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« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 109 (08/05/1994)

A Produção Rural Diante do Lucro

A Produção Rural Diante do Lucro

Você apostaria US$ 1 milhão num projeto agrícola? O engenheiro-agrônomo Vitor Manoel Guerra, do município de Casa Branca, São Paulo, e seu primo, o médico José Pedro de Oliveira Costa, apostaram. Essa ousadia causou espanto entre amigos, conhecidos, familiares e produtores rurais da região. Mas Vitor tinha certeza de que esse era o melhor caminho para sair do círculo vicioso de um setor que, em sua opinião, está sendo sucateado pela falta de uma política adequada, pelas distorções do sistema financeiro e pelos erros cometidos no processo de comercialização.
O Projeto Estufas Fazenda São Francisco da Angolinha - telefone (0196) 23-4463 - tem 100 mil metros quadrados de área coberta, quinhentas estufas de metal e plástico, um sistema de irrigação ultramoderna, com técnicas de gotejamento e equipamentos importados de última geração. Deu emprego para 150 pessoas e começou a exportar para a Europa produtos agrícolas de alta qualidade. Todo o projeto foi concebido para atender o mercado externo, pois o preço lá fora justificava plenamente o investimento.
Só que Vitor e José Pedro esbarraram exatamente no processo de comercialização. A pessoa que prometeu colocar suas primeiras safras no mercado externo sumiu. Eles ficaram com a dívida, a infra-estrutura e a responsabilidade de não deixar o sonho morrer na primeira investida. Hoje, com a ajuda do SEBRAETEC, retomaram a produção e estão montando, aos poucos, um esquema que começa com contatos diretos com o comércio varejista do mercado interno e pode chegar até mesmo aos exigentes consumidores do Primeiro Mundo. Vitor relata essa experiência no depoimento a seguir.

A CHAVE DA AGRICULTURA É A COMERCIALIZAÇÃO
"Em Paracatu, Minas Gerais, sou um produtor de culturas tradicionais, como soja, milho, feijão e arroz. Quando, por motivos pessoais, precisei vir para o interior de São Paulo tocar outro empreendimento rural familiar, estava com idéia de alguma coisa que mexesse com uma agricultura intensiva, ou seja, estufas. Montamos, então, com um parceiro vindo de Israel, esse projeto para exportar melão e pimentão.
Antes de fechar negócio, acompanhei o trabalho dele por várias partes do Brasil, onde havia tecnologia semelhante, e vi pessoalmente como eram feitos os contratos e todo o processo de exportação, via porto de Santos. A idéia dele era concentrar a produção num lugar só para atingir o máximo rendimento e eliminar o caráter dispersivo de ter que trabalhar com várias fontes. Levamos algum tempo maturando o projeto até bater o martelo e sair atrás dos financiamentos disponíveis.
Começamos a atuar no final de 1991, mas ele quebrou a cadeia sem pagar o que nos devia e ficamos no gargalo, no desespero. Já tive que vender uma propriedade para ter que honrar compromissos da dívida. Ficamos seis meses parados em 1993 e só estamos voltando às atividades graças ao SEBRAE/SP, que nos colocou à disposição os técnicos necessários, criou um projeto de comercialização específico e está fazendo um acompanhamento da montagem das futuras vendas para o exterior."

POSTURA EMPRESARIAL NO CAMPO
"Estamos agora na fase de produção de mudas e de plantio, lidando com tomate-cereja, pimentão vermelho, feijão-vagem, pepino japonês e melão. Os critérios são diferentes para o mercado interno: aqui, os produtos precisam ser grandes, mesmo não tendo muita qualidade nem gosto. Plantamos, certa vez, uma melancia de casca preta, redonda, muito apreciada no exterior, que é extremamente saborosa. Como fiquei na mão com o parceiro que nos abandonou, tentei vender por aqui mesmo. Resultado: joguei toda a safra fora, pois os atacadistas queriam era a do tipo comum, enorme, rajada.
Essa espécie de melancia que produzimos atinge entre 2 e 3 quilos, mas, aqui, no Brasil, ela chega a 5 quilos. Pois, mesmo assim, não obtivemos sucesso na comercialização. Ocorre o mesmo com nosso pimentão vermelho. A dona-de-casa brasileira prefere o verde, pequeno, mesmo de má qualidade. Os hábitos aqui são muito arraigados, e as pessoas costumam mais guiar-se pelo preço do que pela qualidade. A renda do consumidor precisa melhorar para que ele possa ser mais exigente.
Numa cultura tradicional, por mais que você aumente o rendimento da terra, só consegue trabalhar para o banco ou para a cooperativa. Existem também esquemas viciados, tanto dentro do Brasil quanto fora. O resultado está à vista: a produção rural está em decadência, de uns quinze anos para cá, os equipamentos estão sendo sucateados. Hoje, o produtor de leite, por exemplo, não tem preço para poder segurar um investimento caríssimo. E não vemos mais nas fazendas aquelas colônias de cinqüenta famílias, onde tinha até escola. O povo está morando na cidade, e precisamos trazer as pessoas de volta.
As dificuldades atingem o produtor rural autêntico, e não aquele empresário ou profissional liberal urbano que toca o sítio ou a fazenda por hobby. Quem depende da agricultura para viver precisa ser empresário, ter lucros. O que falta para nós é união, para podermos comercializar nosso produto de maneira que compense. E falta também o governo implantar uma política que privilegie quem trabalha na terra."

INVESTI E PRECISO TER RETORNO
"Dentro de uma estufa eu consigo produzir qualquer tipo de cultura, mas não vou dedicar-me nem à couve nem à alface, porque isso não me dá retorno para eu pagar o investimento. Preciso produzir coisas que valham muito, pois dependo de um retorno alto, que pague o investimento e ainda sobre alguma coisa. Já criamos uma empresa limitada, a Plastiverde, que nos ajudará a implantar nosso sistema de comercialização.
O agricultor brasileiro ainda tem hábitos primitivos, pois a maioria trabalha sem uma mentalidade mais aberta, mais arrojada. As frutas chilenas, por exemplo, estão em todo o mundo, mas ainda não colocamos nossos produtos no mercado do Primeiro Mundo de maneira satisfatória. É isso que precisamos almejar."


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