Portas Abertas para o Varejo
Nos últimos cinco anos, cerca de 70% das lojas que abriram durante esse período para vender materiais de construção fecharam as suas portas. Um índice assustador que revela a fragilidade de milhares de pequenos comércios que não têm como enfrentar a concorrência muitas vezes inescrupulosa das grandes redes internacionais que vieram instalar-se no Brasil recentemente. Porém, ainda mais avassaladoras que a concorrência continuam sendo a elevada carga tributária que incide sobre comerciantes de qualquer porte e a falta de respeito comercial de muitas indústrias, que vem inviabilizando a sobrevivência dos distribuidores com a venda direta ao consumidor final. Quem alerta para todos esses entraves, que constituem um verdadeiro desafio para o novo governo, é Reinaldo Pedro Correa, presidente em exercício do Sindicato do Comércio Varejista de Material de Construção, Maquinismos, Ferragens, Tintas, Louças e Vidros da Grande São Paulo (Sincomavi) www.sincomavi.org.br. Em depoimento exclusivo, ele pede a mobilização de todos para garantir a permanência dos varejistas no mercado e, com isso, aumentar a empregabilidade no País.
MODERNIZAÇÃO
"As grandes redes sempre trazem novas tecnologias e uma ampliação do mercado. Abre-se um leque para um lugar em que é possível comprar tudo, passear e levar a sua família. Procuramos proteger o pequeno comércio da melhor maneira possível, mas é difícil, porque fica complicado exigir regras desses comerciantes de fora, que vêm com um poder econômico violento. Mas com diálogo e troca de informações, a negociação fica interessante, pois eles acabam respeitando-nos e isso é muito importante. O fator positivo da vinda dessas novas redes é que aqueles que estavam acomodados, principalmente as empresas familiares, que são tradicionais nesse ramo de atuação do Sincomavi, começaram a se aperfeiçoar em nível de informatização e de tecnologia nas vendas. Isso serve para motivar, para abrir a mentalidade das redes nacionais no sentido da modernização, de fazer cursos para atualização, na busca constante de um maior conhecimento do setor."
RESPEITO COMERCIAL
"Os comerciantes pagam um custo operacional violento, e não é mais com folha de pagamento como se falava antigamente, não é mais salário, embora o Sincomavi seja um dos integrantes da Câmara Intersindical de Conciliação Trabalhista do Comércio de São Paulo - CINTEC-SP, com o objetivo de resolver os conflitos trabalhistas de forma ágil para empregados e empregadores. Hoje em dia, não tem onde mexer, são os encargos tributários mesmo que fazem o custo da empresa, o dia-a-dia dela. A concorrência com as indústrias sempre existiu, pois antigamente se vendia muito para as construtoras, mas em número menor. Atualmente, apesar de o risco ser grande, a concorrência é direta, os produtores estão vendendo qualquer produto, qualquer um tem loja de fábrica com preços massacrantes. Deveria haver um respeito comercial, com tabelas justas, para não prejudicar os distribuidores. Esse respeito não acontece em nenhum segmento que o nosso sindicato representa, o que é muito sério."
PARCERIAS
"A fidelização não existe, não se pode confiar em palavras hoje. Enquanto um comerciante está dando retorno para as indústrias, elas acreditam nele, mas até que ponto esse retorno ocorre, o lojista não fica sabendo. Há uma série de problemas com uma porta aberta, tem o risco do assalto, o problema da fiscalização e tem ainda o assalto uniformizado, que deixa os comerciantes expostos aos abusos do poder da legislação. Esperamos que, com o novo governo, não haja tanta pressão como houve e tanto terrorismo na hora de fiscalizar. Queremos apenas que eles dêem condições para a indústria produzir e distribuir e para o varejo trabalhar, pois, trabalhando, nós geramos empregos. O empresário do dia-a-dia, aquele que abre e fecha suas portas, o Lula conhece bem e tem capacidade para tentar filtrar isso da melhor maneira possível. A livre iniciativa é uma necessidade e, mesmo sendo de esquerda, o governo terá que reavaliar alguns conceitos e adotar outros, para fazer com que sempre valha a pena abrir uma empresa no Brasil."
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