Home











...



« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 40 (05/01/1993)

Empreender, Vocação de Alto Risco

Quem não está disposto a colocar em risco todos os dias o patrimônio acumulado não deve montar seu próprio negócio. "É melhor que ponha seu dinheiro na poupança", diz Irani Cavagnoli, consultor de empresas e professor de finanças, mercado de capitais e planejamento da Universidade Católica de São Paulo. "Se ele não arrisca, ele não contrata, não compra, e a indecisão é o primeiro passo para o fracasso."
Em sua opinião, o fator decisivo do sucesso é ter uma postura estratégica: colocar a cabeça para fora da organização, ver o que está acontecendo, avaliar oportunidades e ameaças e adequar-se aos cenários reais. E também que exista o perfil do empreendedor, que é raro de ser formado no Brasil, onde predominam as restrições normais da educação, orientada para a falta de iniciativa e autoproteção.
Falando com exclusividade para esta seção, ele acha que o espírito empreendedor já tomou conta dos estudantes, executivos, donas-de-casa, e que, se ainda não explodiu totalmente, é porque a estrutura do País coloca muitas amarras para o próprio desenvolvimento. "No momento em que o cenário for mais propício, teremos um fenômeno idêntico ao que aconteceu aos Estados Unidos nos anos 70", diz Cavagnoli, que, desde 1990, exerce a função de diretor-superintendente do SEBRAE-SP, Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo.
A seguir ele destaca alguns itens fundamentais do seu pensamento sobre estratégia empresarial.

É PRECISO CRIAR UM CENÁRIO FAVORÁVEL PARA OS NEGÓCIOS

"A capacidade empreendedora do brasileiro é uma das mais ricas do mundo, mas ele precisa de um ambiente econômico, social, político e tributário favorável. O movimento de modernização ainda é tímido, porque não há sinalizações claras em relação a esse assunto. Aqui, no SEBRAE-SP, fazemos a nossa parte, entre outras coisas procurando parcerias com a grande empresa para modernizar o pequeno fornecedor.
Tem gente achando ainda que o Brasil é uma ilha. Isso é um engano: estamos no fim do século, o nível de competitividade e inovação tecnológica é muito elevado e o conhecimento dobra a cada dois anos. No Japão, um carro leva a metade do tempo, em relação ao Brasil, para ser desenvolvido. Se a situação não mudar, vamos ficar à margem do sistema econômico internacional de uma vez por todas.
Economia fechada significa alta inflação, produtos sem competitividade. Temos um componente estrutural muito grande, com ineficiência, excesso de burocracia, taxas de juro elevadas, enfim, um cenário nada propício à nova vocação do Brasil, que é trabalhar numa economia de mercado."

COMO DRIBLAR A HERANÇA DE 100 MIL "NÃOS"
"Uma pesquisa nos Estados Unidos chegou a esse número de negativas que um indivíduo sofre até os oito anos de idade, medindo, assim, a repressão das pessoas numa época-chave de formação. É uma tampa que se coloca na personalidade do indivíduo. Poucos escapam dessa carga, e esses nós chamamos de empreendedores, que se manifestam em vários lugares e segmentos de mercado.
Mas a atitude empreendedora está sendo intensificada pela recessão, que prejudica as condições de trabalho existentes, refletindo-se negativamente muitas vezes nos salários e nas perspectivas profissionais. Isso faz com que muitos se perguntem: será que, se eu usar toda a minha capacidade num negócio próprio, não vou ganhar mais? Essa postura é o primeiro passo para trabalhar por conta própria.
Fora das empresas, temos a manifestação da capacidade empreendedora da mulher como uma grande tendência, até com parcerias com o marido. Às vezes, ambos exploram comercialmente atividades caseiras, que se desenvolvem através de um pequeno negócio."

É FUNDAMENTAL GOSTAR DA PRÓPRIA ATIVIDADE -

"A alternativa é seguir sua própria vocação para montar o seu negócio. Mesmo dentro da sua experiência, é possível correr riscos. Se, por coincidência, a idéia é aproveitar a atividade que ocupou a pessoa durante muitos anos, então as chances aumentam.
Os principais problemas do futuro empresário são: capitalização insuficiente, inadequação tecnológica, carência de métodos eficientes, falta de informação relevante e falta de mercado, além, é claro, da falta de perfil. Se não existissem tantas dificuldades, todo mundo seria empreendedor.
Se a pessoa não possui a propensão a assumir riscos, como é que ela vai comprar máquinas, contratar pessoas, comprar matéria-prima, sabendo que tudo isso, no final, pode fracassar? Pesquisas americanas evidenciam que, de cada dez produtos que são desenvolvidos, só um emplaca. O risco de perder é uma realidade."

A ÉPOCA DA IMPROVISAÇÃO ACABOU
"Os grandes empresários de hoje começaram com pequenos empreendimentos, em sua maioria. Lutaram bravamente num momento em que não havia sofisticação tecnológica e financeira, conseguindo desenvolver seus negócios, superar os dois primeiros anos de vida e deslanchar.
Hoje, o empreendedor tem mais condições, mas a concorrência é muito maior. É preciso trabalhar com gestão moderna de qualidade, pois o mercado não admite mais improvisações. Se não houver preocupação com tecnologia, por exemplo, ele não vende.
Nas faculdades de administração, sempre se formavam profissionais para serem empregados. Hoje, nos cursos de administração, existem pessoas sendo orientadas para gerir seus empreendimentos. A Empresa Júnior é outro exemplo de que existe uma demanda para o estudante universitário que já decidiu ter seu próprio negócio. Nas universidades mais importantes de São Paulo, existe também a montagem de incubadoras de empresas em diversas áreas, que é uma forma eficiente de transferir tecnologia e recursos humanos para a sociedade."

TEMOS CONDIÇÃO DE SUPERAR O ATRASO
"A grande explosão das franquias provam que a vontade de empreender com competitividade é uma mentalidade que está bem disseminada no País. O movimento só não é mais forte porque temos um cenário econômico adverso. Mas já existe uma consciência sobre isso. Uma pesquisa revela que os dois maiores interesses do brasileiro é ter casa e negócio próprios.
Estamos em crise, que é o estado intermediário entre o que não serve mais e um novo caminho ainda não encontrado. Nesse aspecto, a crise é positiva. Já provamos que temos condições, recursos humanos, competência. Nos anos 70, crescemos 10% ao ano. Só que aquele modelo não serve mais. Precisamos criar um novo modelo, adequado às condições da economia global neste fim de século.
Estamos na fase de redescobrimento do consumidor como o grande imperador das nossas decisões empresariais. O conceito da gestão pela qualidade total é você não tomar nenhuma decisão sem antes fazer a pergunta: qual é o benefício para o cliente? Isso atinge desde o dono da empresa, o gerente, até o chão da fábrica e a loja. Quem define a qualidade não são os técnicos, mas o consumidor. Se ele não atribuir valor aos novos investimentos que são feitos para melhorar os produtos, ele não vai pagar por isso".


« Entrevista Anterior      Próxima Entrevista »
...
Realização:
IMEMO

MANTENEDORES:

CNS

CRA-SP

Orcose Contabilidade e Assessoria

Sianet

Candinho Assessoria Contabil

Hífen Comunicação


Pró-Memória Empresarial© e o Programa de Capacitação, Estratégia e Motivação Empreendedora Sala do Empresário® é uma realização do Instituto da Memória Empresarial (IMEMO) e publicado pela Hífen Comunicação em mais de 08 jornais. Conheça a história do projeto.

Diretor: Dorival Jesus Augusto

Conselho Assessor: Alberto Borges Matias (USP), Alencar Burti, Aparecida Terezinha Falcão, Carlos Sérgio Serra, Dante Matarazzo, Elvio Aliprandi, Irani Cavagnoli, Irineu Thomé, José Serafim Abrantes, Marcos Cobra, Nelson Pinheiro da Cruz, Roberto Faldini e Yvonne Capuano.

Contato: Tel. +55 11 9 9998-2155 – [email protected]

REDAÇÃO
Jornalista Responsável: Nei Carvalho Duclós - MTb. 2.177.865 • Repórter: ;
Revisão: Angelo Sarubbi Neto • Ilustrador: Novo

PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTAS ENTREVISTAS sem permissão escrita e, quando permitida, desde que citada a fonte. Vedada a memorização e/ou recuperação total ou parcial, bem como a inclusão de qualquer parte da obra em qualquer sistema de processamento de dados. A violação dos Direitos Autorais é punível como crime. Lei nº 6.895 de 17.12.1980 (Cód. Penal) Art. 184 e parágrafos 185 e 186; Lei nº 5.998 de 14.12.1973


Hífen Comunicação
© 1996/2016 - Hífen Comunicação Ltda. - Todos os Direitos Reservados
A marca Sala do Empresário - Programa de Capacitação, Negócios e Estratégia Empresarial
e o direito autoral Pró-Memória Empresarial, são de titularidade de
Hífen Comunicação Editorial e Eventos Ltda.