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« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 72 (22/08/1993)

Uma Nova Percepção da Riqueza

Dentro de uma fábrica, parece não existir espaço para palavras abstratas como criatividade, cultura, felicidade. Muita gente ainda imagina indústrias cheias de fuligem, com operários trabalhando mecanicamente, sob ordens de líderes exploradores e cruéis. Mas esse tipo de idéia tende a desaparecer. Waldemir Bornholdt, da Metalúrgica Knif Ltda., situada em Diadema, São Paulo, por exemplo, lida com novos conceitos de percepção humana para poder produzir cada vez mais e melhor.
Ele descobriu o peso das causas subjetivas na rotina de uma indústria, quando foi obrigado a mudar para sobreviver. Por isso, reconhece: "Se não faço uma manutenção preventiva das máquinas, aparentemente economizo dinheiro, mas estou perdendo a médio prazo". Ele aprendeu outras coisas, como aumentar a produção com número reduzido de funcionários, em troca de melhores condições de vida, como salários, benefícios, novas responsabilidades.
Assim, imaginação e realização pessoal convivem com arruelas, calços, abraçadeiras e vários outros tipos de peça para a indústria automobilística. Fundada em 1965, a Knif conta com a participação de Waldemir desde 1977 e hoje está lutando para conquistar o credenciamento de qualidade internacional ISO-9000. Todos os 48 funcionários estão engajados para passar no teste promovido pela Autolatina, que deverá reduzir drasticamente os seus fornecedores a partir de 1995.
É por isso que o planejamento passou a fazer parte da rotina desse empresário inquieto, também diretor da Stahlbau do Brasil, empresa especializada em torres para telefonia celular. No depoimento a seguir, ele explica como conseguiu passar de uma produção de 2,5 milhões para 9 milhões de peças por mês, gastando apenas 70% de imaginação e 30% de investimento.

OS INCOMPETENTES SÃO MESQUINHOS

"A qualidade de uma empresa são as pessoas. Ela sai da inércia quando os funcionários enfrentam um desafio permanente de superação profissional. Hoje, o operador não fica limitado, vendo a máquina cuspindo a peça. Ele raciocina, tira suas dúvidas, cuida da produção, é responsável pelo resultado. Ele pode dizer 'não vou fazer isso, pois existe um defeito', participando, assim, ativamente do processo.
Existiam, antes da mudança, quatro categorias internas de produção: o operador, o inspetor volante, o colocador de ferramentas e o selecionador de peças. Todos foram reduzidos a apenas um nível, e o nosso operador passou a ser multifuncional. Não se dava muito valor à educação das pessoas. Descobri, hoje, que muitos operários aparentemente desqualificados podiam surpreender, revelando-se eficientes em novas funções. Investimos nas pessoas, treinando-as, nivelando para cima os salários, dando cesta básica, vale-transporte, assistência médica, entre outros benefícios.
Num ambiente de trabalho, quando se fixam metas, lançando desafios e exigindo auto-análise de cada um, pouco espaço resta para a mesquinharia, que é o refúgio dos incompetentes. A partir do momento em que o sujeito diz 'eu posso, consegui, fiz, melhorei', ele sente sua importância na empresa e chega em casa orgulhoso. Costumamos perguntar aos funcionários o que queremos da vida, qual nosso objetivo. Será que meu trabalho me satisfaz profissionalmente e gera os recursos necessários para sustentar a família? Foi assim que evoluímos como pessoas e como empresa."

A URGÊNCIA DA QUALIDADE
"Como investimos muito numa nova mentalidade, todos aqui dentro evoluíram para a idéia de a Knif tornar-se uma grande empresa. Ninguém mais suportava o tamanho das instalações físicas, por isso, resolvemos mudar para um prédio maior. Da maneira que nos organizamos, nem será necessário aumentar a estrutura administrativa; apenas o número de operadores. Nossa informatização vai até o chão da fábrica, o que aumenta muito a nossa produtividade.
Temos o vício de comparar-nos a um mercado muito atrasado. Devemos inverter esse conceito e colocar-nos como uma empresa de ponta. Isso somente se consegue com comprometimentos interno e externo. Cada um deve pensar em si próprio como uma empresa, que precisa trabalhar direito para ir adiante. E todos os funcionários devem tratar-se como clientes e patrões ao mesmo tempo.
Precisamos saber o que os outros esperam de nós e atender as suas necessidades. Nessa mudança de instalações, por exemplo, devo ouvir a opinião dos clientes para acertar desde o início. Devemos antecipar-nos e não permitir a manifestação das contradições mais tarde, pois as técnicas de qualquer negócio são ilimitadas. Sempre temos muita coisa a aprender.
É fundamental cuidar da qualidade, pois não há mais tempo a perder. O mercado é muito veloz e, com a concorrência estrangeira, nunca chegaremos a um ponto ideal. Aquele que resolver parar de investir em melhoras não terá muito tempo de vida como empresário. O dinheiro nos dias de hoje não corre fácil como antigamente, pois a margem de lucro é menor e está baseada na eficiência. Neste ano, tivemos que conceder desconto nos preços de peças para as montadoras.
Pretendemos comprar máquinas modernas através de financiamentos, orientados pelo SEBRAE-SP, que também nos ajudou em um trabalho de produtividade ministrado pela Andersen Consulting. É importante investir em qualidade e não apenas ficar sentado em cima da riqueza. A felicidade de uma nação está em partilhar os frutos com todos e não concentrá-los em uma minoria privilegiada."

QUEM NÃO PLANEJA ATRAPALHA
"Não é só o operário que precisa mudar. O empresário também deve abandonar hábitos antigos, como ocupar-se com serviços de segunda importância. É muito comum o empresário, na véspera de uma importante viagem de negócios, envolver-se até o pescoço com atividades menores, em vez de delegar e preparar-se. É uma maneira equivocada de sentir-se importante e útil. No fundo, ele está fugindo de sua verdadeira função.
Quando vem a hora de uma reunião, ele está todo atrapalhado, chega correndo, querendo transmitir a idéia de pessoa muito ocupada. Não chega com boa aparência, descansado, para transmitir paz e confiança ao cliente. Caso a reunião sirva para fechar um contrato importante, ou tratar de um ato decisivo, sua imagem pode repercutir negativamente. Esse é um comportamento ultrapassado, que nem foi percebido por muitos empresários. Eu mesmo, antigamente, cuidava das compras, mas descobri que essa atitude estava atrapalhando os negócios.
Costumávamos dar muitas desculpas para não progredir, devido à situação do Brasil, preferindo aguardar para ver como ficaria. Acabamos, de fato, regredindo. E, quando percebemos que estávamos perdendo, resolvemos ir para a frente a qualquer custo, porque a questão, hoje, é sobreviver."


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