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« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 89 (19/12/1993)

Banho de Sol no Consumo de Energia

O barulho característico do entardecer no Brasil não é o som dos pássaros, mas o chiado de milhões de chuveiros elétricos. Para aquecer, no horário do pico, entre 18 e 21 horas, a água do banho com energia elétrica - mais uma contribuição exclusiva da nossa cultura perdulária -, é preciso da capacidade total de uma usina de Itaipu. O cálculo é de Augustin T. Woelz, da Sociedade do Sol - www.sociedadedosol.org.br - especializada em energia solar. Seu sonho é evitar esse gigantesco desperdício, colocando em cada casa um aparelho que, a partir do Sol, faça o pré-aquecimento da água. Para que isso aconteça, ele encara sua empresa como um laboratório, em busca de barateamento dos aparelhos específicos, que possam funcionar em parceria com os tradicionais chuveiros. Atualmente, ele está desenvolvendo um novo projeto, na linha popular, com um mercado estimado em 20 milhões de casas. "Seria preciso umas dez fábricas, com produção de 20 mil aquecedores por mês cada uma, para dar conta da demanda", diz, entusiasmado. Mas, por enquanto, Augustin enfrenta desafios básicos para atingir seus objetivos. Está incrementando sua agressiva estratégia de marketing para aumentar o faturamento e conseguir um financiamento que viabilize os novos projetos. Atende grandes clientes, como hospitais e hotéis, mas sente falta do mercado residencial, pois, no Brasil, esse tipo de investimento é encarado como custo. Em sua opinião, existe por aqui uma falsa visão de que a energia elétrica é barata e amplamente disponível. Esse tipo de equívoco não atinge apenas o cidadão comum mas, principalmente, muitos industriais, que se acomodaram à energia das hidrelétricas. No depoimento a seguir, Augustin fala da importância do Sol e do vento para evitar o possível blecaute e a poluição ambiental.

PARA PODER SER GRANDES, ENXERGAMOS LONGE
"Nossa empresa é um laboratório para desenvolver produtos que possam colaborar na redução do desperdício nacional de energia elétrica. Apesar de sermos pequenos, temos uma visão macro. Queremos desenvolver um produto para ser vendido para o mais pobre, que um dia possa ter um aquecedor solar barato em casa, que se pague em um ano. E que o próprio usuário possa instalar e manusear. Hoje, deve existir 25 milhões de chuveiros elétricos funcionando no País, que é o único no mundo em que se gasta energia elétrica para aquecer o banho. Lá fora, existe consciência de que isso é um crime, pois o custo ambiental das termelétricas - predominantes no exterior - é muito grande e qualquer excesso implica aumento de gás carbônico na atmosfera. Conseqüentemente, o agravamento do efeito estufa, que será letal para a vida no Planeta. Aqui temos a vantagem de 95% da energia vir das hidrelétricas. Quando as últimas usinas estiverem terminadas, partiremos para as termelétricas, mas isso não é uma boa solução. O ideal seriam usinas eólicas, como as existentes na Califórnia, na Austrália e em alguns países da Europa. Além de sol, temos vento de sobra e somos considerados internacionalmente um país de grande potencial para essas energias renováveis. Precisamos, portanto, suplementar as usinas tradicionais com novas soluções, e é isso que estamos buscando nos nossos estudos. Só que a nossa mentalidade deve mudar. Poucos querem investir em aquecedor solar, apesar de ser uma poupança incrível."

E COMO SOBREVIVER QUANDO NINGUÉM COMPRA?
"Fundamos a Sunpower, em abril de 1991. Eu era funcionário de uma firma especializada em antenas e sempre quis trabalhar com algo ligado à área ecológica. Por coincidência, encontrei um sócio que tinha cinco anos de experiência européia em energia solar. Hoje, temos dezoito funcionários, fabricamos aquecedores solares e desenvolvemos e instalamos grandes projetos, pois esse é o caminho para viabilizarmos a empresa. Atendemos, por exemplo, dois grandes prédios no Morumbi, que aquecem 7,6 mil litros de água por dia, e um hospital, com 10 mil litros por dia. O mercado de residência é limitado, apesar de o custo da instalação de aquecedores solares no Brasil ser seis vezes menor do que na Europa. Aqui, um sistema para esquentar 300 litros de água custa US$ 1,3 mil; lá, não fica menos do que US$ 8 mil. Como os técnicos têm problemas para instalar esses aquecedores, que possuem alguns segredos simples, temos de cuidar disso também. E existe a possibilidade de darmos treinamento para o encanador ou o dono da casa. Nosso desafio tem sido sobreviver num mercado que compra pouco. Não existe entre nós a preocupação de economia a longo prazo, uma idéia normal em outros países. Fazemos produtos para durar vinte anos e estamos procurando disseminar esse enfoque de planejamento. Ao mesmo tempo, submetemo-nos a testes rigorosos de qualidade na Universidade Federal de Minas Gerais. Acreditamos que somos a primeira empresa a enviar um coletor solar para lá. Não passamos nos primeiros testes, fizemos os ajustes necessários e hoje estamos aprovados. Temos a coragem de nos expor."

ESTOU ARRISCANDO OS BENS DA FAMÍLIA
"Meu sócio, que cuida das vendas, instalou-se em Mato Grosso, junto com a família. Eu continuo trabalhando o mercado paulista, especialmente o Vale do Paraíba, que está bastante difícil. Sou engenheiro eletrônico e trabalhei sempre na área de comunicação, vendas e treinamento para funcionários. Resolvi montar esse negócio para poder fazer aqui o que não conseguia realizar nos meus empregos. Por isso, arrisquei aqui nosso patrimônio, mas acredito no sucesso, já que a energia solar é irreversível. O esforço de divulgar essa tecnologia e de atingirmos objetivos que beneficiem o País está sendo feito junto com outras empresas do segmento, que, agora, começam a se unir. Na ECO-92, graças à ajuda do SEBRAE/SP, fomos os representantes do Estado de São Paulo no assunto energia. A verdade é que precisamos de ajuda do governo. Na Europa, os governos financiam a instalação de aquecedores e cobrem até 50% dos custos. Aqui, as estatais estão procurando alternativas, só que não se decidiram pela energia solar. Todo o sistema elétrico está voltado para os momentos de pico de consumo. Com o aquecedor solar, poderemos chegar a uma redução de 20% da capacidade instalada. Outra saída é a energia eólica, que está crescendo nos Estados Unidos. O presidente Bill Clinton está retomando os investimentos nas energias renováveis, que tinham sido abandonados. Enquanto aqui um quilowatt numa hidrelétrica sai por US$ 1,2 mil, o custo da energia gerada pelos cata-ventos é de US$ 1,3 mil. Já dá, portanto, para pensar num sistema nacional com essa tecnologia."


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