
tempo com as opiniões que são veiculadas obsessivamente na mídia
por pessoas que, em sua opinião, não conhecem a realidade do País.
Pedro Paulo teve que optar entre a teoria e a prática logo que fundou a
Art Spuma, em 1981. Quando cursava o terceiro ano de uma faculdade de Economia,
foi aconselhar-se com um dos seus professores, que falou o óbvio: a crise
estava terrível, não era hora de montar uma empresa e ele iria dar-se
mal. Na opinião do mestre, o aluno não deveria abandonar um bem
remunerado emprego no banco. Só que, no primeiro pedido, ele trancou a
matrícula e nunca mais voltou para a escola.
Aprendeu tudo na marra, com a ajuda do seu sócio - o ex-torneiro mecânico
José Acioly Lins -, desde o princípio: foi assaltado logo de
cara e perdeu a Kombi que tinha comprado para fazer as entregas. Vendeu apartamento,
levantou alguns empréstimos e resolveu apostar tudo na Art Spuma. O momento
decisivo foi em 1986, quando, numa feira na Alemanha, viu a tendência mundial
do seu setor: qualidade ou morte.
Foi nessa época que resolveu focar a produção em peças
técnicas de espuma, principalmente para a indústria automobilística.
Hoje, com cem funcionários, a Art Spuma é uma das empresas fornecedoras
da Autolatina, mas tem contratos firmados com a General Motors e a Fiat, além
de atender clientes importantes, como a Gradiente e a indústria de ônibus
Marcopolo. Neste primeiro semestre de 1993, Pedro Paulo é um dos empresários
envolvidos com o chamado P.1, plano de reestruturação da indústria
de autopeças, incentivado pela Autolatina e realizado através de
um trabalho da Andersen Consulting em convênio com o SEBRAE/SP.
QUEM SÃO ELES PARA PREGAR O CAOS?
"Tem gente que não sai da televisão prevendo a explosão
inflacionária, dizendo que o País vai virar um caos, mas eu nem
escuto. Eles nunca tiveram que honrar uma folha de pagamento, arranjar dinheiro
para pagar um aluguel astronômico, nem sabem como parcelar o ICM ou receber
um fiscal. Eles ficam pregando reformas só no papel.
O futuro do Brasil vai sair daqui, de empresas pequenas como esta. Quando eu consigo
pagar um pouco melhor nossos funcionários, eles jogam o dinheiro no mercado.
É um absurdo dizer que salário provoca mais inflação.
Os arautos do caos é que decretam o índice inflacionário,
por pura incompetência. O importante é você conseguir definir
um objetivo para sua empresa, conseguir um sócio e desenvolver o empreendimento,
abrindo mão do que é supérfluo e esquecendo a palavra dinheiro,
pois o lucro será apenas conseqüência do bom trabalho que você
puder fazer.
Quero ver algum entendido ter que pagar 36% de juros ao mês para conseguir
sobreviver. A sensação é a mesma do assalto. Mas não
tem outro jeito: precisamos dos bancos, apesar de vê-los faturar muito com
uma agência de 200 metros quadrados e apenas quinze funcionários.
Só aqui, em Taboão da Serra, na Grande São Paulo, trabalhamos
em 2 mil metros de área construída. Estamos também num prédio
em Betim, Minas Gerais, onde vamos fornecer para a Fiat."
CONSULTORIA PROFISSIONAL NÃO ATRAPALHA
" Quando a Autolatina chamou todos os seus seiscentos fornecedores para avisar
que iria reduzir esse número pela metade, resolvemos agir. Sugeri a adoção
de uma consultoria de verdade, e não dessas que chegam na tua fábrica,
mexem com tudo e criam apenas confusão. Já tive experiência
com consultoria amadora e só gastei dinheiro e não resolvi nada.
A Andersen Consulting, por ser profissional, primeiro escutou-nos e elogiou alguns
procedimentos adotados.
Depois, as mudanças que ela sugeriu tiveram efeito imediato: ganhamos 30%
em produtividade já no primeiro dia de funcionamento da primeira das cinco
células que estão sendo implantadas. Foi quando todos foram treinados
para fazer de tudo e deixamos de depender dos especialistas, aqueles que se tornam
superpoderosos e, quando faltam, a fábrica pára. Em vez de cuidar
do controle de qualidade, agora nos ocupamos com a garantia da qualidade total,
pois nosso objetivo é conseguir ser ISO-9000, um reconhecimento internacional
de excelência.
Qualidade é ter um número menor de pessoas fazendo mais coisas.
Mas não adianta fazer consultoria com uma multinacional e ter aqui dentro
gente insatisfeita com o trabalho. Trazemos bons profissionais do mercado, e isso
nos tem dado excelente retorno. As pessoas, aqui, precisam ter condições,
mas, para isso, contamos com o apoio deles. As sugestões são aceitas,
e a limpeza é feita pelos próprios funcionários, já
que não gastamos mais dinheiro com faxineiras ou jardineiros.
Nesse aspecto, miramo-nos em exemplos como o da Marcopolo, que é uma das
mais eficientes e limpas empresas do País. No lugar em que betuminamos
a espuma, por exemplo, coloquei azulejos brancos, pois tudo precisa estar rigorosamente
impecável. É assim que conseguimos bons resultados, criando um ambiente
favorável para a produtividade e tentando remunerar à altura. Na
mexida da estrutura, muita gente que estava sumida no esquema antigo revelou-se
e está produzindo muito mais, pois sentiu-se valorizada e pode desenvolver
habilidades que antes eram subestimadas."
A RESERVA DE MERCADO ACABOU
"Substituímos, na preferência dos nossos clientes, muitas empresas
que ficaram para trás. Hoje, o que conta é prazo de entrega, qualidade
e preço. Para você ter esses três itens em ordem é preciso
cuidar da produtividade, pois não adianta ser ótimo e ter que cobrar
caro. O exemplo do carro popular é típico. Carro popular não
quer dizer de segunda mão: o novo Fusca, por exemplo, terá pneu
radial e o Gol não pode ficar sem o isolamento acústico que nossas
peças proporcionam.
O carro popular vai atender as necessidades básicas do comprador, oferecendo
conforto. Acabou a mentalidade da reserva de mercado. Hoje, somos parceiros dos
nossos clientes: eles nos convidam para participar da fabricação
de um automóvel ou de um ônibus, e nós temos que arriscar
juntos, oferecendo preços competitivos, senão seremos também
substituídos. O mercado mesmo vai selecionar e, num processo de reaquecimento
da economia, os funcionários vão escolher empresas com uma nova
mentalidade.
A velha visão empresarial tende a desaparecer. Muita gente pergunta-me
por que pago melhor pessoas que acabei de contratar e trabalhariam por qualquer
salário. Acho que não pode mais ser assim. Precisamos ter noção
de custo, pagar melhor as pessoas que operam máquinas caríssimas
e podem provocar prejuízos enormes só por defasagem salarial. É
preciso ter planejamento de entrega, trabalhar em cima de um objetivo, colocar
tudo no papel.
Devemos divulgar essa nova mentalidade e lutar para conseguir melhores condições
de financiamento para renovar nosso sucateado parque industrial. Estou aqui no
batente, pois acredito que o Brasil vai melhorar, senão abandonaria tudo.
Penso em deixar alguma coisa boa para a geração dos meus filhos."
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