Metalurgia é Fonte de Novos Negócios
Quando o consumo
da carne entra em recesso, o que faz a pequena empresa que fabrica equipamentos
para açougues? Primeiro, avalia o comportamento do mercado. Pão,
por exemplo, é alimento mais barato e tem consumo garantido. Padaria,
portanto, é alternativa de negócio que sofre menos a crise do
que outros setores. Por que não desenvolver equipamentos específicos
para esse ramo tão dinâmico? Mas existe um problema: como competir
com fabricantes tradicionais, há tempos estabelecidos em decanas rodas
de negócio?
A saída é partir para a industrialização de máquinas
mais adequadas aos novos tempos. Foi o que fizeram os sócios da Metalúrgica
Becaro Ltda., de Rio Claro - telefone (19) 3534-1600. Sérgio Antônio
Becaro, de 42 anos, e José Aldo Nevoeiro Demarchi, de 24, continuam
fabricando oito tipos de equipamento para açougues, mas já acrescentaram
à linha de produção mais seis para padarias - incluindo
um revolucionário forno para estabelecimentos de pequeno porte -, outro
para indústrias de suco de laranja e dez tipos de roda para veículos
agrícolas.
São, ao todo, 25 itens, produzidos por uma empresa que tinha cem funcionários
antes da tempestade - o Plano Collor - e agora conta com 42. Instalada
numa área de 3 mil metros quadrados, com um barracão alugado,
a firma possui uma fundição que está desativada desde 1990.
As dificuldades e as perspectivas da Becaro são expostas pelos dois empresários
no depoimento a seguir.
A MESMA QUALIDADE DOS GRANDES
"A firma existe desde maio de 1977, tendo começado como uma pequena
serralharia, que fabricava portas e janelas de ferro. A partir de 1984, ela
foi entrando na atividade de peças e ferramentas para açougues
e desenvolvendo-se nesse setor de máquinas para preparação
de carne. No final de 1992, entramos no ramo de padaria e conseguimos importar
uma tecnologia para fabricação de fornos, mas não ficamos
nisso, pois precisávamos desenvolver outros equipamentos para que a oferta
nesse setor ficasse completa.
Os fornos tradicionais, a gás, a lenha ou a eletricidade consomem altas
quantidades de energia, enquanto o nosso é supereconômico e viabiliza
a montagem de novos empreendimentos com pouco investimento. Mas serve, também,
como auxiliar para as padarias tradicionais, que, com a ajuda do nosso forno,
podem oferecer pão quentinho fora dos picos de venda. É uma linha
extremamente moderna, feita com aço inox, que compete com qualidade com
os maiores fabricantes do País.
Continuamos com nossa marca firmada de ponta a ponta no País, comercializando
nossa linha de açougue, mas, no ramo de padaria, ainda precisamos desenvolver
mais nosso marketing. Outro tipo de máquina fabricada por nós,
o extrator industrial de sucos, já é mais voltado para o mercado
externo. Esse é um nicho muito próspero e pretendemos ampliá-lo,
não só para os Estados Unidos mas também para os países
do Mercosul."
GOVERNO ATRAPALHA O EMPRESÁRIO
"Na época da serralharia, os problemas eram pequenos. No momento
em que começamos a crescer, quando entramos na linha de peças
e de máquinas, que exige um investimento maior, tivemos problemas de
capital de giro. Conseguimos resolver isso ao longo dos anos 80, mas, quando
o Collor assumiu, a indústria virou de ponta-cabeça. O que atrapalha
a economia é o governo.
Coloquem isso bem grandão, se é que vocês vão publicar
alguma coisa. O governo não deixa os micros e pequenos empresários
trabalhar. Mesmo com a inflação chegando aos 40%, o mercado já
começava a se ajustar. Com a URV, começou um desajuste total.
No nosso caso, por exemplo, que é uma pequena empresa, a gente está
na mão de grandes empresas fornecedoras de aço. Somos obrigados
a comprar de revendedores, pois nossa demanda não permite ter cota direto
da usina. O revendedor, então, dita o preço, e ficamos completamente
vulneráveis.
Nessa virada do cruzeiro real para a URV, sofremos um aumento do motor elétrico
na base de 10% reais, em dólar. Já fechamos o preço nos
Estados Unidos, e o nosso motor representa uns 60% do valor da máquina.
Não posso negociar, chorar para meu cliente lá fora, pois, para
ele, inflação não existe. Tudo isso ajuda a destruir os
empresários de micro, médio e pequeno portes."
JOGO DE CINTURA DEPOIS DO VENDAVAL
"Chamamos um consultor do SEBRAE/SP para cuidar do marketing, mas ele sugeriu
que começássemos com uma consultoria sobre custos. Existem, por
exemplo, uns cem itens numa máquina. O custo disso para uma pequena empresa
é muito complicado. Um especialista no assunto detecta uma porção
de erros que você comete numa planilha. Então, você fica
mais tranqüilo com o resultado final. E todos os pequenos precisam de tranqüilidade.
Precisamos concentrar-nos na produção e ficar esquentando a cabeça
com a economia.
O importante é que o pessoal do SEBRAE/SP não esconde nada e indica
caminhos. As mudanças têm que partir da gente. O recado mais importante
é que é preciso reciclar os produtos, pois, com um mercado aberto,
existe concorrência mundial. A concorrência obriga a modernizar
o produto, a mudar os componentes, a trocar os materiais. O ferro fundido, por
exemplo, era uma matéria-prima muito barata, mas ficou cara, então,
trocamos por aço. Estamos utilizando também plástico injetado,
que é uma coisa que está abrindo um campo imenso.
Você é obrigado a fazer isso, tendo ou não capital. É
preciso fazer novos ferrametais, investir em mão-de-obra qualificada,
para tornar seus produtos mais competitivos, sem perder a qualidade. Temos,
inclusive, alguns projetos na gaveta, com grande potencial de vendas e, em conseqüência,
de geração de empregos. É preciso abrir novas linhas de
crédito para os pequenos empresários, uma receita específica
para o desenvolvimento de projetos sérios."
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