Falta de Matéria-Prima Gera Inflação
Não basta
ter mercado e capacidade instalada para sobreviver. É preciso enfrentar
a escassez de matéria-prima, um problema que pressiona as micro e pequenas
empresas e está gerando inflação. Como existem poucos fornecedores
- que trabalham em regime de oligopólio - para uma enorme diversidade
de empresas, criam-se gargalos perigosos na cadeia produtiva, prejudicando a
geração de empregos e o plano de estabilização.
Por ser um esquema pouco visível para a mídia, acostumada a centrar
sua atenção sempre nos mesmos temas e personalidades, há
um clima de impunidade nesse setor intermediário da economia. A desfaçatez
e o descaramento dos responsáveis atingem, em cheio, o empresário
que fez de tudo para comprar máquinas, contratar funcionários,
conquistar clientes e pagar impostos, antes de cobrar a fatura.
Contra essa situação, é preciso fomentar e incentivar o
crescimento de um número maior de fornecedores de insumos básicos,
como plástico, aço, alumínio, papel, ferro. É disso
que empresários como Alexandre Didonato precisam para desengavetar
projetos, comprar mais equipamentos e aumentar seu quadro de funcionários,
que, hoje, se restringe a apenas uma pessoa. Sua microempresa, a Didoplas
Indústria e Comércio de Plásticos Ltda. - tel.: (011) 858-2174
-, especializada na produção de tampas, precisa de ar para
respirar. Ou seja, de matéria-prima sem ágio para não deixar
os clientes na mão, como ele conta no depoimento a seguir.
TAMPAS PARA CLIENTES PEQUENOS
"Produzimos, essencialmente, tampas plásticas para a indústria
alimentícia, mas, às vezes, fazemos alguma coisa para a indústria
química. Comecei a trabalhar nesse setor com meu pai, que ainda tem uma
firma de artefatos de borracha. Ele comprou uma injetora e fomos pesquisar mercado.
Um parente, que produzia molho de pimenta, sugeriu que fizéssemos tampas.
Foi a partir daí que abrimos esta firma e começamos a atender
nossos clientes, que são, na grande maioria, de pequeno porte.
Compramos das distribuidoras sacos de 25 quilos de plástico granulado
e colocamos nas nossas duas injetoras, que têm capacidade de produção
de 1,5 milhão de peças por mês. Poderia chegar até
mais, se fizesse como muitas indústrias, que têm três turnos
de trabalho e viram 24 horas produzindo. Trabalho em um turno só, com
meu funcionário mais a ajuda de minha esposa e meu irmão, que
é meu sócio.
Trata-se de um processo simples, que dispensa acabamento - no máximo,
colocamos o pigmento. É só fabricar, contar, embalar e despachar.
Os moldes foram projetados para trabalhar automaticamente. Poderia aprofundar
esse processo, trabalhar com alimentador automático de injetora, mas
isso depende de capital. Tenho vendedores e faço parcerias com as vidraçarias,
que fabricam os recipientes. Atendo clientes dentro e fora de São Paulo,
através de indicações, de telefone e de fax."
A AMEAÇA DO ÁGIO
"As grandes empresas têm cotas dos fornecedores direto das indústrias
de plástico. Temos que trabalhar com distribuidoras, pois, na fonte,
só se conseguem encomendas de 12 toneladas, no mínimo, o que significam,
para mim, um consumo de seis meses e um empate enorme de capital. Mas, se o
mercado virar, o que faço com tanto estoque? Só que a situação
hoje é inversa: com o plano de estabilização, existe escassez
de matéria-prima.
Antes do Real, as distribuidoras vinham até nós para vender, mas
isso mudou. No verão passado, tive que fechar as portas no dia 15 de
dezembro, por falta de material. Na verdade, eles deram uma puxada nos preços
e você até pode encontrar quem forneça, mas com preços
aviltados. Antes do plano, negociávamos em dólar. Quando entrou
a URV, os valores em dólares foram aumentados, além do adicional
do custo financeiro. De outubro do ano passado para cá, quando acabou
a URV, começou a disparada. O preço em real está subindo
descaradamente.
No Brasil, é assim, ou você não tem serviço, ou você
tem serviço demais. Sinto que o pessoal dos insumos básicos não
está preparado. Ou eles têm em excesso, ou, quando a economia aquece
um pouquinho, estão em falta. Eles estão sempre trabalhando no
limite. Os custos fixos estão congelados, mas, como a matéria-prima
aumenta, tenho problemas de negociar com meus clientes.
E não adianta fazer pesquisa entre os distribuidores, pois os preços
são iguais. O problema é que tampa é custo para nossos
clientes, já que não fabricamos o produto final. E custo precisa
ser enxugado."
VIVO ESPERANDO
"Não adianta abrir milhões de novas empresas no País,
se não existe retaguarda para garantir esse crescimento. Tem gente que
não consegue capital de giro, começa a vender abaixo do custo,
acaba entrando em desespero e fechando as portas.
Posso até levantar um capital, comprar mais uma máquina, mas,
se não tenho matéria-prima, para que conquistar novos clientes?
Vivo esperando a situação mudar. Por enquanto, com tanto imposto
cobrado antecipadamente, estou financiando o governo. Você empresta para
ele e recebe nada em troca. O funcionário fica descontente com o salário,
mas custa uma fortuna, devido aos encargos sociais.
Felizmente, conto com a ajuda do SEBRAE/SP para gerenciar a empresa."
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