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« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 319 (17/05/1998)

Ameaça de Mais Um Calote Geral

Nesta década, a falência generalizada de pessoas, empresas e bancos caracteriza uma situação de caos, bem pior do que a dos anos 80. O perfil estatístico desse quadro sombrio é traçado pelo empresário, professor e administrador de empresas Dante Matarazzo, da Barroco Construção e Empreendimentos Ltda. - Tel.: (11) 6942-0322. A fonte da tragédia é a falta de apoio às empresas que, por deixarem de ser um negócio interessante no Brasil, estão sendo vendidas a grupos estrangeiros. Na sua opinião, o ideal seria que estes viessem aqui para concorrer e trazer novos capitais, gerando novos empreendimentos, em vez de substituir os existentes. E o agravante é que o Plano Real, em vez de solucionar, acabou aprofundando a crise. Poderemos ter mais um grande calote, a exemplo do que ocorreu com os planos anteriores. No texto a seguir, ele dá detalhes dessa análise, que contraria o coro dos contentes e chama à responsabilidade o ufanismo governamental.

PATRIOTISMO
"Nunca houve tantos problemas na história recente das empresas brasileiras. Das companhias abertas, negociadas em bolsa, que representam a elite empresarial, 30% apresentaram prejuízos em 1994, e mais de 50% nos dois anos seguintes. A rentabilidade média, considerando o lucro líquido sobre o patrimônio líquido das empresas abertas, foi de 4% em 1994, -2% em 1995 e -6% em 1996. Empresas são a locomotiva econômica da nação. Preservá-las, incentivá-las e aperfeiçoá-las deveria ser o objeto de todo agente econômico. Além de inteligente, é patriótico."

RISCO BRASIL
"O governo poderá futuramente aplicar um violento calote, como fez nos planos Cruzado, Verão, Color I, Color II e na passagem da URV para o Real. Um sintoma é a dívida pública. A taxa de 40% de juros ao ano faria com que essa dívida atingisse em dez anos R$ 8,676 trilhões. O governo decidiu baixar as taxas para 20%, mas isso equivalerá, nos mesmos dez anos, a um rombo de R$ 1,857 trilhão. A dívida continuará impagável, pois no mesmo período estimado o PNB deve atingir R$ 1,1 trilhão. Ou seja, o calote virá muito antes. Entretanto, quem entrar nos títulos do governo e sair antes do calote poderá dar-se bem, desde que saiba o que fazer com o dinheiro que saiu, pois o calote, tal qual um terremoto, não preserva ninguém fora do governo, já que o próprio é o epicentro.
Na primeira fase do Plano Real, havia uma pequena defasagem (entre 10 e 19%) do dólar, que era reajustado. De lá para cá, houve uma inflação média de 70% e o dólar subiu 13%. Isso derrubou as cambaleantes exportações brasileiras e produziu um tremendo déficit comercial. Para cobrir o caixa, o governo atrai dinheiro especulativo internacional a taxas absurdamente altas."

REFORMA
"A taxa média de lucro sobre vendas das empresas nos Estados Unidos, em 1996, foi de 4,8%, ou seja, para cada US$ 100 vendidos, a empresa americana ganhou, em média, US$ 4,80. Esse número não tem variado significativamente nos últimos quinze anos, e o risco de essa margem cair é muito grande. Para combater essa tendência, recorre-se ao investimento em pesquisa, que torna o produto mais competitivo, e ao aumento do volume de vendas.
No Brasil, isso tem sido impossível, por falta de lucros e de financiamentos a prazos e juros compatíveis com a atividade empresarial. Além disso, nos últimos vinte anos, todas as medidas governamentais - exceto em alguns espasmos, como no Plano Cruzado - foram recessivas. Resultado: a média de vendas em relação aos investimentos totais das companhias abertas em 1996 foi de 0,9, enquanto nos EUA foi de 2,90. Na década de 70, no Brasil, esse índice oscilava em torno de 2,0 e, na de 80, em 1,4, ou seja, vende-se cada vez menos. Em dez anos, as vendas das maiores empresas brasileiras cresceram, em média, 17%, o que dá uma modestíssima taxa de 1,6% ao ano, inferior ao crescimento da população e ao ingresso de novos trabalhadores no mercado.
A situação agrava-se com o sistema de impostos. As empresas, que ficam para si com 4,8%, recolhem, em média, algo em torno de 35% do faturamento, o que inverte a ordem natural das coisas. Para solucionar esse problema, não basta uma reforma tributária, mas uma completa reforma do Estado."


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