Estratégia Faz Criação Amadurecer
Quem consegue criar
realiza-se até certo ponto. Para conseguir a plena satisfação
pessoal, só fazendo a criação atingir a maturidade, ou
seja, administrá-la de forma eficiente. Esse tem sido um desafio constante
para aquela espécie de empreendedor que se arrisca no mercado excessivamente
voltado para a sua especialidade, descuidando do essencial, que é o gerenciamento
estratégico do seu talento e da sua vocação.
De tanto tropeçar nesse desafio, a empresária Rosângela
Rossi Ribeiro acabou aprendendo a fazer decolar a sua Pano de Fundo Ltda.
- tel.: (011) 829-0090. Levou um tempo até descobrir que não
poderia simplesmente concentrar-se nas suas roupas femininas diferenciadas,
feitas com tecidos inusuais, como juta, por exemplo, se deixasse a estratégia
empresarial a cargo de outras pessoas.
Pressionada pela constante falta de capital de giro, descobriu que o furo estava
nessa "terceirização" compulsória. Ao tomar providências
acertadas para definir os rumos de seu empreendimento, ela conseguiu, inclusive,
desenvolver-se no que mais gosta de fazer, que é simplesmente criar.
É o que ela conta no depoimento a seguir.
TAMANHO PROVOCA TRAUMA
"Trabalho nesse setor há quinze anos, tendo começado a fazer
algumas coisas no fundo da minha casa, pois minha mãe era costureira.
Com 16, 17 anos, fazia batas indianas e saía vendendo. Depois, continuei
na área de vendas, trabalhei em shopping e mais tarde numa firma de atacado,
onde me identifiquei na criação. Achei que poderia melhorar o
produto que eu vendia e acabei saindo para montar um negócio por conta
própria, que era uma malharia. Fiquei até 1986.
Naquela época, já pensava em fazer pronta entrega e um modelo
diversificado, mas a idéia que prevaleceu foi aumentar a produção,
fazer a fábrica crescer. A fábrica cresceu, tinha três andares
e ficamos com cem funcionários, até chegar o Plano Cruzado, o
que tornou tudo muito difícil. Vendi a empresa, mas tinha aprendido muito
coisa com essa experiência. A etiqueta Pano de Fundo foi criada nessa
época, num momento errado, pois não tinha um público para
ela.
Fiquei um ano parada, fui morar na Itália, estudei e pesquisei e quando
voltei queria fazer uma coisa bem pequena e perto de casa, pois ainda estava
traumatizada com a fabricona. Queria atingir o público A e B, mas, como
conseguir isso?"
ROUPA PARA DANÇAR "Não tinha capital,
por isso vendi carro e telefone, e com ajuda de duas amigas e a força
de minha mãe reformamos uma casa em Moema e nos instalamos. Fomos em
lojas de atacado, onde poderíamos comprar uma boa variedade de tecidos,
já que não tínhamos capital para comprar em grande quantidade.
Descobrimos que uma parte pequena das coleções era pura perfumaria
e vendiam muito pouco. Mas era a parte mais interessante da produção.
Por isso, decidimos que essa era a saída para nós.
O objetivo era abrir as portas do mercado. Começamos, então, fazendo
saia de tafetá com tule. Tinha gente que comentava: isso é roupa
de casamento! Ao que respondíamos: Não, isto é roupa para
dançar. A história começou a se espalhar, e decidimos vender
com critério, e não para quem batesse na porta. Queríamos
saber se o cliente era adequado, se a roupa ia girar na loja dele e não
entregávamos duas peças do mesmo modelo na mesma cidade."
PREPARANDO OS DIFERENCIAIS
"Saímos, então, das lojas de atacado e começamos a
trabalhar direto com o fornecedor. Hoje, fazemos um trabalho de preparação
dos tecidos que escolhemos, para poder diferenciar os produtos que oferecemos
no mercado. Fazemos, por exemplo, saia e vestido com toalhas, além de
chapéus e shorts. Na coleção de inverno, trabalhamos com
cânhamo, que é a juta, um produto usado para sofá e cortina.
Mas a gente lavou, tingiu e fez roupa com isso.
Usamos, também, outros rústicos, como crepe chifonado. Além
da lavanderia, fazemos também um trabalho de estamparia exclusiva. Além
disso, criamos sempre alguma coisa diferente em cada peça."
NOVOS PROJETOS
"Temos usado bastante o tecido importado, como a lã acrílica
da Coréia, que é incrível e custa a metade do preço
em relação à nossa. Os importados fizeram-me trabalhar
com os sintéticos, pois, anteriormente, eu só preferia o algodão.
Eles conseguem um toque que não existe por aqui. O chiffon nosso, misto,
é duro, o deles não, tem uma certa leveza. Mas também existem
coisas maravilhosas no tecido nacional.
Toda essa diversificação foi conseguida com uma estrutura enxuta
e uma estratégia criada a partir de uma consultoria com o SEBRAE/SP.
Antes, trabalhávamos muito para o banco. Agora é diferente. Deixei
de fazer coleção e pedido e só faço pronta entrega.
Estou tranqüila, tenho projetos novos e triplicamos o faturamento.
Temos sessenta funcionários e estamos produzindo 10 mil peças
por mês. Para manter a estrutura atual, preciso duplicar a produção.
Mais tarde, penso em montar uma loja de varejo própria, pois, assim,
você vende o produto como você quiser, da maneira como ele é
criado. Mas não estou com pressa. Já estou bastante feliz com
as mudanças que conseguimos. O consultor do SEBRAE/SP disse-me que eu
era uma boa aluna. Pois o que acontece normalmente é que o pequeno empresário
não tem tempo para seguir os conselhos dos consultores."
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