O Pioneiro Autodidata está em Forma
Ewaldo
Matte é um autodidata em eletrônica que lançou um audiômetro
totalmente informatizado. Toda a arquitetura do aparelho para fazer teste auditivo,
especialmente em funcionários de indústrias com alto grau de ruído,
foi desenvolvida por ele, e o invento é comercializado através
da sua empresa, a Micro Acoustics Equipamentos Eletrônicos Ltda. -
tel.: (0123) 51-3408 -, localizada em Jacareí. Sinal de que continua
em forma, depois de aposentar-se e de ter em seu currículo alguns feitos
heróicos na história da eletrônica no Brasil.
Em 1954, por exemplo, ele implantou em Serra Negra, interior de São Paulo,
o primeiro sistema de televisão a cabo do Brasil e um dos primeiros do
mundo. A partir de literatura que explicava a instalação de antenas
coletivas para prédios, ele bolou um esquema para deflagrar o processo
na horizontal. Sua idéia foi também testada com sucesso em outras
cidades, como Campinas, onde chegou a ter 28 quilômetros de fios e seiscentas
assinaturas.
Outro feito foi ter mantido em Porto Alegre, de 1960 a 1967, a fábrica
de televisores Albany, que colocou no mercado milhares de unidades, utilizando
componentes e acessórios de primeira linha, importados e mesmo desenvolvidos
por ele. Emocionado ao resgatar essas memórias, Ewaldo é também
um entusiasta da sua atual invenção, que é sem similar
no mercado, já que todos os outros audiômetros da praça
são manuais. No depoimento a seguir, ele fala sobre essa capacidade de
gerar negócios através do conhecimento técnico e da ousadia
dos verdadeiros pioneiros.
MAIS AGILIDADE NOS EXAMES -
"O audiômetro emite
um som numa intensidade predeterminada, e essa intensidade é diminuída
até que o paciente não ouça mais. Anota-se, então,
o último nível de som que ele ouviu. Aí, passa-se para
outra freqüência, para outra nota e faz-se o mesmo exame. Assim,
tem-se que fazer pelo menos quatro freqüências em cada ouvido. Compara-se,
então, esses dados com a chamada Tabela de Fowler e, dali, tiram-se quatro
índices, que são somados, dando a perda de cada um dos ouvidos.
É preciso fazer uma série de cálculos manuais a partir
dos resultados, e o operador tem que anotar cada resultado, permitindo uma margem
grande de erro em toda a operação, já que este é
um exame repetitivo, monótono, cansativo. Esse exame é obrigatório
para empresas em que existe um nível de ruído relativamente alto
- elas precisam fazer essa checagem periodicamente, por pressão
do próprio Ministério do Trabalho.
Quando saí do meu último emprego - a Schrader Bellows, instalada
aqui, em Jacareí -, um empresário pediu-me para desenvolver
um audiômetro. Para evitar a chateação dos cálculos,
desenvolvi um microcomputador, que é inserido dentro do próprio
aparelho, que faz tudo automaticamente e entrega o resultado já numa
listagem de impressora. Ficou bastante simples de manusear. Cuidei pessoalmente
da calibragem final da montagem dos aparelhos, mas não estava satisfeito
com a montagem feita pela fábrica-cliente.
A firma que me tinha encomendado o projeto faliu, mas eu continuava recebendo
telefonemas, pois cuidava da manutenção do aparelho. Resolvi,
então, partir para a fabricação. Grandes empresas que tinham
o nosso aparelho recomendavam para outros clientes, e assim fomos fazendo uma
série de conquistas no mercado. Temos na nossa lista de clientes firmas
como Volkswagen, Nestlé, Latasa e Aços Villares. O SEBRAE/SP tem-nos
ajudado muito, tirando qualquer dúvida que a gente tenha. Somos muito
bem atendidos."
MINHA ESTRELA BRILHOU
"Nos anos 50, eu era professor de uma escola industrial do Estado, a Getúlio
Vargas, e tinha vindo para São Paulo pensando em trabalhar com televisão,
que estava começando na época. Comprei muitos livros sobre o assunto,
especialmente literatura sobre antenas coletivas para prédios de apartamentos.
Eu não pensava em importar, mas em fabricar aqui mesmo. Comecei a fazer
experiências e sensibilizei um grande empresário, dono do Grande
Hotel de Serra Negra, para um novo projeto.
Foi marcada uma reunião na biblioteca da cidade, e conseguimos as primeiras
adesões. O próprio empresário contatado acabou financiando
a maior parte desse sistema de antena coletiva para cidades, que era inédito
no mundo e ainda estava sendo testado nos Estados Unidos. Funcionava com uma
torre de 25 metros que captava o sinal dos canais da época - a Tupi,
o Canal 5 e mais tarde a Record - e repassava para o cabo coaxial pelos
postes. Diziam que a imagem era mais perfeita do que em São Paulo, pois
não tinha fantasmas nem ruído de carros.
Fiz um contrato de montagem e manutenção com aquele grupo de pessoas,
que conseguiu licença da prefeitura, mas não tive participação
comercial nenhuma. E fui convidado para fazer o mesmo em Termas de Lindóia
e em Campinas e, nessa cidade, fiz parte da sociedade. Mas faltou visão
do empresariado, pois as pessoas acabaram desistindo do sistema e me deram um
prazo de um mês para opção de compra. Eu não tinha
o dinheiro necessário.
Cheguei a falar com o Adhemar de Barros, que se entusiasmou pela idéia.
Sugeri implantar o sistema em cadeia, de cidade em cidade, retransmitindo o
sinal por microondas. Pensei também em instalar emissoras de televisão
próprias nessas cidades e também colocar, nos canais que ficavam
sem uso, faixas musicais específicas, que funcionariam como estações
de rádio. Mas, infelizmente, o negócio não foi adiante."
A PETULÂNCIA DA GARANTIA
"Nos anos 60, trabalhei em Porto Alegre, na Companhia de Energia Elétrica
do Estado, a CEEE, e, paralelamente, comecei a fabricar televisão. Tinha
trabalhado muito em manutenção de televisores e selecionei os
pontos fortes de cada marca e montei a Albany. Foi o primeiro aparelho de TV
que teve a petulância de dar três anos de garantia. Seguramente,
ele tinha a melhor imagem e agradou muito os consumidores."
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