Empresa Muda na Sociedade do Saber
Para uma empresa
que cuida de pessoas portadoras de deficiência física, falar em
lucro é pecado? Às vezes, até parece que sim. Alguns pais,
ao entrar em contato com a GRHAU - Grupo de Reabilitação e Habilitação Unificado - www.grhau.com.br -, comentavam:
"Ah, isto aqui é uma empresa"! Uma das nove sócias, a fisioterapeuta
Janice Maria Ortiz De Nardi, respondia: "Não, aqui não é uma empresa, é um grupo de pessoas, de profissionais." Foi a consultoria do SEBRAE/SP que fez Janice, que fundou a GRHAU há doze anos, a defender a empresa do preconceito, em que o lucro gera benefícios e a administração não fica prejudicada em relação às outras atividades, consideradas mais nobres. Mas é uma empresa diferenciada, que mais se parece a uma organização, que é a unidade produtiva da sociedade baseada no conhecimento (ou pós-capitalista, como quer Peter Drucker). Exemplo perfeito da transformação social dos últimos anos, seu capital é o saber e a sua mão de obra é especializada: com uma clínica e a prestação de serviço no Pronto Socorro Infantil Sabará, ela congrega, hoje, cerca de cinquenta profissionais liberais, como fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, pedagogos e psicólogos. O encontro do GHRAU com o SEBRAE/SP é a sintonia fina entre duas organizações que se identificam num novo nível de relacionamento. A seguir, Janice fala sobre a evolução desse trabalho, que cuida, principalmente, de crianças e hoje aplica métodos internacionais revolucionários de recuperação.
O DESAFIO DA PARALISIA CEREBRAL
"No início, éramos apenas quatro pessoas que tinham como meta dar terapias individuais para pessoas portadoras de deficiência física nas áreas de fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia. Evoluímos bastante em doze anos de atuação, pois sempre procuramos fazer o melhor, através da busca de mais conhecimento. Sempre acreditamos que um indivíduo é um todo, não pode ser dividido em setores. É uma visão holística do ser humano. Foi com essa busca de conhecimento que descobrimos a educação condutiva, que é um trabalho muito bonito, desenvolvido com crianças com paralisia cerebral. Soubemos do método, através de uma criança brasileira que veio da Hungria. Entramos em contato com o instituto responsável, em Budapeste, e, com a cara e a coragem, resolvemos implantar aqui esse trabalho. Havia sintonia com nossa proposta, de trabalhar o indivíduo por inteiro, através de um processo integrado de reabilitação. A paralisia cerebral atinge mais de 1% dos nascimentos no Brasil. É um problema que ocorre na hora do parto, 90% provocado por falta de oxigênio para a criança, que provoca uma lesão do sistema nervoso central. Se eu começar o tratamento cedo, é possível suprir a área lesada e ajudar a desenvolver as funções. Nós fazemos muito o acompanhamento de prematuros. É um tratamento extremamente precoce, de medicina preventiva. Se demorar, a criança terá muitas dificuldades no aprendizado."
PASSOS DA VIDA INDEPENDENTE
"O ponto básico do método de educação condutiva - que é conhecido como o método Petö - é criar na criança a motivação necessária para que ela se desenvolva, preparando-a para uma educação normal. Ela tem uma rotina diária de trabalho, que começa com exercícios na cama, de deslocamento, alongamento, entre outros, para que possa conduzir-se sozinha. Ela, então, consegue dobrar o cotovelo, esticar o braço, agarrar um pacote, beber e comer, enfim, ficar preparada fisicamente para se movimentar de maneira independente. Associada a isso, existe toda uma parte acadêmica correspondente à idade. Na pré-escola, a criança vai estar trabalhando o conceito de cor, textura, forma, classificação. Quem tem entre 8 e 12 anos está recebendo aulas de matemática, português, ciências, estudos sociais, enfim, ela se situa dentro do mundo. Aqui, temos crianças e adolescentes até 16 anos que cumprem período integral ou parcial e mesmo casos de pessoas que estão fora e recebem um suporte nosso. Muitas têm problema de encaminhamento para outras escolas, e a gente está suprindo isso. Existem casos que não podem nunca parar com o tratamento, que precisa ser desenvolvido por toda a vida. Atendemos também o público adulto, pessoas que vêm da área de neurologia, que sofrem acidente vascular cerebral. O Brasil é muito carente nesse setor, e, nas entidades, existem sempre uma longa fila de espera. No exterior, o deficiente físico é visto de maneira diferente. O Estado tem obrigação de dar tratamento, escolaridade, adaptação de vida."
ENSINANDO NO INTERIOR
"Para conseguir chegar ao nosso nível atual de trabalho, tivemos que investir no preparo das pessoas envolvidas, pois nossa tarefa exige dedicação e amor. Muita gente não aguenta a barra emocional desse serviço. Ao mesmo tempo, resolvemos preocupar-nos mais com a parte administrativa e no relacionamento interno entre as pessoas que trabalham aqui. Ao todo, temos 165 pacientes. O consultor do SEBRAE/SP conseguiu entender-me, sentir minhas angústias e ajudou-me a traçar o perfil, as metas, os objetivos e a implantar um organograma mais eficiente. Nosso trabalho inclui orientação para grupos que queiram implantar o método que utilizamos, o que já está acontecendo em Sorocaba e em Ribeirão Preto."
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