Guerreiro Passivo
Uma economia com base na livre iniciativa, que pretende ser globalizada, não pode deixar-se levar pela inconseqüência e pela leviandade de uma mídia que crucifica a figura do empresário, fazendo dele o ladrão de todos os dias nos seus noticiários do horário nobre. Essa imagem quase sempre negativa conferida aos empreendedores nacionais que, em sua maioria, constituem o sustentáculo do País deve ser revista com urgência, até mesmo pelos próprios integrantes da classe empresarial, que precisam conscientizar-se cada vez mais da sua importância para o bem-estar e para o desenvolvimento da sociedade como um todo. Sem o devido respeito e o reconhecimento do seu valor, fica difícil vencer uma guerra em que herói e vilão se confundem na mesma pessoa, jogando a opinião pública contra aqueles que lutam sem cessar para manter vivas as empresas que garantem as oportunidades profissionais para milhões de brasileiros. Quem destaca o papel crucial desse batalhador, em depoimento exclusivo, é Yvonne Capuano, empresária da área industrial e atual conselheira da Ciesp/Fiesp - www.fiesp.com.br.
INVERSÃO
"O empresário brasileiro está preparado para atuar em qualquer parte do mundo, porque ele tem que se adaptar de forma constante a novas leis, a novos decretos, a medidas provisórias, e isso é muito difícil para quem tem um negócio Ele é um guerreiro, por ser obrigado a conviver com essa instabilidade total que exige o estado de alerta permanente, embora seja passivo demais em relação a tudo que acontece. Existe uma diferença básica entre empreendedor e empresário. O primeiro é arrojado, sempre quer ampliar a empresa, independentemente do caixa e das previsões econômicas, enquanto o segundo se limita a uma administração bem elaborada e menos arrojada. Antigamente, os empreendedores tinham mais sucesso, uma vez que, mesmo sem muita cultura, conseguiram construir grandes fortunas. Hoje, as posições inverteram-se, chegou a vez do empresário, que precisa entender bem de administração e de economia para colocar a empresa no mercado."
MANUTENÇÃO
"Sobreviver atualmente com uma empresa no Brasil está muito difícil, pois temos uma carga tributária impossível de se trabalhar, e tudo vai complicar-se ainda mais com a globalização que está aí e não tem retorno. Como o crescimento está estacionado e esse período deve durar pelo menos até o final do próximo ano, dificilmente o empresário vai poder ampliar seus negócios. Quem conseguir atravessar esse período e se mantiver vivo merece nota dez. Agora, é evidente que o empresário que conseguir estabelecer parcerias bem estruturadas, joint ventures ou associações com outras empresas que lhe possam dar um suporte maior no aumento da sua produção ou do próprio negócio, vai sair-se muito melhor. As entidades de classe, de maneira geral, pouco podem ajudar nesse impasse se continuarem a trabalhar de forma fragmentada e isolada. Essas instituições precisam conscientizar-se da necessidade de união e reivindicar o que é bom para todos e não apenas para um segmento da economia. Se elas se unirem para impor ou pressionar a reforma tributária, teriam sucesso. Pelo nosso histórico recente, podemos observar que as grandes medidas que foram tomadas exigiram uma pressão social muito forte."
DISTORÇÃO
"O importante é fazer a ligação entre o empreendedor e o empresário, porque um contribui com uma visão mais ampla do negócio, enquanto o outro mostra os perigos e as conseqüências de atitudes impulsivas. Estamos atravessando uma época muito arriscada, mas quem tiver a capacidade e a boa vontade para fazer com que empreendedor e empresário vivam em conjunto está fadado ao sucesso. Quando se fala em empresário, logo se pensa em uma pessoa de sucesso, o que acaba gerando certa polêmica e muitas distorções no Brasil. A mídia costuma mostrar a figura do empresário como o usurpador, aquele que roubou, que ruiu, que está passando as férias no exterior e sonegou impostos, porque é isso que atrai o público. É difícil mostrar a grande maioria dos empresários na sua luta diária, o esforço que eles fazem para manter suas empresas e os empregos que estão gerando."
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