O ex-funcionário Diante do Espelho
Os empreendedores
continuam deixando um emprego seguro, cultivado em décadas de dedicação,
para montar um negócio. Essa história, tantas vezes repetida,
possui um encanto particular: prova de que o Brasil tem capacidade infinita
de gerar oportunidades, apesar da economia incerta, dos entraves burocráticos,
do excesso de impostos e encargos e de outras dificuldades.
O que vale destacar é a persistência das pessoas que não
se conformam com qualquer tipo de crise e procuram abrir caminho para a liberdade
pessoal e profissional. O administrador de empresas Miguel Ortega, por
exemplo, fundou, em fevereiro deste ano, sua Orteglass Comércio de
Vidros Ltda. - tel.: (011) 530-2139 -, arriscando tudo na sua especialidade.
Durante vinte anos, trabalhou para uma grande firma do setor, vendendo os serviços
que agora presta para seus clientes, que é trabalhar com vidros de decoração
- com ênfase no acabamento, principalmente para espelhos e boxes de banheiro
- e da construção civil em geral.
Para isso, conta com muita disposição e um esquema eficiente de
terceirização, com empresas de montagem e manutenção
que trabalham em parceria. A produção, segundo seu depoimento
a seguir, vai de vento em popa, mas a única dificuldade é equilibrar
as várias peças da sua engrenagem - mercado, mão-de-obra,
fornecedores - para continuar dando um atendimento de primeira grandeza.
EVITANDO A FRAGILIDADE
"Nosso negócio é o comércio e a instalação
de vidros, espelhos, box para banheiro, os tampos de mesa e a parte do acabamento
em geral das peças. Trabalhamos de acordo com os projetos dos engenheiros
e arquitetos e contratamos pessoal altamente técnico e qualificado para
dar conta do serviço. Ultimamente, estamos desenvolvendo, junto com empresas
que trabalham em parceria conosco, as estruturas que hoje estão sendo
muito usadas, de ferro ou de alumínio, que são, depois, cobertas
de vidro para originar uma estufa, um jardim de inverno.
São, portanto, projetos especiais, em que prestamos inclusive assessoria
técnica prévia, orientando sobre a viabilidade de determinados
projetos e soluções criados por nossos parceiros. Esse é
um cuidado que deve ser tomado pelas firmas antes de vender a idéia,
pois, quando o cliente fecha negócio, não adianta voltar atrás.
Então, é preciso prevenir e, para isso, damos nossa consultoria.
Trabalhamos com esmerado acabamento, mas também fazemos box simples.
Do que não abrimos mão é do atendimento personalizado,
cumprimento de prazos, pessoal capacitado e material de primeira. Existe uma
tendência perigosa, hoje, de prestar atenção apenas nos
custos. Como nosso mercado está bastante prostituído por aventureiros
que fazem qualquer serviço a preços aviltados, o cliente acaba
decidindo-se por serviços que mais tarde vão exigir manutenção
dispendiosa. Evitamos transtornos futuros, escolhendo o alumínio certo,
o vidro temperado, tudo certinho."
FORNECEDOR É O REI "Se, por um lado, enfrentamos
a concorrência desse tipo de profissional informal, que nem empresa tem,
nem paga imposto e some depois de fazer o serviço, deixando o cliente
na mão, por outro, temos a crise cíclica dos fornecedores de materiais
básicos. Isso ocorre no vidro, no latão, no alumínio e,
especialmente, nas ferragens. O fornecedor de vidro, por exemplo, presta boa
assistência, mas nem sempre o vidro está disponível, especialmente
o vidro colorido.
Acontece, às vezes, um serviço ficar pela metade, devido a esse
problema dos fornecedores. Você fica na mão deles, que o esnobam.
Eles nem estão preocupados em manter o cliente. Quem fabrica as ferragens
que prendem o vidro na parede, por exemplo, o abandonam quando a economia aquece.
Eles chegam a importar latão, mas a matéria-prima não chega.
E, como o material está escasso, eles preferem atender os grandes clientes,
pois, assim, não ficam vendendo picadinho para empresas média
e pequena. É preciso ficar no pé do fornecedor, pedir pelo amor
de Deus, ligar para ele todo dia. Se quebra uma peça, a coisa complica.
Assim, quando você consegue o vidro, não consegue a ferragem, e
vice-versa; quando consegue o alumínio, a ferragem e o vidro, falta o
colocador. Importávamos vidros do México, mas, agora, eles estão
enviando tudo para os Estados Unidos. Esse é um mistério que não
consigo entender. O Brasil tem mercado e consumo e não tem produção,
não consegue atender a demanda. Acho que existe uma indiferença
histórica em relação ao nosso mercado interno. Existe um
descaso total que prejudica o bom andamento dos negócios."
JOGO DE CINTURA "Os
fornecedores, em geral, trabalham em regime de monopólio e não
abaixam os preços. O empresário é que vai fazer o preço,
em razão da estrutura que ele montou, dos custos que assumiu. Aprendemos
isso nos cursos do SEBRAE/SP: a gente tem o preço que quer vender, existe
o preço que o cliente quer pagar e o preço do mercado. É
preciso, então, fazer uma composição média e saber
onde você está pisando. Diante da concorrência, o que fazer?
Apertar mais a margem de lucro, diminuir de 5 para 3%? Compensa trabalhar assim?
É preciso decidir, senão você não vende, você
fica sentado dentro da firma, olhando para as paredes. É preciso pesquisar
a compra e a venda, ter jogo de cintura e jamais ficar firme no seu preço."
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