Marcas do tempo
Neste ano, a Casa da Bóia comemora 110 anos de atuação na produção e no comércio brasileiro de metais. Foi em 1898 que a primeira fundição de cobre do Brasil entrou em operação em um casarão da Rua Florêncio de Abreu, no centro de São Paulo, pela iniciativa pioneira do imigrante sírio Rizkallah Jorge Tahan. No entanto, de nada adianta ter uma longa história de sucesso, se essa trajetória não for preservada e registrada em seus momentos mais marcantes para que a tradição seja uma ferramenta estratégica tão forte a ponto de tornar a empresa atualizada e interessante como negócio permanente. Seu fundador foi visionário nesse sentido e deixou para os netos uma herança que vai além do patrimônio físico, agregando a ele, por meio da memória empresarial, o valor inestimável do seu espírito empreendedor sempre presente, gerando frutos que despertam a atenção de numerosos fornecedores e clientes até hoje. Em depoimento exclusivo e repleto de relatos inspirados nas façanhas empreendedoras do avô, Mario Roberto Rizkallah, que há onze anos assumiu a direção da empresa sozinho www.casadaboia.com.br , revela a essência da sua gestão, norteada pelos princípios cultivados no decorrer de mais de cem anos de existência no mercado nacional.
MUDANÇAS
"A empresa começou a prosperar fabricando peças de decoração, como corrimãos, arandelas, lustres, caixas de correio, entre outras. Com os surtos de febre amarela no final do século XIX e início do século XX avançando sobre os centros urbanos como São Paulo, era preciso melhorar as condições de higiene da população, o que faz surgir a demanda por material hidráulico, além da necessidade de equipar as casas com caixas- d’água que precisavam das bóias para regular a entrada de água. Assim surgiu a Casa da Bóia, que produzia peças manufaturadas para todo o Brasil. Já com a entrada dos tubos de PVC nesse segmento de mercado, Rizkallah Jorge, com a ajuda dos filhos, foi transformando aos poucos a fundição em uma distribuidora de material hidráulico, de chapas e fios de cobre, de latão e de bronze para a indústria nacional, e que ainda hoje, não abre mão de atender e de orientar os clientes que vão visitar a loja pessoalmente."
PODER CONCENTRADO
"A concentração de poder numa organização consiste em um fator determinante para a continuidade de empresas familiares de pequeno ou médio portes, uma vez que o crescimento das famílias é quase sempre maior do que o das empresas. Com o objetivo de trocar idéias sobre o negócio, eu tenho um consultor que vem aqui uma vez por semana. Trata-se de uma terapia empresarial, pois essas conversas são vitais para mim e para a empresa. Nesse sentido, um profissional de fora, com visão de mercado e com uma experiência maior do que a minha, pode ajudar-me na luta intensa para abrir a cabeça dos funcionários mais antigos e eliminar os vícios de gestão. Em um mercado competitivo como o nosso, somente a tradição não garante a sobrevivência de ninguém. Por isso, estamos focados em acompanhar as mudanças tecnológicas, como o telemarketing e a Internet, mas oferecemos como valor maior a confiança na origem dos nossos produtos, uma logística de entrega eficiente e a honestidade em tudo aquilo que fazemos. Para trabalhar hoje, o empreendedor tem que fazer muita projeção, planejar o mercado e tentar trabalhar da maneira mais enxuta possível."
RAÍZES
"Para comemorar os seus 110 anos, a Casa da Bóia deu continuidade ao resgate histórico. Depois de fundarmos um museu com peças raras e um documentário com imagens exclusivas do crescimento da loja, filmadas em película no final da década de 20 a pedido do fundador, chegou a vez de o estabelecimento passar por uma reforma. Ao observarmos antigas fotos, vimos pinturas nas paredes que não estavam mais lá. Resolvemos então investigar e descobrimos os desenhos originais, que foram devidamente restaurados. Por isso, acreditamos que as pessoas que entram na loja hoje sentem que, na Casa da Bóia, existe o respeito às raízes, à memória e um compromisso permanente com a história. Isso contribui para que sejamos vistos como uma empresa que, apesar de centenária, continua atuante e competitiva, trabalhando de acordo com as exigências de modernidade, mas sem se esquecer dos ideais de respeito e de seriedade que foram colocados em prática pelo meu avô.
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