Falta Estratégia no Comércio Exterior
Falta Estratégia no Comércio Exterior
Quando o tema é exportar, só há uma certeza: existe muito a ser feito, principalmente no caso das pequenas e médias empresas brasileiras. Iniciativas isoladas para estimular as negociações com o mercado externo não faltam, estando a maioria em fase de implantação. Mas até que ponto a tentativa de comercializar R$ 100 mil em países que movimentam cerca de US$ 40 bilhões somente com vendas diretas pode ser considerada expressiva? A busca de novos mercados fora do território nacional ainda é considerada uma iniciativa pioneira que, de maneira precipitada, vem sendo comemorada como indício de sucesso. Nesse aspecto, parece haver um conflito entre a realidade e a ação teórica. Na prática, os mecanismos de estímulo às exportações não se encontram devidamente organizados para vencer os desafios provocados pela abertura econômica. A seguir, em depoimento exclusivo, os principais representantes de entidades ligadas à indústria e ao comércio falam da situação atual e das perspectivas para suas cidades e regiões.
HORACIO LAFER PIVA (Presidente da Fiesp/Ciesp)
"A inserção das pequenas e médias empresas no comércio internacional é um processo que está sendo desenvolvido sob a orientação do Sistema Fiesp/Ciesp, do Sebrae, da Agência de Promoção de Importações e da Associação do Comércio Exterior do Brasil. O objetivo principal desse esforço é acabar com os temores que ainda existem em relação ao comércio exterior, além de conscientizar os empresários da importância da internacionalização dos negócios. Para isso, palestras, seminários, workshops e mesmo a ação direta junto das empresas, com a promoção de produtos e serviços, vêm sendo utilizados como instrumentos eficazes para a mudança de postura necessária nessa área. É fundamental demonstrar o papel das exportações no sucesso dos negócios, enfatizando a existência de numerosas oportunidades para quem está disposto a trabalhar dentro dos modernos padrões de competitividade. Ao mesmo tempo, estamos procurando promover uma ação conjunta entre pequenas e médias empresas, a exemplo do que ocorre em países como a Itália, onde a união empresarial tem sido fator de desenvolvimento e de conquista de mercado externo."
JONEL CHEDE (Presidente da Associação Comercial do Paraná - ACP)
"Para facilitar o ingresso das empresas de pequeno e médio portes no mercado externo, o Conselho de Comércio Exterior da ACP está incentivando a formação de consórcios exportadores para reduzir custos de operação. Essa união de empresas apresenta o aspecto positivo e relevante de somar o volume de mercadorias pela composição de pools empresariais, conseguindo uma redução razoável de custos e, naturalmente, uma troca de informações e de experiências muito salutar, que favorece, também, a obtenção de créditos. Dentro desse mecanismo, as garantias para as instituições financeiras que vão participar da operação são bem maiores do que em propostas individuais, facilitando a liberação de recursos. É preciso que a globalização se faça na sua totalidade, pois estamos globalizando tudo, menos os juros, que ainda são altíssimos no Brasil e inviabilizam os custos de exportação. Nesse sentido, a criação de um banco de fomento que tenha o exportador como parceiro dinamizaria o segmento, atendendo o empresário em todos os níveis. Sem isso, vamos passar para o engessamento das exportações, dentro de um mecanismo em que falta suporte financeiro, com o custo do dinheiro inviabilizando o produto no mercado internacional."
LUÍS ROBERTO MESQUITA (Presidente da Associação Comercial e Industrial de Guarulhos/SP)
"A necessidade do governo em equilibrar as contas públicas, o que implica priorizar as exportações com a conseqüente redução do déficit da balança comercial, é um fator de incentivo ao ingresso das pequenas e médias empresas no mercado externo. Para tanto, o Programa Especial de Exportação, em fase de implementação, tem como objetivo eliminar os entraves burocráticos, contemplando vários segmentos com potencial de exportação. Como no caso de muitos países europeus, em face das novas dificuldades decorrentes da crise financeira internacional, as pequenas empresas tenderão a formar pools ou associações para vencer tais barreiras. Em Guarulhos, esse segmento tem apresentado pouca expressividade no comércio exterior, ainda dependente das grandes empresas da região. Mas um número significativo delas já está atuando lá fora, graças às facilidades introduzidas pelo Mercosul, em especial no que diz respeito à proximidade dos importadores e similaridades de língua e costumes."
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