O giz Milagroso e Outras Histórias
Todo mundo tomou conhecimento do Giz Mata Insetos, sucesso de vendas na última
Feira de Utilidades Domésticas (UD), realizada em São Paulo. Mas
o que pouca gente sabe é como surgiu esse produto, verdadeiro achado de
uma empresa desconhecida, a Bryoline Indústria e Comércio de
Produtos Químicos Ltda., que, na época, nem tinha funcionários.
Contava apenas com a tenacidade do seu fundador e proprietário, João Batista Bueno da Silva ([email protected]), um ex-engraxate nascido em Jundiaí que se desfez do seu patrimônio pessoal para apostar tudo no produto que o transformou numa celebridade.
Não é a primeira vez que esse empresário fez sucesso na UD.
No ano passado, conseguiu destacar-se, graças a dois produtos, um repelente
para pombos - que serve também para espantar gatos e morcegos -
e uma tinta protetora antimoscas. "Faço coisas simples, práticas
e que chamam a atenção", diz ele, que já inventou e
promete lançar brevemente uma vela contra mosquitos, alternativa popular
aos caros inseticidas tradicionais.
Sua fonte de inspiração é o próprio mercado: dono
também da House Cleaning, uma dedetizadora que gerou os recursos investidos
na Bryoline, ele tinha dificuldades em atender algumas exigências dos clientes.
Como matar baratas nas residências onde os moradores são alérgicos,
por exemplo? Como exterminar as moscas num supermercado, onde a concentração
de alimentos exige o máximo cuidado com a contaminação? Como
proceder nos hospitais?
Neste depoimento exclusivo, João Batista explica como conseguiu salvar
seus empreendimentos e tornar-se um empresário bem-sucedido, que procura
atender com qualidade os pedidos que chegam de todo o Brasil e também do
exterior.
SEMPRE ANDEI SOZINHO
"Perdi meu pai aos 9 anos de idade, e meu padrasto não concordava
com minha idéia de estudar, de aprender para poder progredir. Juntei algum
dinheiro e resolvi ir para Santos, onde trabalhei como engraxate e fiz uma série
de outros serviços, sempre tendo como lema andar sozinho, pois as companhias
poderiam ser uma influência negativa e desviar-me do caminho. Minha sorte
é que trabalhei numa firma dedetizadora, onde o dono, um norte-americano
que voltou para a terra dele, me ensinou todos os macetes e ainda me deixou os
equipamentos de herança.
Desde o início, transformei-me num fornecedor de produtos do setor, pois
sabia as fontes e fazia a distribuição. Além disso, tirei
vários cursos de especialização que, aliados à prática
diária, transformaram a House Cleaning numa empresa diferenciada, pois
pouca gente entende desse trabalho no Brasil. Mesmo não tendo curso superior,
costumo falar para gente graduada que eles precisam aprender muita coisa que não
ensinam na universidade.
Esse setor é muito marginalizado, e só agora está organizando-se
numa associação. A falta de conhecimento muitas vezes provoca desastres,
e é preciso ter muito cuidado. Agora, que vou dedicar-me integralmente
à Bryoline - seu sucesso acabou afastando-me um pouco do atendimento
na dedetização -, quero vender a House Cleaning com tudo o
que ela tem: clientela, estoque para seis meses e know-how, pois vou fazer treinamento
para quem quiser comprar a firma."
ESTOQUES DE MATÉRIA-PRIMA SEGURAM A BARRA
"Peguei um camelô em frente ao Mappin, no centro de São Paulo,
e fiquei vendendo o giz, tentando convencer as pessoas, que não conseguiam
entender direito do que se tratava. O resultado não foi muito bom, mas
eu costumo pensar grande. Mandei fazer 50 mil caixas do giz e consegui com um
amigo uma carga de parafina importada - ele tinha tentado em vão vender
velas de primeira qualidade no Brasil. Só que eram 60 toneladas, depositadas
na calçada, dando-me um trabalhão danado para poder conseguir espaço
para estocar.
Mas foi isso o que me salvou. Quando meu depoimento saiu na Globo e no SBT, foi
uma explosão: desde o primeiro dia da UD, tinha fila no estande para comprar
o giz. Vi que as 50 mil caixas davam apenas para começar e convoquei todos
os funcionários da House Cleaning e seus parentes para produzir mais. Uma
máquina alemã de rotulagem acabou queimando de tanto funcionar.
Resultado: acabei vendendo tudo e consegui até quitar um apartamento que
tinha deixado de pagar. Para equilibrar as finanças, contei, também,
com a consultoria do SEBRAE/SP.
Acho que o sucesso tem a ver com a necessidade do mercado brasileiro, que precisa
de produtos baratos, não tóxicos e eficientes nessa área.
Um inseticida comum precisa ser aplicado diariamente para fazer efeito, enquanto
o giz, por exemplo, tem um efeito residual de meio ano. Hoje, tenho pedidos de
atacadistas na base de 1 milhão de caixas, mas preciso tirar nosso telefone
da bula, colocar código de barras e mudar a embalagem, pois, em muitos
lugares, estão roubando o giz e deixando a caixa vazia.
Estou preparando-me para atender a demanda. Já nos instalamos em Guarulhos,
num galpão de 480 metros quadrados, e temos, também, um terreno
de 2 mil metros quadrados. Estamos investindo em máquinas e estudando propostas
de exportar e fazer parcerias, pois, em países como o Chile, existe muito
interesse. E estamo-nos instalando em Miami, o que vai significar uma série
de vantagens a longo prazo, como entrar na pauta de investimentos para pesquisa
previstos pela legislação americana."
BUSQUEI IDÉIAS NA CHINA -
"O cliente exige, e a gente precisa correr o mundo para atendê-lo.
Só que é muito difícil. Eu sabia que, nos Estados Unidos,
existia um repelente para pombos, mas era feito especialmente para o clima frio.
Para conseguir adaptá-lo, precisei ir até lá, convencer as
pessoas de que precisava primeiro uma pequena quantidade de matéria-prima
para os testes iniciais e mobilizar os conhecimentos técnicos para chegar
a algum resultado.
Encomendei testes na Alemanha a US$ 5 mil cada um, mas, para importar qualquer
coisa, precisava fundar uma indústria, pois a House Cleaning é apenas
prestadora de serviços. E como enfrentar os custos no exterior, se lá
fora nem aceitavam apartamento como garantia? Felizmente, todo esse esforço
inicial para produzir o repelente acabou servindo-me também para a tinta
protetora.
Com o giz, o trabalho também foi brutal. Soube que existia um similar na
China. Enviei um emissário para lá que me trouxe o produto. Nós
estudamos, mas era muito precário, pois é de calcário e com
alta dose de DDT, o que o torna muito perigoso. O segredo era conseguir colocar
a dosagem certa do princípio ativo dentro da parte sólida, uma solução
inédita em todo o mundo, que faz do nosso giz um produto original único.
Vendi a participação em alguns imóveis, meu carro, o carro
da esposa e deixei de fazer vários investimentos, mas acabei conseguindo."
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