Dividir para Crescer
Embora muito se fale em programas de capacitação empresarial e técnicas eficazes de gestão, ainda são poucos os empresários brasileiros capazes de lidar com uma visão de crescimento sustentada e baseada na divisão de poder, seja com outras empresas, seja com os próprios funcionários. Quem fala, em depoimento exclusivo, sobre esse abismo entre a realidade e as teorias proclamadas pelos mais variados segmentos da sociedade é Edson Vaz Musa, diretor da EVM Empreendimentos www.caloi.com.
CICLO VICIOSO
"O grande problema do empresário brasileiro é a falta de compreensão sobre a necessidade do capital de giro. Ele pensa em investimentos somente em termos físicos, tudo aquilo que é concreto, mas não tem domínio sobre o giro do seu negócio e aí acaba confundindo-se e até quebrando, especialmente nos momentos de crescimento, quando é preciso tomar dinheiro emprestado. Outra falha no comportamento empresarial é a pouca importância dada ao desenvolvimento tecnológico para inovação. Uma empresa só é realmente vencedora quando consegue aliar dois eixos distintos: eficiência operacional e estratégias conquistadoras. Quem fica exclusivamente voltado para as commodities, produtos ou serviços de pouco valor agregado não chega ao sucesso, pois a competição dá-se por meio do preço e quem compete por isso é obrigado a trabalhar com custos muito baixos, o que leva a pagar mal e a não ter gente competente para fazer o negócio caminhar. A solução para quebrar esse círculo vicioso seria a criação constante de novos produtos, a busca por novos clientes e consumidores mais exigentes que demandem investimentos em tecnologia e em criatividade."
SOFISTICAÇÃO
"As pequenas e médias empresas precisam de estratégias mais sofisticadas, até mesmo para ter condições de exportar e de competir no mercado externo. O empresariado brasileiro, em geral, é muito provinciano, ele não se expõe além das nossas fronteiras pelo fato de o Brasil ser um grande mercado interno, porém pouco sofisticado. O valor não está na matéria-prima, e sim na tecnologia e na inovação. É isso que precisa ser estimulado pelas iniciativas públicas e privadas. O principal objetivo dos empresários deveria ser a criação de uma empresa em que todos sintam orgulho e prazer em trabalhar, porque são as pessoas o ponto fundamental de qualquer organização, são elas que constroem a vitória. Um empresário que tem responsabilidade social e sabe investir em capital social e em capital humano é realmente um empreendedor. A estrutura ideal para um país como o Brasil seria a existência de grandes empresas em torno das quais gravitasse uma constelação de pequenos fornecedores de produtos e de serviços. As pequenas empresas sempre conseguem ser mais ágeis e flexíveis do que as grandes que serviriam para consolidar esse trabalho por meio de uma relação muito estreita em que, além da capacidade financeira e de gestão, seja possível também transmitir conhecimento."
PERIGO
"Existe uma zona extremamente perigosa para as pequenas empresas que começam a crescer e a pegar os vícios das grandes organizações, sem ter adquirido o tamanho necessário para usufruir das vantagens da venda em escala, com produtos diversificados. No Brasil, é preciso atravessar rápido essa fase de transição, caso contrário o negócio atola e acaba falindo. A melhor forma de resolver esse impasse é aderir aos processos de fusão e de aquisição, contrariando o comportamento do empresário brasileiro, que tem verdadeira ojeriza a essas estratégias de crescimento, preferindo muitas vezes ficar com 100% de um negócio quebrado. Quando ocorre uma associação, o empresário tem que profissionalizar a empresa, respeitar o executivo, dar autonomia a ele e abrir mão do dia-a-dia empresarial para se tornar o visionário que vai direcionar a linha de atuação para que outros estabeleçam as estratégias mais apropriadas nesse sentido. Toda a ciência do sucesso corporativo está numa boa dosagem entre a visão de mercado e a delegação da autoridade compatível com a responsabilidade que está sendo transferida."
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