|
Sanduíche brasileiro tem futuro
Não são
só os americanos que sabem ganhar dinheiro, colocando alguma coisa entre
dois pedaços de pão. Existem empreendedores brasileiros do ramo
que oferecem excelentes perspectivas de negócio, somando tradição,
originalidade e um know-how adquirido no balcão, em contato direto com
os consumidores. Nivio Teixeira de Carvalho Filho é um deles,
pois faz parte de uma linhagem empresarial que vem desde 1924, quando seu avô
fundou a primeira Casa Califórnia, no Largo São Francisco,
centro de São Paulo. A empresa mantém-se até hoje -
Tel.: (011) 232-5278 - em três pontos: na rua São Bento, na
Barão de Itapetininga e no shopping Aricanduva.
No início, era apenas uma mercearia, que se transformou em lanchonete,
devido à concorrência desencadeada pelos supermercados nos anos
50. Nessa época, o pai de Nivio foi um dos pioneiros do "hot-dog"
em São Paulo, novidade trazida depois de uma viagem aos Estados Unidos.
Mas o que determinou o perfil da casa de lanches foi a lingüiça
calabresa, que é adquirida do mesmo fornecedor, há mais de trinta
anos. Outro elemento importante são os sucos feitos com frutas selecionadas
e congeladas.
O negócio foi formatado da seguinte maneira: lojas pequenas, giro rápido,
insumos de primeira qualidade, higiene e atendimento. No depoimento a seguir,
Nivio conta como está trabalhando, junto com o filho Eduardo, todo esse
conhecimento e cuidando para dar a resposta brasileira às franquias importadas
de "fast-food".
O CUIDADO COM OS PRODUTOS
"Aprendi com meu pai a ter uma política de preços baixos,
mesmo em época de muita inflação. Ele dizia que, como temos
aluguel, luz, telefone, funcionários, é preciso usar tudo o tempo
todo, vendendo barato e garantindo o lucro pela alta rotatividade da venda.
Até mesmo no shopping, onde os custos são altos, conseguimos manter
preços baixos.
Outro segredo é o cuidado com os produtos. O pão, por exemplo,
é a primeira coisa que o cliente coloca na boca. Ele precisa ser bom
e, por isso, é uma briga. Mudei muito de padaria, mas, há três
anos, estamos trabalhando com o mesmo fornecedor. Até 1989, usávamos
apenas o pão de 'hot-dog', mas, agora, também temos
o pão francês.
Nós mesmos cuidamos da matéria-prima dos sucos, com exceção
do leite de coco. Do resto, encarregamo-nos pessoalmente, indo ao Ceasa toda
semana, comprando aquelas frutas que usaríamos em casa. Batemos a fruta
e congelamos. Com isso, garantimos a qualidade e sabemos a durabilidade certa,
com etiquetas trazendo a data de fabricação. O que vende mais
é o maracujá, seguido do abacaxi.
Nosso diferencial é a lingüiça calabresa, que também
vendemos aqui por quilo. Meu pai contratou o fornecedor, que até hoje
nos abastece. Ela pega o cliente pelo paladar. Tem gente que vem de longe para
degustar e traz os filhos, criando, assim, uma tradição. Oferecemos
também salsichão."
MUDANÇA DE ESTILO "Conseguimos pegar todo
tipo de cliente, tanto o boy quanto o senhor de idade, da classe A até
a Z. Se um vem pelo preço, outro vem pela qualidade. Não temos,
como todo mundo, uma hierarquia de supervisor, gerente, subgerente, encarregado.
O gerente da loja cobre o funcionário, fica no caixa e, se precisar,
atende. Ele exerce várias funções, pois é preciso
enxugar. Não adianta ter vários funcionários se você
não consegue ter preço bom e vender.
Todo mundo costuma dizer que trabalhar com comida é fácil, porque
as pessoas precisam alimentar-se. Mas não é bem assim. O consumidor
só come fora se houver necessidade. Nosso ramo depende muito dos outros
segmentos. Se a loja de roupas não vende, por exemplo, o funcionário
dela não sai para lanchar.
E também existe a concorrência, que aumentou muito. É por
isso que introduzimos algumas mudanças, como vender, também, refrigerantes
e batata frita, que são idéias do meu filho Eduardo. Estamos mudando
o estilo das lojas, trocando o aço pela alvenaria, colocando azulejos
brancos e usando tampo de granito no balcão."
CONSULTORIA MOSTRA CAMINHOS
"Quando iniciamos nossa expansão para outros pontos de venda, fizemos
um empréstimo, mas de maneira equivocada. A dívida multiplicou-se
por cinco, praticamente. Fomos, então, até o SEBRAE/SP, marcamos
uma entrevista e eles nos mandaram um consultor, que nos deu uma orientação
muito boa sobre gerenciamento.
Agora, estamos envolvidos com a montagem de uma rede franqueada da Casa Califórnia.
Foi uma idéia do meu filho, que entrou aqui para trabalhar aos 12 anos.
Aos 17, ele resolveu ser agrônomo, em Pinhal, mas acabou voltando, dizendo
que gostava era de ficar trabalhando conosco. Hoje, ele toca a loja do shopping
e introduziu várias mudanças no negócio. Está, também,
cuidando das franquias. Damos toda assessoria, fazemos o atendimento completo
do franqueado, que tem acesso aos nossos fornecedores, com todos os descontos.
Escolhemos o ponto e passamos nosso conhecimento.
É importante que o franqueado saiba que ele terá de trabalhar,
colocar a mão na massa, para que o negócio dê certo. Se
ele quiser montar o negócio sem se envolver diretamente, vai acabar quebrando.
É preciso disponibilidade para operar a loja. Os 'royalties'
são de 6% ao mês, e o retorno do investimento é em média
de dezoito meses."
|