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« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 141 (18/12/1994)

Como Prosperar Traindo o Consenso

Fundada no privilégio, a cultura brasileira é radical na sua capacidade de marginalização. Isso gera uma compulsão pelo consenso, uma necessidade cega de integração, pois ficar de fora dos padrões significaria a morte social. Essa mentalidade acaba prejudicando até o comércio e a indústria.
Homens que calçam números de 44 para cima, por exemplo, sofrem uma espécie de penitência em qualquer lugar do País. As mulheres que vestem manequins entre 46 e 60 ficam expostas a idêntica tortura. Para quem não está enquadrado na categoria "normal", resta arcar com a "culpa", calçando sapatos feios e pesados ou vestindo roupas fora dos modelos e cores da moda.
Mãe desesperada por uma roupa bonita às vésperas de uma festa, por exemplo, pode ser o momento decisivo para um empresário sensível às necessidades dos consumidores. Foi o que ocorreu com André Mouhammad Apasse, proprietário da firma do mesmo nome - tel.: (011) 64-3196. Ao confeccionar um vestido para sua mãe, que fez grande sucesso entre as amigas, ele encontrou seu nicho de mercado. Hoje, só trabalha com manequim entre 46 e 60, difundindo, a partir de suas fábrica e loja situadas na rua Augusta, em São Paulo, as vantagens de um mercado abandonado, exigente e de alto poder aquisitivo. É o que ele conta no depoimento a seguir.

BELEZA NÃO TEM TAMANHO
"Sentia necessidade de trabalhar, desde os dez anos de idade. Meu pai, comerciante, orientava-me, dizendo que era preciso estudar primeiro. Cheguei a entrar na faculdade de administração do Mackenzie, mas acabei trancando a matrícula. Antes de ser empresário, trabalhava como vendedor de anúncios na lista telefônica, mas não me sentia satisfeito. Um dia fui visitar meu cunhado, que tem uma confecção de camisetas, e, quando vi as máquinas funcionando, foi despertada minha vontade de ter uma confecção.
Procurei informar-me sobre o setor de confecções e, junto com Simone, hoje minha esposa, começamos a vender para o interior do estado. Ainda vendia roupa feminina dentro dos padrões, do 38 ao 44. Depois me especializei, pois a roupa que fiz para minha mãe causou sensação por ser simples, bonita e jovial. Minha griffe saiu daqueles modelos pesados, antigos, e partiu para algo mais clean, oferecendo roupa básica, para o dia-a-dia.
O comércio especializado em manequins fora dos padrões comete alguns erros que acabam afugentando o consumidor. É importante pensar no bem-estar de quem compra, preservar sua auto-estima, respeitar suas diferenças. O tratamento diferenciado que nós damos aqui, na loja, acaba emocionando nossas clientes, que chegam aqui desamparadas pelo mercado e levam em grandes quantidades, pois a demanda reprimida é enorme."

VAREJO É O TERMÔMETRO DO ATACADO
"Esse é um mercado muito mal atendido no Brasil. Praticamente é ignorado, como se não existisse. Mas é um mercado grande, de qualquer classe social e idade. Neste ponto que criei aqui, na Augusta, vem gente de todo lugar. É importante ter uma loja junto com a fábrica, pois o varejo é o termômetro do atacado. Custei a convencer outros lojistas de que meu ponto aqui não atrapalhava os negócios deles. E mostrei as vantagens de atender esse tipo de consumidora.
Uma das minhas metas para o próximo ano é abrir mais uma loja, talvez em Moema ou na Vila Nova Conceição. Para quem é de outra cidade e sofre com a queda das vendas ou com as dificuldades naturais do ramo, tem em nossa griffe um campo extremamente gratificante para trabalhar.
Como sou vendedor há muito tempo, procuro repassar uma mentalidade diferente para quem trabalha com nossas roupas. Não precisamos de vendedores daqueles tiradores de pedidos, que trabalham para desencalhar mercadorias. Preciso de gente que saiba atender o mercado com qualidade e eficiência. Temos apenas um ano de funcionamento, mas já estamos confeccionando duzentas peças por dia, entre túnicas, batas e vestidos. Mas estou querendo entrar no ramo de lingerie e firmar nos acessórios, como cintos, por exemplo."

PARCERIA É A VERDADEIRA TERCEIRIZAÇÃO

"No início das atividades, tive problemas com o sistema de terceirização, pois um dos meus fornecedores não quis admitir um erro. Perdi centenas de peças e decidi fabricar tudo aqui dentro. Graças ao SEBRAE/SP, que me orientou na estratégia de administração, comprei máquinas e consegui sintonizar uma série de atividades e obedecer a alguns princípios básicos, que garantem o sucesso de qualquer empreendimento.
Primeiro, é preciso respeitar, rigorosamente, os prazos de pagamento e de entrega de mercadorias. Segundo, conseguir o máximo de produtividade com os recursos disponíveis, dando treinamento aos colaboradores e utilizando adequadamente o maquinário. Terceiro, estabelecer vínculos de parceria com seus fornecedores, pois não basta você terceirizar. É preciso criar uma estreita proximidade com quem trabalha para você. No caso da lingerie, por exemplo, vamos colocar nossa marca nas roupas que serão feitas por um fornecedor sério, que trabalha com qualidade.
Dou muita atenção para o marketing. Reservo 10% do faturamento para divulgar nossos produtos e uso a mala direta comprada de revistas femininas."


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