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« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 263 (20/04/1997)

Globalização só em Mão Dupla

O nosso parque industrial é inestimável patrimônio brasileiro, construído a custa de muito esforço e recursos valiosos de toda a sociedade, ao longo de mais de quatro décadas, que não pode ser sucateado por uns poucos anos de abertura econômica e globalização. Sendo processo irreversível num mundo praticamente sem fronteiras e com distâncias cada vez mais reduzidas pelo avassalador progresso das comunicações, para evitar - ou ao menos amenizar - a supremacia dos mais fortes, deve-se impor à globalização regras e normas que viabilizem certa parceria e uma complementaridade entre as economias. Da maneira que está sendo colocada para nós, a globalização resume-se numa estratégia dos países industrializados para expandirem-se ao resto do planeta, o esforço supremo de detentores de poderosos recursos e de tecnologia avançada, buscando dominar, economicamente, a humanidade. A análise foi feita, em depoimento exclusivo, por Ceferino Fernandez Garcia, presidente da Ifer Estamparia e Ferramentaria Ltda. - Tel.: (11) 247-6144 -, empresa paulistana de 1,8 mil empregados que há 34 anos fabrica peças para a indústria em geral, especialmente para os setores automobilístico e eletroeletrônico.

CONCORRÊNCIA PREDATÓRIA
"Esse processo seria fantástico, desde que cada país tivesse efetiva participação no 'bolo' total, não do jeito que nos estão impingindo. Conheço vários exemplos. A montadora recebe um catalisador da África do Sul a um custo menor do que o preço que pagamos pela chapa de aço para fabricá-lo. Encontramos nos camelôs, à venda, sem nota fiscal, cadeados importados por R$ 0,80, R$ 1,00 e até R$ 1,50 cada um, dependendo da cara do freguês. Vem com chave, com o elo que se trava no portão, enfim, um artigo tão bom quanto os fabricados aqui. Como poderemos vender por esse preço, se apenas aquele pedacinho de latão (metal amarelo) utilizado no corpo do cadeado custa R$ 0,80 ou R$ 0,90? Quando o fabricante nacional tiver sido eliminado por essa estratégia predatória, sem concorrência, o preço do cadeado, evidentemente, será elevado pelo fabricante ao seu bel-prazer. Um industrial do ramo de confecções não pode competir com as calças importadas a R$ 11,00 da China; passou a importá-las e vendê-las no Brasil a R$ 40,00, R$ 50,00 e R$ 60,00. Abandonou a produção e tornou-se comerciante..."

PARCERIA E TROCA JUSTA
"Entendo a globalização somente se fundamentada numa troca justa - você me vende tanto, e eu quero também vender-lhe igual quantidade em contrapartida. Você dispõe de tecnologia mais avançada, e eu lhe mando meus funcionários para aprendê-la e serem treinados. Vamos trabalhar irmanados, em parceria... O governo impôs a taxa de 70% às importações de veículos, mas deixou as de autopeças com 2% (agora parece que elevou a 6%...). Com isso, a indústria não traz o automóvel pronto, mas os componentes para montá-lo aqui, prejudicando, da mesma maneira, a indústria nacional... Estão chegando as montadoras, mas com as próprias condições que impuseram. É necessário que o governo se conscientize de que o mais importante é que elas também gerem tecnologia, riqueza. Para isso, temos de ter nossos técnicos trabalhando no Brasil."

VALORIZAR A NOSSA INDÚSTRIA
"Se o estrangeiro quiser instalar a sua indústria aqui, terá de valer-se das nossas indústrias para fornecer-lhe componentes, ao em vez de trazer o seu fornecedor e eliminar os poucos que ainda restam no País. É muito difícil contrapor-se à avalanche globalizadora. É estranho que o poder público não impeça a vinda de tranqueiras, de quinquilharias importadas, no bojo da abertura da economia. De nossa parte, temos procurado baixar custos: terceirizamos totalmente a limpeza e parcialmente a segurança para sobreviver. Crescemos com a indústria eletroeletrônica, que se transferiu posteriormente para a Zona Franca de Manaus. Estamos, então, inaugurando moderna fábrica na Zona Franca, eliminando despesas de transporte de nossos fornecimentos, que até hoje eram feitos diariamente a partir de São Paulo. Assim, beneficiaremos os clientes e, conseqüentemente, também os consumidores que podem ter produtos de qualidade a preços competitivos com os de artigos importados. Sou pessimista com o que se está tolerando, mas otimista com o que se pode fazer."


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