Empresários do Futuro

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Academia Acorda para o Mercado

Vocação empresarial começa a ser incentivada nas faculdades de Administração
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Foto - Jorge Eduardo e paiTradicionalmente formadoras de especialistas para grandes organizações nas áreas financeira, contábil, de recursos humanos, produção ou marketing, as faculdades de Administração estão preocupando-se cada vez mais com uma nova tendência: a formação de empreendedores. Hoje elas atravessam uma fase de transição, entre hábitos tradicionais arraigados e a necessidade de atender quem se arrisca a montar o próprio negócio e até mesmo assumir o papel de empresário do futuro.

“A maioria dos alunos ainda quer fazer estágio nas grandes empresas, porque elas oferecem mais oportunidades, não só em termos financeiros mas também de desenvolvimento profissional”, diz Silvana Sayura Tamikawa, aluna do curso de Ciências Econômicas, Contábeis e Administrativas do Instituto Mackenzie, de São Paulo. Mas ela mostra outro caminho que vem despertando interesse crescente entre seus colegas: “As pequenas empresas começaram a ser valorizadas socialmente, porque temos cada vez mais noção da sua importância de sustentação do mercado. Acho que isso tem levado os alunos mais corajosos a abrir seu negócio.”

Filha de um pequeno comerciante de autopeças, Silvana concorda que a faculdade ainda está voltada para as grandes empresas, mas acha que já aprendeu o suficiente para seus conhecimentos serem aplicados na prática por seu pai. “Ele é um empreendedor e só tem o curso primário, mas me influenciou muito. Um dia vou seguir seu exemplo e ter minha empresa de consultoria”, afirma.

Foto - Silvana“Nosso curso pretende formar três tipos de profissional: o primeiro tem conhecimentos específicos em alguma área da administração, o segundo adquire uma visão global de todo o sistema da empresa e nossa terceira linha de ação é a formação de empreendedores”, explica Ari Plonsky, professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (USP).

Ele considera que essa é a área que mais cresce atualmente na faculdade, pois os alunos têm demonstrado maior interesse pela administração de micro e pequenas empresas. “Embora o empreendedor possa atuar numa grande organização abrindo novos espaços, muitos alunos querem ter seu negócio. Não são a maioria, mas se, numa turma de cem, dez abrirem uma empresa, já está muito bom.”

Esse número já é suficiente, segundo Ari, para que neste ano a faculdade abra uma incubadora, onde os alunos receberão orientação e apoio para se tornar empresários. “É preciso diminuir o risco de insucesso, e nós podemos ajudá-los a crescer. Damos os conceitos básicos, ensinamos a pensar e a aprender, mas o conhecimento altera-se constantemente e o aluno precisa buscar as novas informações.”

Informalmente, esse apoio dos professores já vem sendo dado a alunos como Jorge Ossamu Isonaka, formando de Administração da USP e que está abrindo uma empresa de representação de alimentos. “A USP está mais voltada para a área de administração de grandes empresas. Quase todos os meus colegas estão trabalhando em multinacionais, mas, se o aluno tiver vontade de empreender, existe meia dúzia de professores que pode ajudar.”

Segundo Jorge, o mercado de trabalho está saturado pelo excesso de mão-de-obra e a opção era entre ganhar no máximo R$ 600 por mês ou arriscar na abertura de uma empresa. “Eu tinha vontade de ser dono do meu próprio nariz e aplicar na prática toda a teoria que aprendi, pois o curso não nos proporciona muita experiência”, diz ele, que escolheu o setor de representação comer-cial pelo baixo investimento exigido. “Eu só preciso de um telefone, um fax, e vou terceirizar a contabilidade.”

Jorge acredita que sua principal arma vai ser o direcionamento aos clientes, além de contar com seus conhecimentos para fazer uma administração enxuta.

Ele e seu sócio, Fernando Rodrigues da Cunha - também formando de Administração da USP -, fizeram uma pesquisa de mercado e conseguiram ca-dastrar oitenta restaurantes como possíveis clientes. Eles ainda não têm noção de quanto representa a parte tributária e administrativa do empreendimento. “No início estamos contando com um período de vacas magras, mas o mercado está aquecido com o Plano Real. Por isso, acho que vamos emplacar.”

A grande vantagem em fazer o curso de Administração de Empresas é que, na opinião de Jorge, a parte de gestão empresarial fica mais fácil. “Muitas vezes, o empreendedor abre sua empresa baseado num conhecimento técnico, mas vai ter que bater cabeça para conseguir administrar. A gente sai ganhando nesta parte”, diz ele. Mesmo considerando que muita coisa do que aprendeu está defasada ou fora da realidade, Jorge considera-se preparado pela faculdade para tocar sua empresa.

Se alguns alunos estão dispostos a se arriscar montando seu negócio, outros já têm decidido seu futuro como empresá-rios. É o caso do formando do curso de Administração da Faculdade Getúlio Vargas (FGV) Jorge Eduardo Rubias, que pretende encarregar-se da empresa de seu pai, proprietário da Bolsa de Telefones. “Eu já sabia que teria que administrar uma empresa quando entrei neste curso”, afirma Jorge Eduardo, acrescentando que a sua faculdade deixa um pouco de lado os empreendedores, dando maior ênfase para o profissional executivo. “Mas esse panorama vem mudando nos últimos tempos, e um dos principais fatores que têm impulsionado alunos e professores a se voltarem para o empreendedor é o grande crescimento das franquias.”

Ele também acha que o enxugamento nas grandes empresas tem tornado mais difícil encontrar emprego. Por isso, os alunos estão considerando a possibilidade de ter seu próprio negócio como uma saída para começar sua vida profissional. “O perfil dos alunos da FGV está mudando. Vamos ter cada vez mais micro e pequenos empresários entre nós”, prevê Jorge Eduardo. “Uma situação de economia estável vai levar a um aumento de empreendedores, forçando a Universidade a se adaptar aos novos tempos. Nós temos muita teoria e pouca experiência, mas mesmo assim consegui uma base boa para enfrentar uma empresa.”

Participar de uma empresa-júnior foi a maneira encontrada pela formanda Gisele de Barros, da USP, para ter um contato com a realidade do mercado e adquirir experiência. “A faculdade nos dá uma formação acadêmica que não está muito ligada com nossa vivência. Estudamos em livros estrangeiros muita coisa que nem de longe é parecida com o que acontece no Brasil”, diz Gisele, que passou um ano estagiando no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), da USP, e, insatisfeita com seu curso, prestou novamente vestibular para Física. “A faculdade parece um mosaico, em que se aprende um pouco de tudo, desde informática, contabilidade, propaganda e marketing, direito até psicologia. Mas talvez só matemática financeira consiga realmente formar um especialista.”

Gisele acha que é difícil para o aluno juntar esses conhecimentos di-versos para se tornar um bom profissional. Ela diz que a grande maioria de seus colegas, quando foi fazer estágio - que é obrigatório para obter o diploma -, passou por uma experiência totalmente diferenciada do que tinha aprendido na faculdade. Para Gisele, abrir uma empresa é um sonho distante, que vai depender do dia em que consiga juntar capital suficiente.

Mas esse enfoque não é compartilhado por Mirths da Rosa, que cursa Ciências Econômicas da Faculdade Anhembi Morumbi. Junto com seus colegas Adilson Barbosa, Rogério de Carvalho e Josenilton dos Santos, ela ganhou, com o projeto “O pesqueiro São Paulo”, o primeiro prêmio de Incentivo Universitário, concurso promovido pelo Sebrae.

“Nosso projeto teve grande repercussão, e agora estamos pensando em montar uma empresa de consultoria para aproveitar esse retorno”, diz Mirths, que já tem uma pequena empresa junto com seu colega Adilson. “Eu trabalhava na Xerox, no setor de vendas, e atendia os clientes de porta em porta. Mas não gostei disso e então resolvi libertar-me e fazer as coisas como eu acho que deveriam ser”, conta ela.

Esse emprego mostrou a Mirths um nicho de mercado que resolveu explorar. “Montamos uma pequena empresa de representação comercial de suprimentos importados para escritório e vendemos mais barato que a Xerox. Eu sou pequenininha, mas criei meu espaço e concorro com uma multinacional”, diz Mirths. Ela acha que para quem está iniciando na profissão é tão difícil empreender o próprio negócio quanto sair atrás de uma colocação. “Meu investimento foi mínino. Eu trabalho com telemarketing e não preciso nem de um escritório.”

Para ela, a faculdade tem dado uma noção de como deve ser uma empresa enxuta, como baixar seus custos e uma visão moderna das novas estratégias de marketing. “As pequenas empresas é que são a saída para a economia brasileira. Nós precisamos nos unir e lutar para que o governo nos apóie e cada vez mais surjam novos negócios.”

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Publicado na Revista Sala do Empresário - Edição nº 06
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