Diploma para Condomínio bem Treinado
Aposentadoria na faixa dos 40 anos é quase uma tentação para
quem precisa abrir um negócio por conta própria. Não só
pela remuneração mas, principalmente, para ocupar criativamente
um tempo que se pode escoar no imobilismo. O desafio é conseguir deslanchar
em atividades que façam parte do universo profissional do novo empresário,
mas que não estejam obrigatoriamente vinculadas aos velhos hábitos
que, às vezes, atormentam uma vida inteira de dedicação.
Duas professoras resolveram enfrentar essa passagem, fundamentadas na própria
biografia e, ao mesmo tempo, olhando em volta. Foi assim que surgiu, há
dois anos, a Megatrends Assessoria e Treinamento, de São Paulo,
uma firma que abriu um flanco tão novo quanto necessário: o treinamento
de funcionários de condomínios residenciais, tradicionalmente uma
mão-de-obra desprezada pelos seus próprios empregadores, os moradores
de apartamentos.
Midori Sano e Carmen Vitória Amadi Annunziato, ex-professoras da
rede municipal de ensino, hoje lidam com um mercado que toma conta de todos os
bairros: nos edifícios, sobra carência na postura, preparo, comportamento
de porteiros e zeladores, encarregados da segurança e do bem-estar de centenas
de pessoas. Como o negócio é inédito no Brasil, elas formataram
os cursos por meio da sua própria experiência e com ajuda de colaboradores.
Aos poucos, a empresa está evoluindo, sistematizando o conhecimento repassado
e especializando-se no fornecimento de mão-de- obra treinada para um mercado
carente. No depoimento a seguir, Midori e Carmen explicam como conseguiram convencer
os síndicos e, ultimamente, as administradoras da importância desse
trabalho e como romperam barreiras de relacionamento com profissionais com uma
série de deficiências de formação.
SER ZELADOR NÃO É FAZER CONSERTOS
"O objetivo da empresa não está fechado. Optamos pelos condomínios
residenciais por ser um nicho novo, sem concorrentes. Mas há necessidade
de se fazer uma conscientização para a importância da qualificação
de pessoal. Aos poucos, o mercado convenceu-nos a centrar esforços em duas
figuras fundamentais, que são o zelador e o porteiro dos prédios.
A idéia que o síndico tem da função do zelador é
normalmente equivocada. Zelador não serve apenas para fazer pequenos consertos,
ele é a pessoa que vai executar todo o trabalho do condomínio, decidido
em assembléia, vai fazer a vistoria desse serviço e administrar
todo o pessoal encarregado. Precisa, portanto, ter um preparo bem maior do que
possui na maioria das vezes.
Cada curso tem suas características e acaba tomando uma forma bem personalizada,
devido à estratégia que adotamos. Conversamos antes com o síndico,
fazemos uma reunião com os moradores, formulamos o treinamento e desenvolvemos
a experiência com os funcionários. E também trazemos o zelador
aqui, na empresa, para ele conhecer outras pessoas do ramo e trocar idéias.
Não basta dar um treinamento de quinze horas, por exemplo, que é
a média de duração dos nossos cursos. É preciso que
as orientações sejam aplicadas. O problema é que os funcionários
dos prédios acham que sabem de tudo e reagem um pouco ao treinamento. Normalmente,
sentem vergonha de ser obrigados a falar e a tomar posições. Quando
descobrem que o curso não vai colocá-los numa situação
constrangedora, ficam à vontade e até reclamam quando acaba."
CONTINUAMOS SENDO PROFESSORAS
"Nosso trabalho é muito parecido ao que fazíamos antes da aposentadoria.
Viemos do ensino municipal, em que a maioria das escolas são da periferia
e era feito um trabalho intensivo com os pais dos alunos, que são da mesma
classe social dos nossos treinandos hoje. Então, a nossa relação
com eles tem sido muito boa, pois nós já conhecemos esse público.
No término dos nossos treinamentos, os alunos passam a ter outra atitude.
Eles conseguem enxergar-se como pessoas, entendem a importância das suas
funções dentro do condomínio, conhecem o papel que os outros
profissionais do mesmo edifício desempenham e não se sentem mais
tão marginalizados. Um porteiro, por exemplo, que cuida da segurança
de todos, precisa ter noção exata do seu trabalho e aprender a agir
de maneira integrada.
Eles devem abandonar a idéia de que um faz tudo e o outro não faz
nada. Nas três primeiras aulas de zelador e de porteiro, juntamos as turmas
para proporcionar esse conhecimento mútuo. Quando perguntamos o que estava
errado, eles punham sempre a culpa nos outros, não enxergavam a si mesmos.
De uma aula para outra fazemos avaliações e damos deveres de casa.
Ensinamos observação, comunicação, desempenho de funções
etc.
Utilizamos também as experiências do próprio condomínio
para trabalhar nas aulas, dando destaque a determinados aspectos e carências,
conforme cada caso. Depois da primeira fase, de aulas conjuntas entre zeladores
e porteiros, dedicamo-nos a trabalhar com os papéis específicos
de cada um. O zelador, por exemplo, aprende a ver sua função como
a de um executivo do síndico, a participar do planejamento e da coordenação
do trabalho dos funcionários. No fim, fazemos um acompanhamento para ver
se as mudanças foram realmente implantadas."
É MUITO CEDO PARA APOSENTAR
"No nosso caso, chegamos à aposentadoria no auge da capacidade. Decidimo-nos
por esse negócio porque prestação de serviço precisa
de pouco capital inicial e tínhamos uma estrutura por trás, família,
salário, que nos garantia o início das atividades por conta própria.
No nosso meio, a iniciativa foi muito bem-vinda e procuramos aproveitar professores
que, como nós, precisam dar continuidade ao seu trabalho.
Está dando certo, porque somos duas sócias muito afinadas, com uma
experiência similar e, apesar das dificuldades nas áreas contábil
e administrativa, estamos dentro das expectativas normais de qualquer pequena
empresa. Quando contatamos o SEBRAE/SP para nos ajudar na administração,
soubemos que é assim mesmo no início, um empate entre investimento
e remuneração. Sentimos que ainda estamos na fase de convencimento
do mercado e procuramos abrir novos flancos.
Já somos conhecidas como fornecedoras de mão-de-obra especializada,
pois organizamos um cadastro e até damos treinamento prévio para
pessoas ainda desempregadas. Quando alguém solicita um porteiro ou zelador,
enviamos três pessoas já pré-selecionadas e ganhamos uma remuneração
equivalente ao primeiro salário do empregado. Se houver qualquer problema,
fazemos a substituição sem ônus para o cliente.
Temos entre 25 e 30 clientes, em média, e trabalhamos com turmas entre
10 e 12 pessoas. Não ampliamos esse número, porque queremos manter
o atendimento personalizado."
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