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« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 87 (05/12/1993)

Diploma para Condomínio bem Treinado

Aposentadoria na faixa dos 40 anos é quase uma tentação para quem precisa abrir um negócio por conta própria. Não só pela remuneração mas, principalmente, para ocupar criativamente um tempo que se pode escoar no imobilismo. O desafio é conseguir deslanchar em atividades que façam parte do universo profissional do novo empresário, mas que não estejam obrigatoriamente vinculadas aos velhos hábitos que, às vezes, atormentam uma vida inteira de dedicação.
Duas professoras resolveram enfrentar essa passagem, fundamentadas na própria biografia e, ao mesmo tempo, olhando em volta. Foi assim que surgiu, há dois anos, a Megatrends Assessoria e Treinamento, de São Paulo, uma firma que abriu um flanco tão novo quanto necessário: o treinamento de funcionários de condomínios residenciais, tradicionalmente uma mão-de-obra desprezada pelos seus próprios empregadores, os moradores de apartamentos.
Midori Sano e Carmen Vitória Amadi Annunziato, ex-professoras da rede municipal de ensino, hoje lidam com um mercado que toma conta de todos os bairros: nos edifícios, sobra carência na postura, preparo, comportamento de porteiros e zeladores, encarregados da segurança e do bem-estar de centenas de pessoas. Como o negócio é inédito no Brasil, elas formataram os cursos por meio da sua própria experiência e com ajuda de colaboradores.
Aos poucos, a empresa está evoluindo, sistematizando o conhecimento repassado e especializando-se no fornecimento de mão-de- obra treinada para um mercado carente. No depoimento a seguir, Midori e Carmen explicam como conseguiram convencer os síndicos e, ultimamente, as administradoras da importância desse trabalho e como romperam barreiras de relacionamento com profissionais com uma série de deficiências de formação.

SER ZELADOR NÃO É FAZER CONSERTOS
"O objetivo da empresa não está fechado. Optamos pelos condomínios residenciais por ser um nicho novo, sem concorrentes. Mas há necessidade de se fazer uma conscientização para a importância da qualificação de pessoal. Aos poucos, o mercado convenceu-nos a centrar esforços em duas figuras fundamentais, que são o zelador e o porteiro dos prédios.
A idéia que o síndico tem da função do zelador é normalmente equivocada. Zelador não serve apenas para fazer pequenos consertos, ele é a pessoa que vai executar todo o trabalho do condomínio, decidido em assembléia, vai fazer a vistoria desse serviço e administrar todo o pessoal encarregado. Precisa, portanto, ter um preparo bem maior do que possui na maioria das vezes.
Cada curso tem suas características e acaba tomando uma forma bem personalizada, devido à estratégia que adotamos. Conversamos antes com o síndico, fazemos uma reunião com os moradores, formulamos o treinamento e desenvolvemos a experiência com os funcionários. E também trazemos o zelador aqui, na empresa, para ele conhecer outras pessoas do ramo e trocar idéias.
Não basta dar um treinamento de quinze horas, por exemplo, que é a média de duração dos nossos cursos. É preciso que as orientações sejam aplicadas. O problema é que os funcionários dos prédios acham que sabem de tudo e reagem um pouco ao treinamento. Normalmente, sentem vergonha de ser obrigados a falar e a tomar posições. Quando descobrem que o curso não vai colocá-los numa situação constrangedora, ficam à vontade e até reclamam quando acaba."

CONTINUAMOS SENDO PROFESSORAS
"Nosso trabalho é muito parecido ao que fazíamos antes da aposentadoria. Viemos do ensino municipal, em que a maioria das escolas são da periferia e era feito um trabalho intensivo com os pais dos alunos, que são da mesma classe social dos nossos treinandos hoje. Então, a nossa relação com eles tem sido muito boa, pois nós já conhecemos esse público.
No término dos nossos treinamentos, os alunos passam a ter outra atitude. Eles conseguem enxergar-se como pessoas, entendem a importância das suas funções dentro do condomínio, conhecem o papel que os outros profissionais do mesmo edifício desempenham e não se sentem mais tão marginalizados. Um porteiro, por exemplo, que cuida da segurança de todos, precisa ter noção exata do seu trabalho e aprender a agir de maneira integrada.
Eles devem abandonar a idéia de que um faz tudo e o outro não faz nada. Nas três primeiras aulas de zelador e de porteiro, juntamos as turmas para proporcionar esse conhecimento mútuo. Quando perguntamos o que estava errado, eles punham sempre a culpa nos outros, não enxergavam a si mesmos. De uma aula para outra fazemos avaliações e damos deveres de casa. Ensinamos observação, comunicação, desempenho de funções etc.
Utilizamos também as experiências do próprio condomínio para trabalhar nas aulas, dando destaque a determinados aspectos e carências, conforme cada caso. Depois da primeira fase, de aulas conjuntas entre zeladores e porteiros, dedicamo-nos a trabalhar com os papéis específicos de cada um. O zelador, por exemplo, aprende a ver sua função como a de um executivo do síndico, a participar do planejamento e da coordenação do trabalho dos funcionários. No fim, fazemos um acompanhamento para ver se as mudanças foram realmente implantadas."

É MUITO CEDO PARA APOSENTAR

"No nosso caso, chegamos à aposentadoria no auge da capacidade. Decidimo-nos por esse negócio porque prestação de serviço precisa de pouco capital inicial e tínhamos uma estrutura por trás, família, salário, que nos garantia o início das atividades por conta própria. No nosso meio, a iniciativa foi muito bem-vinda e procuramos aproveitar professores que, como nós, precisam dar continuidade ao seu trabalho.
Está dando certo, porque somos duas sócias muito afinadas, com uma experiência similar e, apesar das dificuldades nas áreas contábil e administrativa, estamos dentro das expectativas normais de qualquer pequena empresa. Quando contatamos o SEBRAE/SP para nos ajudar na administração, soubemos que é assim mesmo no início, um empate entre investimento e remuneração. Sentimos que ainda estamos na fase de convencimento do mercado e procuramos abrir novos flancos.
Já somos conhecidas como fornecedoras de mão-de-obra especializada, pois organizamos um cadastro e até damos treinamento prévio para pessoas ainda desempregadas. Quando alguém solicita um porteiro ou zelador, enviamos três pessoas já pré-selecionadas e ganhamos uma remuneração equivalente ao primeiro salário do empregado. Se houver qualquer problema, fazemos a substituição sem ônus para o cliente.
Temos entre 25 e 30 clientes, em média, e trabalhamos com turmas entre 10 e 12 pessoas. Não ampliamos esse número, porque queremos manter o atendimento personalizado."


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