O Discurso Frágil da Cidadania
Embora conceitos universais, como a ética nas atividades humanas, sejam amplamente difundidos e praticados no chamado Primeiro Mundo há centenas de anos, no Brasil esses valores ainda enfrentam enormes obstáculos para tornarem-se a base de conduta determinante da nossa realidade. Num país colonizado por oportunismo econômico, em que sempre prevaleceu roubar o fruto maduro do que plantar uma árvore, em que a troca de favores e apadrinhamentos se estabeleceram como normas estruturais de um processo histórico que privilegiou o individualismo em detrimento da comunidade, não é de espantar que palavras como cidadania e compromisso social não encontrem o respaldo significativo suficiente para legitimar a representatividade permanente de instituições que procuram utilizá-las como bandeiras na luta por condições dignas de vida. O surgimento do Pensamento Nacional das Bases Empresariais (PNBE) www.pnbe.org.br , em 1987, foi uma tentativa de congregar empresários com uma visão menos corporativa e mais comprometida com o desenvolvimento da Nação. Com o fortalecimento das instituições democráticas e da economia global, acabaram aparecendo outras iniciativas nesse sentido, obrigando a entidade a repensar seu papel inovador. O empresário Ricardo Young Silva, coordenador-geral do PNBE, fala da experiência e dos novos caminhos na busca do que ele chama de uma atuação empresarial responsável.
MOVIMENTO ALTERNATIVO
"No PNBE, os empresários encontraram a oportunidade de discutir questões de interesse nacional ligadas à melhora das relações de trabalho, fazendo contatos para firmar parcerias com sindicatos e desenvolver projetos junto a escolas, bancos de alimento, mantendo sempre uma convivência muito direta com o governo, no intuito de se tornar um espaço importante para o diálogo entre o poder institucionalizado e a sociedade civil. Esse papel foi bem preenchido até cerca de três anos atrás, quando outras entidades corporativas empresariais também começaram a redefinir sua função em virtude da consolidação da democracia no País. Demos um grande exemplo, ao mostrar que o empresariado não está restrito apenas aos seus interesses imediatos de lucratividade, mas preocupa-se, também, com os destinos do País. Acreditamos que a atividade econômica deve ser ética por definição, ainda mais agora, na era tecnológica, em que não se permite mais a falta de transparência."
NOVO PAPEL
"A partir dos últimos anos, nós temos rediscutido a missão inicial do PNBE, que hoje apresenta um foco diferente, assumindo a tarefa de indutora de uma consciência mais ampla dos empresários. Com a globalização e a revolução tecnológica, a própria lógica da gestão empresarial tem-se modificado enquanto agente econômico e social. Começa a nascer nova percepção de que a responsabilidade social da empresa não só contribui para melhorar as condições de vida em geral mas também passa a ser componente fundamental na formação da identidade e do prestígio da organização. Temos, atualmente, quinhentos associados, empresários ou consultores, em nível nacional, com concentração nas principais capitais brasileiras e em cidades do interior de São Paulo. A mudança se dá pelo exemplo. Quanto mais empresas atuarem de forma consciente e responsável, mais poder e autoridade teremos no processo político."
CONCORRÊNCIA
"É inevitável que o PNBE também seja um espaço de exposição pública dos seus dirigentes, o que provoca divisões internas. Temos buscado resolver isso, impedindo que os empresários associados que venham a assumir o poder executivo continuem participando como coordenadores. O surgimento de outras entidades como a nossa tende a ampliar o escopo de atuação social, e todo mundo ganha com isso, mas só que não neste momento do Brasil, ainda tão carente, em que a consciência empresarial apenas nasce, fraca, com as empresas tendo que se redefinir em razão dos desafios, provocando a disputa de recursos limitados. Temos que ensinar a população a ser cidadã, aprendendo em conjunto com ela. Fazer com que uma idéia nova para o País como essa se sustente exige muita dedicação, e as pessoas aqui simplesmente não estão amadurecidas para a cidadania. Ninguém nos ensinou a ser solidários e responsáveis."
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