A Gestão dos Acionistas
Disseminar os princípios da governança corporativa é o atual desafio do empresário Paulo Villares. De acordo com esses princípios, o objetivo principal da administração deve ser maximizar o valor do negócio, garantindo maior transparência da administração, contribuindo, assim, para diminuir os riscos de erros de gestão e fraudes. Villares, que é presidente do IBGC Instituto Brasileiro de Governança Corporativa www.ibgc.org.br , fundado em 1996, acredita na eficácia da estratégia empresarial que aplica esse conjunto de valores e regras orientado para os interesses dos acionistas.Trata-se de um esforço que costuma ser bem recompensado, pois a governança corporativa consolidou-se na última década como forma de valorização empresarial garantindo aos sócios eqüidade, transparência, prestação de contas (accountability) e responsabilidade pelos resultados. Não há distinção de natureza ou tamanho para a empresa que fizer essa opção. Tanto uma Ltda. quanto uma S.A. pode deixar de lado vícios como a centralização excessiva e o desprezo aos acionistas minoritários. Villares, de larga experiência na vida empresarial brasileira, acha fundamental a adoção desses princípios e detalha, no depoimento a seguir, as principais vantagens de um processo identificado com as exigências de um mercado extremamente competitivo.
COMPLEMENTO À QUALIDADE
"O movimento de qualidade total significava uma mudança de performance. Baseada em várias técnicas, cada empresa desenvolvia a sua maneira de aplicar esse conceito. Tornou-se importante que cada funcionário, por mais simples que fosse, tivesse uma noção clara da própria contribuição para o resultado final. Mas o movimento de qualidade total mexeu menos com as relações entre acionistas e o conselho administrador. Hoje, pregamos que o presidente da empresa não pode ser presidente do conselho, por exemplo, um erro que eu mesmo cometi e hoje faço autocrítica. Sabemos agora que uma empresa não pode ter uma qualidade total sem uma boa governança corporativa. Não é possível imaginar hoje em dia que uma empresa possa ser bem administrada se não respeitar conceitos de governança corporativa, que tem como principais pontos o máximo retorno ao acionista como missão da empresa, o tratamento justo aos minoritários, o direito a voto como direito básico, a conformidade com as práticas internacionais para divulgação de informações e definição das práticas contábeis, a punição para a utilização de informação privilegiada em benefício próprio, a remuneração em linha com os interesses dos administradores e o rigor por parte das empresas na utilização de informações."
EXPERIÊNCIA
"Eu conhecia os conceitos de governança corporativa há muito tempo e, quando resolvemos criar os elevadores Atlas, lançamos a empresa dentro dos seus princípios. Tínhamos um só tipo de ação pois a governança é contra essa divisão entre ordinárias e preferenciais , tínhamos conselheiros independentes e outras coisas que pesaram na hora de vender a empresa, quando fomos altamente elogiados pela CVM e pelos acionistas. Por ter tido essa experiência é que fui indicado para a presidência do IBGC e poder dedicar-me mais ao assunto. Independentemente de ser um trabalho voluntário, ele traz uma recompensa em termos de utilidade, de sentir que está fazendo alguma coisa boa e aproveitando aquela experiência que eu tive nesses anos todos."
O CASO BRASILEIRO
"Aqui no Brasil ainda estamos longe de um estágio em que as empresas já tenham adotado esses princípios, pois isso se mede claramente através de um mercado de capitais forte. Eu acho que essa situação vai mudar. O esforço que tem sido feito pela Bovespa, por exemplo, vai acabar atraindo mais empresas. Se não aderiram ainda em parte é porque existe crise no País e muitas empresas não se sentem preparadas para esse salto. Nós comprovamos o interesse das empresas médias e pequenas pela governança corporativa, e o IBGC fez pela primeira vez nesse semestre um curso de 40 horas, voltado para empresas familiares. Foi um sucesso, e agora já vai fazer parte do nosso curriculum normal."
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