Não Coloque o Lixo Industrial no Lixo
É fácil
fazer marketing ecológico e jurar, publicamente, que o meio ambiente
nunca foi tão respeitado. Mas, no fundo, a cadeia produtiva é
carente de novas soluções para velhos problemas e ainda precisa
investir muito para definir uma estratégia de não agressão
aos recursos e às paisagens naturais.
Muitos empresários bem que gostariam de colaborar, efetivamente, para
a despoluição não só por motivos éticos mas,
principalmente, práticos. O que se joga fora ocupa espaço e leva
embora muita matéria-prima que poderia ser reaproveitada. Fala-se constantemente
em reciclagem de materiais, mas ocorre que ainda estamos no início de
um trabalho que demanda ousadia e paciência. E que nem sempre custa uma
exorbitância.
De olho nessa enorme defasagem que existe no mercado, quatro profissionais uniram-se
para fazer da Apliquim Equipamentos e Produtos Químicos Ltda., de
São Paulo - www.apliquim.com.br -, uma empresa especializada em
criar, desenvolver e aplicar soluções para os resíduos
industriais. São eles: Cyro Eyer do Valle e Wade Drummond Junior,
sócios desde 1988, e os fundadores Adolfo José Cattaneo e Norberto
Gaviolle. No depoimento a seguir, Cyro fala sobre a evolução da
Apliquim, fundada em 1985 e que, neste ano, recebeu o Prêmio Eco, instituído
pela Câmara Americana de Comércio, por seu trabalho de descontaminação
de lâmpadas usadas.
UMA SOLUÇÃO PARA A LAMA TÓXICA
"Norberto e Adolfo tinham um pequeno escritório de engenharia consultiva,
onde desenvolviam soluções e faziam projetos. O Adolfo, que é
químico, criou um processo para tratar os resíduos sólidos
gerados pela Carbocloro, instalada em Cubatão. Esse foi um trabalho que
complementava um projeto seu, feito na década de 70 para a mesma empresa,
para resolver o problema dos efluentes líquidos. Ele fez com que a água
contaminada fosse tratada para ser lançada adequadamente no rio -
que é a solução utilizada para o Tietê, hoje.
Só que o tratamento de um efluente líquido gera uma lama em que
estão concentrados os produtos tóxicos que foram retidos. A Carbocloro
vinha acumulando milhares de toneladas desse lodo contaminado. Foi criada, então,
a Apliquim, para tratar os resíduos sólidos gerados por esse cliente.
As coisas começaram a tomar vulto, porque era um processo de desenvolvimento
próprio que requeria equipamentos fora de série.
Começamos a fabricar esses equipamentos numa pequena oficina que hoje
é um das nossas fábricas, situada em São Bernardo. Começamos,
inclusive, a fazer equipamentos para terceiros, não só na área
de despoluição mas também em outros setores, abrindo o
leque para peças de reposição, instalações
para transporte, para bombeamento etc. Ao mesmo tempo, a empresa começou
a construir, em Paulínia, uma instalação para processamento
de resíduos."
PILHAS, LATAS E LÂMPADAS
"Nossas soluções têm atraído a atenção
de algumas empresas do exterior. É comum valorizar a importação
de tecnologia, mas isso nem sempre se aplica entre nós. É importante
criar caminhos para as nossas condições. Os países desenvolvidos
adotam tecnologias com pequena utilização de mão-de-obra,
com o máximo de automação, graças à facilidade
de capital, o que não temos. Mas o Brasil é líder mundial
em percentual de latas recicladas, pois temos uma rede de catadores que estão
fora da economia formal.
Esse é um caminho para gerar empregos e oportunidades, dentro de um tamanho
de empresa que é compatível com nossa realidade. Temos, por exemplo,
soluções para pilhas e lâmpadas, em diferentes estágios
de receptividade no mercado. Podemos transformar uma pilha usada em produtos
absolutamente puros e reaproveitáveis pelas indústrias. Mas não
conseguimos, ainda, encontrar uma base de sustentação que custeasse
esse trabalho. O caso das lâmpadas é diferente. O grande usuário
da lâmpada é uma pessoa jurídica que está interessada
em não gerar nenhum poluente.
A região metropolitana de São Paulo consome 25% das lâmpadas
fluorescentes de todo o Brasil, e isso significa milhões de lâmpadas
que são descartadas, com uma quantidade expressiva de materiais contaminantes,
entre os quais o mercúrio. Se fizéssemos como nos países
desenvolvidos, apenas colocar o lixo industrial em minas ou em aterros, perderíamos
matérias-primas que fazem falta ao País. Conseqüentemente,
ao reciclar, eu contribuo não só para a conservação
ambiental como também para o desenvolvimento. Vendemos vidros descontaminados,
tirados de lâmpadas e termômetros, que são utilizados, por
exemplo, pela indústria de cerâmica."
ECOLOGIA PARA OS PEQUENOS - "Atuamos em três
áreas bem diversas. Continuamos como consultores, desenvolvendo processos
e fazendo projetos; fabricamos aquilo que desenvolvemos; e também somos
operadores, tratando diretamente os resíduos. Esses três elos,
apesar de trazer embaraços pelo fato de se ter que administrar posturas
diferentes numa empresa pequena, trazem benefícios, pois criamos soluções
integradas. Não somos apenas uma firma que projeta para alguém
executar.
Essa confluência de atividades faz com que a Apliquim tenha a experiência
de criar soluções realistas, pois, muitas vezes, nos confrontamos
com soluções teoricamente muito bonitas, mas que não funcionam
na prática. Mas também não temos nenhuma objeção
de prestar apenas consultoria, respeitando a vontade do cliente, que tem seus
próprios fornecedores. Às vezes, fabricamos equipamentos desenhados
por quem nos faz a encomenda.
Preenchemos o mercado naqueles campos em que são necessárias soluções
originais. Somos especializados em engenharia de soluções. Durante
a realização da Subcontrata 94, evento patrocinado pelo SEBRAE/SP,
apresentamos, por exemplo, unidades compactas baratas para o tratamento de efluentes
das pequenas galvanizadoras. Estamos falando de eliminar de seus efluentes os
metais pesados, tais como níquel, cobre, zinco etc."
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