Uma Nova Percepção da Riqueza
Dentro de uma fábrica, parece não existir espaço para palavras
abstratas como criatividade, cultura, felicidade. Muita gente ainda imagina indústrias
cheias de fuligem, com operários trabalhando mecanicamente, sob ordens
de líderes exploradores e cruéis. Mas esse tipo de idéia
tende a desaparecer. Waldemir Bornholdt, da Metalúrgica Knif Ltda.,
situada em Diadema, São Paulo, por exemplo, lida com novos conceitos de
percepção humana para poder produzir cada vez mais e melhor.
Ele descobriu o peso das causas subjetivas na rotina de uma indústria,
quando foi obrigado a mudar para sobreviver. Por isso, reconhece: "Se não
faço uma manutenção preventiva das máquinas, aparentemente
economizo dinheiro, mas estou perdendo a médio prazo". Ele aprendeu
outras coisas, como aumentar a produção com número reduzido
de funcionários, em troca de melhores condições de vida,
como salários, benefícios, novas responsabilidades.
Assim, imaginação e realização pessoal convivem com
arruelas, calços, abraçadeiras e vários outros tipos de peça
para a indústria automobilística. Fundada em 1965, a Knif conta
com a participação de Waldemir desde 1977 e hoje está lutando
para conquistar o credenciamento de qualidade internacional ISO-9000. Todos os
48 funcionários estão engajados para passar no teste promovido pela
Autolatina, que deverá reduzir drasticamente os seus fornecedores a partir
de 1995.
É por isso que o planejamento passou a fazer parte da rotina desse empresário
inquieto, também diretor da Stahlbau do Brasil, empresa especializada em
torres para telefonia celular. No depoimento a seguir, ele explica como conseguiu
passar de uma produção de 2,5 milhões para 9 milhões
de peças por mês, gastando apenas 70% de imaginação
e 30% de investimento.
OS INCOMPETENTES SÃO MESQUINHOS
"A qualidade de uma empresa são as pessoas. Ela sai da inércia
quando os funcionários enfrentam um desafio permanente de superação
profissional. Hoje, o operador não fica limitado, vendo a máquina
cuspindo a peça. Ele raciocina, tira suas dúvidas, cuida da produção,
é responsável pelo resultado. Ele pode dizer 'não vou
fazer isso, pois existe um defeito', participando, assim, ativamente do processo.
Existiam, antes da mudança, quatro categorias internas de produção:
o operador, o inspetor volante, o colocador de ferramentas e o selecionador de
peças. Todos foram reduzidos a apenas um nível, e o nosso operador
passou a ser multifuncional. Não se dava muito valor à educação
das pessoas. Descobri, hoje, que muitos operários aparentemente desqualificados
podiam surpreender, revelando-se eficientes em novas funções. Investimos
nas pessoas, treinando-as, nivelando para cima os salários, dando cesta
básica, vale-transporte, assistência médica, entre outros
benefícios.
Num ambiente de trabalho, quando se fixam metas, lançando desafios e exigindo
auto-análise de cada um, pouco espaço resta para a mesquinharia,
que é o refúgio dos incompetentes. A partir do momento em que o
sujeito diz 'eu posso, consegui, fiz, melhorei', ele sente sua importância
na empresa e chega em casa orgulhoso. Costumamos perguntar aos funcionários
o que queremos da vida, qual nosso objetivo. Será que meu trabalho me satisfaz
profissionalmente e gera os recursos necessários para sustentar a família?
Foi assim que evoluímos como pessoas e como empresa."
A URGÊNCIA DA QUALIDADE
"Como investimos muito numa nova mentalidade, todos aqui dentro evoluíram
para a idéia de a Knif tornar-se uma grande empresa. Ninguém mais
suportava o tamanho das instalações físicas, por isso, resolvemos
mudar para um prédio maior. Da maneira que nos organizamos, nem será
necessário aumentar a estrutura administrativa; apenas o número
de operadores. Nossa informatização vai até o chão
da fábrica, o que aumenta muito a nossa produtividade.
Temos o vício de comparar-nos a um mercado muito atrasado. Devemos inverter
esse conceito e colocar-nos como uma empresa de ponta. Isso somente se consegue
com comprometimentos interno e externo. Cada um deve pensar em si próprio
como uma empresa, que precisa trabalhar direito para ir adiante. E todos os funcionários
devem tratar-se como clientes e patrões ao mesmo tempo.
Precisamos saber o que os outros esperam de nós e atender as suas necessidades.
Nessa mudança de instalações, por exemplo, devo ouvir a opinião
dos clientes para acertar desde o início. Devemos antecipar-nos e não
permitir a manifestação das contradições mais tarde,
pois as técnicas de qualquer negócio são ilimitadas. Sempre
temos muita coisa a aprender.
É fundamental cuidar da qualidade, pois não há mais tempo
a perder. O mercado é muito veloz e, com a concorrência estrangeira,
nunca chegaremos a um ponto ideal. Aquele que resolver parar de investir em melhoras
não terá muito tempo de vida como empresário. O dinheiro
nos dias de hoje não corre fácil como antigamente, pois a margem
de lucro é menor e está baseada na eficiência. Neste ano,
tivemos que conceder desconto nos preços de peças para as montadoras.
Pretendemos comprar máquinas modernas através de financiamentos,
orientados pelo SEBRAE-SP, que também nos ajudou em um trabalho de produtividade
ministrado pela Andersen Consulting. É importante investir em qualidade
e não apenas ficar sentado em cima da riqueza. A felicidade de uma nação
está em partilhar os frutos com todos e não concentrá-los
em uma minoria privilegiada."
QUEM NÃO PLANEJA ATRAPALHA
"Não é só o operário que precisa mudar. O empresário
também deve abandonar hábitos antigos, como ocupar-se com serviços
de segunda importância. É muito comum o empresário, na véspera
de uma importante viagem de negócios, envolver-se até o pescoço
com atividades menores, em vez de delegar e preparar-se. É uma maneira
equivocada de sentir-se importante e útil. No fundo, ele está fugindo
de sua verdadeira função.
Quando vem a hora de uma reunião, ele está todo atrapalhado, chega
correndo, querendo transmitir a idéia de pessoa muito ocupada. Não
chega com boa aparência, descansado, para transmitir paz e confiança
ao cliente. Caso a reunião sirva para fechar um contrato importante, ou
tratar de um ato decisivo, sua imagem pode repercutir negativamente. Esse é
um comportamento ultrapassado, que nem foi percebido por muitos empresários.
Eu mesmo, antigamente, cuidava das compras, mas descobri que essa atitude estava
atrapalhando os negócios.
Costumávamos dar muitas desculpas para não progredir, devido à
situação do Brasil, preferindo aguardar para ver como ficaria. Acabamos,
de fato, regredindo. E, quando percebemos que estávamos perdendo, resolvemos
ir para a frente a qualquer custo, porque a questão, hoje, é sobreviver."
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