Ousadia que não Pára
Se o Brasil está crescendo do ponto de vista econômico e ainda é apontado como um País no qual existe um enorme potencial para a livre iniciativa, isso não se deve à atuação do poder público e das entidades de classe em favor do empreendedorismo. Movidos muitas vezes pela necessidade de sobrevivência em um mercado que oferece poucas oportunidades em termos de trabalho assalariado, os brasileiros apostam na criatividade e na ousadia para não deixar que os problemas externos desestimulem a caminhada para a abertura e para a manutenção do próprio negócio. É na vontade de dar certo e na crença de que vale a pena lutar com garra que a maioria dos pequenos e médios empresários espalhados por todo o território nacional encontram forças todos os dias para continuar a jornada como ciclistas que nunca devem deixar de pedalar. Quem faz a comparação e incentiva esse esforço é Agrário Marques Dourado, que teve uma trajetória de sucesso no comando da Expresso Universo S/A, uma empresa de transporte rodoviário de cargas que completou 50 anos e encerrou as suas atividades em 1996. Em depoimento exclusivo, ele relembra sua estratégia como presidente da organização durante 20 anos, relatando como os conflitos familiares afetam o ambiente empresarial, além de atribuir unicamente à coragem do empresário nacional o crédito pelo desenvolvimento da Nação.
EVOLUÇÃO
"Nós pegamos a empresa ainda bem pequena em 1951, fundada por uma italiana. Compramos fiado, pagamos e chegamos a ter sede própria em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Uberlândia, em Brasília e em praticamente todos os estados brasileiros, tudo muito bem feito, especializado em transporte rodoviário de cargas itinerante em geral, de um sabão para lavar roupa a uma jóia de grande valor. Nós possuíamos 21 filiais e chegamos a ter 300 caminhões livres e desimpedidos de qualquer ônus, adquiridos pelo trabalho. Investíamos na empresa tudo aquilo que ganhávamos, porque acreditávamos nela, mas a empresa familiar tem muitos problemas, ou ela se profissionaliza ou então a terceira geração a encerra, que é o que tem acontecido em muitos casos."
CONTROLE
"Fazíamos reuniões a cada seis meses e, cada ano, nós tínhamos um controle estimado dos custos operacionais por meio de um economista contratado que trazia à mesa da diretoria os números para conferência. Naquela época, quase não havia roubo de carga, era um custo que não se colocava. Hoje é uma temeridade ser um transportador sem o serviço de rastreamento, que torna o transporte muito mais caro. Não tinha computador, era tudo feito e calculado na raça mesmo, mas conseguimos sobreviver e fazer a transição da empresa de média para grande. Hoje, a tecnologia ajuda muito, existem escolas profissionalizantes para dar capacitação aos funcionários. No final da minha gestão, já tínhamos profissionais que iam até a empresa fazer palestras e levar esclarecimento aos responsáveis pela arrumação de cargas. Chegamos a construir um mini império que não acabou, mas cada um ficou com um pedaço da colcha de retalhos."
PROFISSIONALISMO
"Hoje, é preciso ser um profissional para ser empresário, porque todo empreendedor precisa saber fazer aquilo que se propõe. Não adianta inventar moda, tem que fazer e não tirar o pé do acelerador. Se eu fosse recomeçar a minha vida empresarial, iria profissionalizar-me e conhecer profundamente a melhor forma de administrar o meu negócio. Primeiro, eu investiria num estudo de viabilidade econômica com a tecnologia que temos atualmente. Quem se dispuser a ser empresário, precisa fazer uma pesquisa de mercado. No caso do transporte rodoviário de cargas, é necessário ter espaço para manusear a carga, mas se eu quisesse vender algo, procuraria uma rua de movimento. No caso de uma indústria, faria um bom produto e procuraria cada vez mais diminuir custos, porque só sobrevive quem tem um diferencial a mais para oferecer. Acima de tudo, tem que dispor de um capital de giro e de uma estrutura para se segurar pelo menos durante os primeiros seis meses de implementação para não nascer morto. Eu não acredito que o Brasil esteja desenvolvendo-se e crescendo em razão do modelo de governo, mas sim por causa do empresário brasileiro, que é ousado e vai em frente."
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