A Qualidade Brasileira tem Fibra?
O adesismo de última
hora é uma das pragas nacionais. De um momento para outro, passamos da
indiferença total para o entusiasmo cego, abraçando, rapidamente,
aquilo que fazíamos questão de ignorar. Mais do que um sintoma
de nossa providencial facilidade de adaptação, isso acaba revelando
deficiências rudimentares. Uma das manifestações dessa tendência
é o atual marketing da qualidade.
A área têxtil oferece excelente cenário para entender esse
processo. Enquanto proliferam os empreendimentos de fundo de quintal, em que
o preço é tão escasso quanto a qualidade, as grandes firmas
procuram adaptar-se à competitividade internacional, importando tecnologia
de última geração. Isso acaba refletindo-se negativamente
num mercado cheio de aguerridos concorrentes internacionais, pois foi criado
um espaço significativo tanto pelo despreparo dos pequenos quanto pela
necessária reformulação desencadeada pelos grandes, já
que essa mudança leva alguns anos para dar os frutos esperados.
Segundo um especialista no assunto, o empresário Carlos Haydu Junior,
da Texcontrol Equipamentos e Controles de Qualidade - tel.: (011) 289-5026
-, falta-nos ainda condições básicas para enfrentar
esse problema, como profissionais preparados e constância na administração
da economia. No depoimento a seguir, ele explica como consegue trabalhar na
complexa trama da qualidade na área têxtil, através de representação
comercial, fabricação de equipamentos e prestação
de serviços.
GAVETA CHEIA
"Nosso objetivo é desenvolver tecnologias de controle de qualidade
na área têxtil. Meu pai tinha uma empresa do ramo, e, por isso,
fui estudar engenharia têxtil e, mais tarde, administração.
Nos anos 80, como as importações estavam proibidas, fizemos uma
campanha para trazer fábricas estrangeiras para cá, em regime
de sociedade. Algumas vieram, realmente, mas nos encaixaram apenas como representantes.
Resolvemos iniciar, então, a fabricação de instrumentos
de precisão, viabilizando a Texcontrol, em abril de 1987. Os negócios
desenvolveram-se bem até o advento do Plano Collor, quando precisei engavetar
uma série de projetos de máquinas operacionais, que já
estavam terminados, com toda a pesquisa e o know-how. Para resgatar esse acervo,
precisaríamos de pesados investimentos, para poder atuar no mercado internacional.
Essas máquinas atendem a múltiplas necessidades na linha de produção.
Permitem, por exemplo, a avaliação precisa dos materiais utilizados
no processo têxtil, medindo propriedades físicas, tais como finura,
resistência, alongamento, tensão e umidade em fios e fibras naturais
e sintéticos.
Realizam, ainda, testes em tecidos, incluindo a análise das propriedades
físicas e químicas, como testes de solidez, abrasão, resistência,
presença de pilling, grau de permeabilidade e ajustes de cor, através
de dosadores automáticos para formulação de receitas de
tingimento."
NOVOS CONCEITOS PARA OS CLIENTES
"Como não podia fabricar, voltei a ser representante, trabalhando
com uma série de empresas da Europa, dos Estados Unidos e do Japão.
Queremos expandir a área comercial e aperfeiçoar a parte técnica.
No SEBRAE/SP, temos feito vários cursos e, através da Associação
de Aval e Fomento (Associaval), procuramos soluções desenvolvidas
em outros ramos e que pudessem ser adotadas por nós.
Os custos operacionais de uma revenda são altos, e a margem de ganho
é pequena, pois, numa economia globalizada, os preços são
padronizados. Procuro vender novos conceitos, que desencadeiem a venda de equipamentos,
com treinamento adequado, assistência técnica e garantia total.
Normalmente, procuramos instruir nossos clientes que não é através
da compra de equipamentos que seus problemas serão resolvidos. Os testes
em laboratório caracterizam-se por certo nível de complexidade,
o que implica a aquisição de ampla gama de aparelhos. Nosso trabalho,
então, é fazer uma venda essencialmente técnica, pois nosso
cliente sabe do que estamos falando. Trata-se de um nicho especializado, que
dispensa os veículos normais de publicidade.
Quanto mais preparado for nosso cliente, mais fácil a negociação.
Os clientes que temos são as grandes empresas, como Rhodia, Hoechst,
Volkswagen, General Motors e Mercedes-Benz. Mas atendemos, também, as
empresas têxteis de pequeno porte, em fase inicial de implementação
de controle de qualidade."
CUSTO DO EQUIPAMENTO É RELATIVAMENTE
BAIXO
"Estamos, atualmente, certificando equipamentos de laboratórios
de testes, para empresas que querem ter a ISO-9000. Mas, mais importante do
que as máquinas são as pessoas. Falta preparo de pessoal, desde
o básico até o nível mais elevado. Fala-se muito em certificação
ISO-9000, mas, na hora de buscar suporte para isso, as opções
de mercado são poucas. No fundo, montar um laboratório não
é o problema, pois o custo do equipamento é relativamente baixo.
A maior dificuldade é encontrar pessoal especializado.
Precisamos de mais estabilidade na administração do País.
Hoje, existe um clima de otimismo, mas, há uns três anos, a situação
era terrível. Como você pode, num cenário desses, colocar
no mercado um produto que possa competir com a Coréia?"
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