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« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 163 (21/05/1995)

Falta de Matéria-Prima Gera Inflação

Não basta ter mercado e capacidade instalada para sobreviver. É preciso enfrentar a escassez de matéria-prima, um problema que pressiona as micro e pequenas empresas e está gerando inflação. Como existem poucos fornecedores - que trabalham em regime de oligopólio - para uma enorme diversidade de empresas, criam-se gargalos perigosos na cadeia produtiva, prejudicando a geração de empregos e o plano de estabilização.
Por ser um esquema pouco visível para a mídia, acostumada a centrar sua atenção sempre nos mesmos temas e personalidades, há um clima de impunidade nesse setor intermediário da economia. A desfaçatez e o descaramento dos responsáveis atingem, em cheio, o empresário que fez de tudo para comprar máquinas, contratar funcionários, conquistar clientes e pagar impostos, antes de cobrar a fatura.
Contra essa situação, é preciso fomentar e incentivar o crescimento de um número maior de fornecedores de insumos básicos, como plástico, aço, alumínio, papel, ferro. É disso que empresários como Alexandre Didonato precisam para desengavetar projetos, comprar mais equipamentos e aumentar seu quadro de funcionários, que, hoje, se restringe a apenas uma pessoa. Sua microempresa, a Didoplas Indústria e Comércio de Plásticos Ltda. - tel.: (011) 858-2174 -, especializada na produção de tampas, precisa de ar para respirar. Ou seja, de matéria-prima sem ágio para não deixar os clientes na mão, como ele conta no depoimento a seguir.

TAMPAS PARA CLIENTES PEQUENOS
"Produzimos, essencialmente, tampas plásticas para a indústria alimentícia, mas, às vezes, fazemos alguma coisa para a indústria química. Comecei a trabalhar nesse setor com meu pai, que ainda tem uma firma de artefatos de borracha. Ele comprou uma injetora e fomos pesquisar mercado. Um parente, que produzia molho de pimenta, sugeriu que fizéssemos tampas. Foi a partir daí que abrimos esta firma e começamos a atender nossos clientes, que são, na grande maioria, de pequeno porte.
Compramos das distribuidoras sacos de 25 quilos de plástico granulado e colocamos nas nossas duas injetoras, que têm capacidade de produção de 1,5 milhão de peças por mês. Poderia chegar até mais, se fizesse como muitas indústrias, que têm três turnos de trabalho e viram 24 horas produzindo. Trabalho em um turno só, com meu funcionário mais a ajuda de minha esposa e meu irmão, que é meu sócio.
Trata-se de um processo simples, que dispensa acabamento - no máximo, colocamos o pigmento. É só fabricar, contar, embalar e despachar. Os moldes foram projetados para trabalhar automaticamente. Poderia aprofundar esse processo, trabalhar com alimentador automático de injetora, mas isso depende de capital. Tenho vendedores e faço parcerias com as vidraçarias, que fabricam os recipientes. Atendo clientes dentro e fora de São Paulo, através de indicações, de telefone e de fax."

A AMEAÇA DO ÁGIO
"As grandes empresas têm cotas dos fornecedores direto das indústrias de plástico. Temos que trabalhar com distribuidoras, pois, na fonte, só se conseguem encomendas de 12 toneladas, no mínimo, o que significam, para mim, um consumo de seis meses e um empate enorme de capital. Mas, se o mercado virar, o que faço com tanto estoque? Só que a situação hoje é inversa: com o plano de estabilização, existe escassez de matéria-prima.
Antes do Real, as distribuidoras vinham até nós para vender, mas isso mudou. No verão passado, tive que fechar as portas no dia 15 de dezembro, por falta de material. Na verdade, eles deram uma puxada nos preços e você até pode encontrar quem forneça, mas com preços aviltados. Antes do plano, negociávamos em dólar. Quando entrou a URV, os valores em dólares foram aumentados, além do adicional do custo financeiro. De outubro do ano passado para cá, quando acabou a URV, começou a disparada. O preço em real está subindo descaradamente.
No Brasil, é assim, ou você não tem serviço, ou você tem serviço demais. Sinto que o pessoal dos insumos básicos não está preparado. Ou eles têm em excesso, ou, quando a economia aquece um pouquinho, estão em falta. Eles estão sempre trabalhando no limite. Os custos fixos estão congelados, mas, como a matéria-prima aumenta, tenho problemas de negociar com meus clientes.
E não adianta fazer pesquisa entre os distribuidores, pois os preços são iguais. O problema é que tampa é custo para nossos clientes, já que não fabricamos o produto final. E custo precisa ser enxugado."

VIVO ESPERANDO

"Não adianta abrir milhões de novas empresas no País, se não existe retaguarda para garantir esse crescimento. Tem gente que não consegue capital de giro, começa a vender abaixo do custo, acaba entrando em desespero e fechando as portas.
Posso até levantar um capital, comprar mais uma máquina, mas, se não tenho matéria-prima, para que conquistar novos clientes? Vivo esperando a situação mudar. Por enquanto, com tanto imposto cobrado antecipadamente, estou financiando o governo. Você empresta para ele e recebe nada em troca. O funcionário fica descontente com o salário, mas custa uma fortuna, devido aos encargos sociais.
Felizmente, conto com a ajuda do SEBRAE/SP para gerenciar a empresa."


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