Na Globalização, o Verbo é Traduzir
Eliminar fronteiras comerciais é fácil. O difícil é romper a barreira da linguagem. Com a integração dos mercados, a demanda por traduções explode, especialmente nas áreas das privatizações e da tecnologia. No Brasil, poucas empresas estão preparadas para esse desafio. São necessárias equipes especializadas nas mais diversas áreas técnicas que possam desempenhar, com eficiência e rapidez, a gigantesca tarefa de traduzir dezenas de milhares de páginas de documentações técnicas, ou, ainda, localizar softwares de todos os tamanhos. Além disso, enfrentar a concorrência internacional nesse setor exige preparo que ultrapassa todos os limites.
A empresária Tiana Donato, da All Tasks - www.alltasks.com.br -, decidiu pegar esse touro à unha. Sua empresa é a maior agência de traduções da América Latina e vem há vinte anos prestando serviços para empresas de todo o mundo, trabalhando com uma média de 25 mil páginas por mês e atendendo 2 mil clientes por ano. Ela tempera essa realidade com uma gestão centrada no treinamento permanente, investindo nos colaboradores, lidando com a flexibilidade e a emoção no relacionamento interno. O objetivo é atingir níveis de excelência compatíveis com as exigências do mercado internacional.
No depoimento a seguir, Tiana relaciona os principais desafios da sua atividade e indica as perspectivas para um setor que atravessa momentos decisivos.
NICHOS
"Em 1989 abandonei quatro outras empresas para me dedicar exclusivamente a All Tasks. Porém, logo em seguida, veio o Plano Collor, que nos deixou reduzidos a praticamente nada. Foi, então, que resolvemos contatar empresas fora do País e conseguimos nosso primeiro contrato, com 120 mil páginas, com a AT&T, concorrendo com agências brasileiras e estrangeiras e com mais duas que eram da própria corporação. Foi preciso crescer para atender a demanda. A área de telecomunicações vinha sendo dinamizada pelas privatizações, e nos especializamos, ao máximo, vindo a traduzir outras grandes documentações para a Motorola, Nortel, Ericsson, Nec e outras."
QUALIDADE
"No Brasil, a importância de uma boa tradução técnica ainda não é devidamente reconhecida. Trata-se de um trabalho altamente intelectual e especializado, além de exigir muita pesquisa. Os preços variam de R$ 5,00 a R$ 50,00 por lauda, e o critério de quem contrata, quase sempre, é de optar pelo menor preço. Mesmo o contratante mais bem informado, raramente, visita seu fornecedor. Pelo menos 80% de nossos clientes no exterior pegam uma passagem e vêm conhecer nossas instalações, ao passo que clientes nossos, de vinte anos, com escritório aqui em São Paulo nunca vieram. Traduzir bem exige um envolvimento profundo com o assunto em questão. Hoje em dia, empresas no exterior chamam a tradução de software de 'localização' e cobram uma fortuna por isso, devido, justamente ao nível de envolvimento necessário. Sob este ponto de vista, todas as nossas traduções feitas até hoje podem ser chamadas de localizações. Numa tradução feita para uma das maiores montadoras do País, percebemos, por exemplo, através de análises das vistas explodidas das peças, numerosos erros de descrição no idioma original. Alertamos o cliente e fomos incumbidos da tarefa de revisão geral, antes de iniciar a tradução, evitando, assim, a multiplicação de erros. Existe, ainda, outro caso muito curioso, de uma empresa que só percebeu o erro de tradução no nome de seu principal produto depois de havê-lo patenteado e gasto uma fortuna com propaganda."
TECNOLOGIA
"O que chamam de machine translation, que é a tradução automática, nós não fazemos, pois elas mais atrapalham do que ajudam. Mas existem os softwares gerenciadores de tradução, que já poupam, hoje, pelo menos 50% dos gastos futuros, através de aproveitamento de memórias. Quem tem grandes documentações técnicas e precisa atualizá-las com freqüência já testou e aprovou enfaticamente nossa sugestão. Eles são, também, quase indispensáveis na localização de software para garantir a padronização. Toda essa tecnologia dá novo enfoque a esse setor, resultando em drástica redução do número de agências em todo o mundo. Nós mesmos teremos que comprar agências ou fazer boas parcerias nos cinco continentes se quisermos continuar competitivos. Afinal de contas, estamos tratando, aqui, de quebrar a última barreira da comunicação, que é a linguagem."
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