Inflação do Real Impacta os Pequenos
A estabilização
da moeda é um evento tão gratificante que falar em inflação
chega a parecer pecado. Mas é como história de feitiçaria:
ninguém acredita, mas que existe, existe. Como reage, por exemplo, uma
pequena indústria que fecha um acordo comercial com uma grande empresa
e não pode repassar o aumento dos custos? Num cenário competitivo,
em que a ética no cumprimento dos prazos e preços é o diferencial
decisivo, essa pergunta pode virar um pesadelo.
Não para Lina M. Toledo Bressanin, da Antese Artes Gráficas
Ltda. - tel.: (011) 277-1388. Desde que entrou para o ramo, em 1985, ela
teve de enfrentar um pico crescente de dificuldades: viuvez precoce e ruptura
com uma empresa familiar. E, no mesmo dia em que assumiu a direção
de sua nova empresa, o seu capital de giro foi seqüestrado pelo recém-empossado
governo Collor. O susto fez com que saísse em busca de novos mercados,
pesquisando produtos que ainda não eram fabricados no Brasil.
Foi assim que entrou firme nos nichos de painéis para equipamentos eletroeletrônicos
de última geração, placas de segurança (com produtos
refletivos à luz) e teclados de membrana, sem abandonar segmentos tradicionais,
como impressão de decalques auto-adesivos e etiquetas. No depoimento
a seguir, ela conta como utilizou a experiência de antigos traumas profissionais
para navegar com segurança e otimismo na era do Real.
A BATALHA POR CLIENTES NOVOS
"Na empresa anterior, que tinha sido fundada pelo meu pai, e da qual me
acabei desligando, a produção estava centrada nas etiquetas auto-adesivas.
Vi que meu caminho era buscar novos clientes e detectar as necessidades do mercado.
Percebi que existia muita procura por outro tipo de etiqueta, fora do universo
tradicional do silk-screen. Fui, então, buscar novos equipamentos que
me permitissem fabricar produtos diferenciados.
Foi exatamente na época em que surgiu uma série de modernas máquinas
nos setores eletroeletrônico, de telecomunicações e de medicina.
Os painéis que passei a fabricar eram, inicialmente, feitos com materiais
importados. Em pouco tempo, consegui desenvolver similares nacionais mais baratos.
As chapinhas e etiquetas metálicas ou em aço inox, inclusive as
com impressão em relevo, foram outro passo em nossa fabricação.
Reproduzimos telas de artistas plásticos famosos, como Tomie Ohtake e
Arcângelo Ianelli. Produzimos faixas para frotas transportadoras e de
táxis. Trabalhamos em parceria com várias multinacionais, como
a Mercedes-Benz, Iochpe Maxion, Fiat e Autolatina, mas também temos pequenos
clientes, pois aceitamos encomendas de qualquer quantidade."
PRODUTIVIDADE CONTRA OS AUMENTOS
"Creio que as empresas que fornecem para multinacionais mediante pedidos
mensais pré-programados e preços preestabelecidos estão
passando por uma fase difícil. Com a entrada do Real, houve estabilização,
mas as coisas ficaram muito caras. A matéria-prima aumentou mais de 10%,
pois os descontos foram tirados, houve realinhamento de preços e os juros
sofreram um salto. Além disso, tivemos o dissídio da categoria
dos gráficos e tornou-se um problema repassar todos esses custos para
clientes com programação fixa.
Precisei, então, fixar metas de produtividade através de novos
procedimentos no chão de fábrica, alavancando um método
capaz de fechar um ciclo de produção num tempo bem menor -
ou seja, produzir mais com o mesmo número de funcionários (atualmente
25). Dinamizei a parte administrativa, integrando os setores e informatizando-os
através de rede.
Penso bastante em incrementar as exportações. Atualmente, tenho
um representante nos Estados Unidos e alguns negócios fechados com o
Mercosul. Para aumentar nossa participação no mercado, estamos
em fase final de implementação da ISO-9000. O conceito de qualidade
total é bem mais abrangente do que a apresentação de um
bom produto. Inclui a compra da matéria-prima com certificado de garantia,
todo o processo de produção e a conscientização
dos funcionários. Aqui, todos sabem que é o cliente que paga o
salário, e trabalhamos em sintonia, como numa orquestra."
EXPANSÃO DA ÁREA COMERCIAL
"Com a estabilização econômica, houve aumento da produção
industrial, e as vendas estão em ascensão. Espera-se a anexação
ao mercado de mais 10 milhões de consumidores. Por isso, a época
é propícia para investimentos, visando atender essa demanda num
futuro próximo. Entre os meus planos de crescimento, está a aquisição
de novos equipamentos. Isso será possível graças à
Associação de Aval e Fomento (Associaval), entidade criada pelo
SEBRAE/SP em parceria com o Banco do Brasil para viabilizar investimentos em
capacitação tecnológica, entre outros, e da qual sou vice-presidente.
Estou expandindo toda a área comercial, impulsionando o telemarketing
e retomando uma equipe própria de vendedores direcionados.
A verdade é que, com tantos altos e baixos, o empresário, hoje,
é mais cauteloso. Devemos buscar uma maneira de melhorar as coisas. Somos
responsáveis pelo que fazemos, pelo que deixamos de fazer e pelo que
impedimos que seja feito. Por isso, devemos, a cada instante, preocupar-nos
em construir um mundo melhor."
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