Jeans Infantil Exige Determinação
Uma
empresa com processos arraigados e imutáveis corre o risco de sumir do
mapa. Isso já é um lugar-comum da consultoria dos anos 90, mas,
no Brasil, os hábitos obsoletos costumam persistir até a morte
do empreendimento, como se a mudança fosse uma espécie de traição
à identidade nacional. Isso acaba amarrando a cadeia produtiva, transformando-a
em refém da agressividade comercial dos outros países. A saída
para esse impasse está no choque entre a lucidez de alguns empresários
e a resistência encontrada na sua luta pela sobrevivência e pelo
crescimento. Ao forçarem a mão para definir novos rumos, eles
acabam desencadeando no mercado a necessidade de uma postura mais adequada aos
tempos difíceis da competitividade.
Desiree Balazs Vieira Costa, formada em engenharia civil, proprietária
da empresa Lolopaca Confecções Ltda. - tel.: (011) 959-4481
-, de São Paulo, que surgiu em 1992, quando ela se preparava para
montar um escritório de engenharia, decidiu-se pela área têxtil,
quando viu na empresa a possibilidade de obter um retorno significativo, a curto
prazo, que ajudaria a financiar sua volta às atividades profissionais
na construção civil.
Mas o visgo empresarial pegou Desiree de jeito, e ela acabou dedicando mais
tempo à Lolopaca do que imaginava. Virando madrugada, trabalhando duro,
cuidando de todos os detalhes, treinando funcionários, ela conseguiu,
em pouco tempo, firmar-se nesse segmento. Sua saga está no depoimento
a seguir.
MALHARIA É MAIS FÁCIL DE FAZER
"O jeans é um produto considerado muito complicado. Acho que é
o pior que tem para trabalhar. Primeiro, porque encontramos dificuldades na
mão-de-obra. Existe certa resistência. O pessoal imagina que costurar
jeans deve ser um bicho de sete cabeças. Eles preferem, por exemplo,
malharia e também estão acostumados a trabalhar com roupa para
adultos. A linha infantil é muito detalhada e exige mudanças de
processos, reestruturação periódica das equipes, contrariando,
assim, a tendência de se trabalhar com produtos básicos, em que
existem rotina e repetição.
Isso causa transtornos nas pequenas oficinas, nas quais há carência
na formação e no treinamento das pessoas. Tive que fazer um trabalho
de convencimento para poder produzir nesse nicho. Na busca da harmonia entre
a eficiência e a eficácia, precisei fazer de tudo um pouco para
poder atender os clientes com qualidade, preço e prazo, visto que os
recursos financeiros eram limitados.
Hoje, faço algumas operações aqui dentro, como desenvolvimento,
corte e acabamento das peças. Mas a parte de costura e lavanderia é
feita fora. Vamos precisar verticalizar alguns processos para poder crescer,
e estou pensando em lançar, no próximo ano, duas coleções,
uma chamada Órbita, para o público com até 10 anos de idade,
e outra, Fora de Órbita, para a meninada entre 10 e 18 anos. Preciso
diversificar mais e partir para outras idéias que estou formatando."
OU ARRISCAVA OU MORRIA
"Comecei com pouco capital, mas, logo no início, consegui cativar
um cliente importante, que vendia maciçamente na Bolívia. Para
atendê-lo, precisei arriscar bastante. Não tinha outra saída:
ou arriscava ou morria. O novo cliente fez um grande pedido e precisei desdobrar-me
para entregar no prazo, de maneira rápida e com mais qualidade do que
os concorrentes. No começo, eu tinha uma coleção básica
e alterava as coisas em cima dela. Criava detalhes, e isso gerava diferenciais
importantes.
O problema é gerenciar o custo do produto para ficar dentro do preço.
O importante é partir do preço de mercado, aquele que o consumidor
pode pagar, e adaptar todo o processo a essa realidade. Pretendo comprar mais
equipamentos, aumentar o espaço da fábrica, mas tudo isso tem
que ter uma sincronia. Financeiramente, não basta você só
aumentar a área, pois isso não vai refletir-se diretamente no
faturamento, muito pelo contrário. É fundamental evitar desperdícios
para poder sobreviver e crescer. Meus fornecedores de mão-de-obra, por
exemplo, assinam um termo de responsabilidade que me desobriga de devolver a
peça quando ela está com defeito. Eu, simplesmente, faço
o desconto equivalente. Fazemos o controle de qualidade lá na oficina
de costura e, nesse acompanhamento, podemos detectar os problemas. É
importante ter controles bem enxutos, senão fica fácil perder
a dinâmica do negócio."
É PRECISO TRABALHAR OS PONTOS FRACOS
"Quando estudei engenharia, descobri que é preciso trabalhar os
pontos fracos da gente. Naquelas matérias em que eu encontrava mais dificuldade
é que me dedicava mais e acabava saindo-me melhor. Se você quer
chegar a um equilíbrio, tem que trabalhar tudo. O conjunto só
fica satisfatório quando você tem tudo harmonizado, em todos os
aspectos.
Na engenharia, estava muito focada na especialização técnica,
mas a atividade empresarial obrigou-me a ter visões administrativas e
uma formação gerencial. É importante desenvolver qualidades,
como a persistência, a atualização, a definição
clara dos objetivos e metas, a agilidade, a harmonia interna, o aprimoramento
constante e o jogo de cintura. Com experiência e agilidade você
pode enfrentar o mercado com chances de vencer.
O fundamental é não ter medo da crise, nem ter medo de errar.
No início, fiquei espantada com o jogo bruto das relações
no mundo dos negócios e tinha vontade de sair correndo. Hoje, aprendi
a gerenciar melhor esse jogo pesado. Levei os primeiros socos e consegui levantar
e revidar com mais força. Felizmente, contei com a ajuda do SEBRAE/SP
no trabalho de aprimoramento contínuo das funções empresariais."
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