A Pressão e a Temperatura da Economia
No momento em que
o fenômeno da globalização e a liberalização
das importações afetam a economia brasileira, ao mesmo tempo,
de forma positiva e negativa, por mais paradoxal que isso possa parecer, alguns
setores da nossa indústria de transformação, infelizmente
raros, estão caminhando na contramão do processo e saindo-se muito
bem. Estão trazendo amostras do melhor que existe lá fora e nacionalizando
os produtos para atender o mercado interno, ao mesmo tempo que aperfeiçoam
o que já se faz em termos de qualidade e produtividade, conforme os padrões
de qualidade internacionais. A experiência é relatada, em depoimento
exclusivo, por Marcos Antonio Godoy, superintendente e um dos três
sócios da Bimetal Indústria e Comércio de Aparelhos de Medição Ltda. - www.bimetal.com.br - empresa fundada em 1978 para fazer manutenção e reparar instrumentos, mas que evoluiu para a fabricação, como tantas outras. Ela tem uma das mais amplas linhas de produção, desde manômetros simples de pressão, usados em compressores no dia-a-dia, até instrumentos sofisticados com controle liga-desliga, contato elétrico e totalmente inoxidáveis, para as indústrias química e petroquímica.
RECLAMAR MENOS E EMPREENDER MAIS
"A década de 90, com todas as dificuldades, tem sido a que melhores resultados trouxe em termos de desenvolvimento e progresso. Estou convencido de que somos tão bons quanto americanos, alemães ou chineses - o que nos falta é sermos realmente empreendedores. Reclamamos do governo, da mão-de-obra e do mercado, esquecemo-nos de nosso potencial, de nossa capacidade, do que podemos realizar. Em vez de me queixar, de reclamar, de procurar o culpado por minhas deficiências e até por minha derrota, devo perguntar-me o que posso fazer. É imprescindível dar as costas para esse tipo de atitude conformista e fatalista, se quisermos ter sucesso. Recentemente, trocava idéias com um concorrente que dizia não estar mais compensando produzir internamente, porque os custos estão proibitivos e impossíveis de concorrer com o exterior. Portanto, a solução seria importar. Respondi que não se trata somente de custo, mas de atendimento adequado."
PADRONIZAÇÃO ESTÁ MODERNIZANDO-SE
"O que vemos hoje é que o produto que está chegando atende a primeira necessidade, depois quebra e tem de ser jogado fora, pois tem especificações diferentes das vigentes no País. De repente, ele tem na prateleira uma miscelânea de artigos e, na hora de efetuar a reposição, ele terá dificuldades - e mais custos - com a diversidade de especificações... É preciso ser prático, ter padronização dos instrumentos e isso pode-se conseguir aqui, com a indústria produzindo já com tecnologia absorvida e de acordo com normas estabelecidas. O problema é que até bem pouco tempo, no Brasil, o controle e a padronização de processos eram extremamente arcaicos. Por exemplo, a indústria têxtil nacional está totalmente ultrapassada, falida. Por quê? Cansei-me de visitar fábricas têxteis onde não havia nenhum instrumento de medição operando nas máquinas - estavam todos quebrados ou defeituosos. Se o produto saía com defeito, devido a problemas de quedas de pressão ou temperatura, ia para o lixo, a despesa entrava no custo, era repassada aos preços e ninguém reclamava. Hoje, tudo mudou por exigência do mercado."
CONTROLE DE PROCESSOS SIGNIFICA ECONOMIA
"Assim, utilizar toda a gama de controles e medições tornou-se importante, porque representa economia na produção. Antes, devido a uma mentalidade distorcida, isso não era levado em consideração. Muitas vezes alertei empresários de que, por não estarem fazendo controle correto de pressão e temperatura, sofriam perda de energia nas máquinas, que, conseqüentemente, eram exigidas além do limite. Uma lavanderia industrial que fazia amaciamento de jeans sofreu enorme prejuízo ao ter de ressarcir um cliente que teve alterada a tonalidade de toda uma remessa do produto, devido a um problema com temperatura. Atualmente, as indústrias correm atrás de instrumentos que proporcionem segurança nos processos, precavendo-se contra gastos desnecessários e, ao final, barateando custos. Com a relativa estabilização da economia, o consumidor evoluiu muito, tornou-se mais exigente e consciente de seus direitos, e o empresário que não corresponder, com certeza, desaparecerá."
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