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Autor:
Dorival Jesus Augusto
Qualificação: Presidente do Imemo - Instituto da Memória Empresarial (www.imemo.com.br)
E-mail: [email protected]
Data:
31/05/06
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Memória Empresarial: Arma Para O Futuro

A cultura acumulada nas empresas é um acervo riquíssimo que deve ser resgatado de modo permanente. Fruto da experiência de todos os integrantes do processo e da interação com as comunidades onde atuam, a memória empresarial é insumo precioso que precisa ser incorporado integralmente pelos principais interessados. Empresários e estudiosos podem, por meio da memória, beneficiar não apenas o mundo corporativo ou acadêmico, mas a população em geral e a nação em particular. Não se trata de voltar os olhos para o passado, mas encarar cada feito de um projeto que é sonhado, concretizado e vitorioso como a luz que precisamos para vencer desafios e criar soluções.

É costume dizer que a história não se repete e, por isso, pouco poderemos aproveitar do que aconteceu em meses, anos ou décadas passadas. Trata-se de uma visão pequena de algo muito maior. Pois o conhecimento de nossos passos anteriores nos revela o exemplo vivo do que somos capazes de fazer. Podemos economizar tempo e dinheiro se formos sábios o suficiente para entender o significado das lições trazidas pela memória. Ela pode ser a riqueza que estamos procurando em meio às incertezas de hoje.

Imaginem se esquecêssemos o fato de que um estudante brasileiro de engenharia um dia apresentou a idéia de montar um automóvel totalmente nacional e que seu professor lhe disse: “Gurgel, carro não se fabrica, se compra! “O recado era claro: montadora de automóvel só sendo multinacional”. Pois essa palavra foi glosada pelo trocadilho usado por João Augusto Conrado do Amaral Gurgel sempre que lhe perguntavam a nacionalidade da empresa fundada por ele, apesar de conselhos contrários e advertências: “Ela é muito nacional”, dizia. Ele detalhou sua estratégia na entrevista à Sala do Empresário, edição nº 04, um depoimento que faz parte do acervo do Imemo-Instituto da Memória Empresarial (www.imemo.com.br): “As multinacionais de automóveis são como boxeadores pesados que lutam dentro das mesmas regras do jogo. Um empresário pequeno que quiser conquistar alguma coisa nesse campo minado terá que mudar de paradigma. Entrar, por exemplo, lutando karatê, que é cheio de lances imprevisíveis para os boxeadores”.

E se desconhecêssemos sua luta e suas conquistas, os inúmeros modelos que lançou por mais de uma década, sendo enfim vencido pela abertura comercial abrupta do início dos anos 90? E se ficássemos apenas na advertência daquele professor e voltássemos as costas para a rica trajetória deste empreendedor visionário e corajoso, que mostrou que é possível sermos como hoje é a Coréia, que fabrica seus próprios carros? Idêntico ao exemplo de Gurgel, existem milhares de outros. Não apenas de pessoas que conseguiram furar o bloqueio, foram vencedores, mas também aqueles que conseguiram provar seu sonho por um determinado tempo, ou então que não foram muito longe. Tudo isso conta para entendermos direito como funcionam os mecanismos da nossa inteligência nacional, quais são as dificuldades, o que costuma se repetir, que tipo de conclusões podemos tirar de tudo isso. Precisamos ir a fundo nessa pesquisa e mostrar para todas as gerações a vocação de nossa grandeza.

Foi pensando nisso que criamos em 1987 o Programa Sala do Empresário. São já quase 750 depoimentos, que compõem o acervo do Imemo-Instituto da Memória Empresarial. Pessoas com empresas de todos os ramos e porte deixaram seu testemunho neste banco de dados que é uma referência para todos que se arriscam a montar seu negócio próprio. Este é um agrupamento de informações que serve para os que se interessam pela dinâmica da vida empresarial nas últimas décadas, um período rico de experiências bem e mal sucedidas e que gera clareza sobre a realidade do Brasil e sua inserção no mundo. Acompanhamos passo a passo essa luta e podemos dizer que a jornada continua todo o dia, toda semana, mês e ano, pois sabemos que estamos fornecendo apoio ao estudo do modelo de administração do Brasil, com cases originais, vistos pelos próprios autores.

Este é um diferencial importante, pois quem faz, pensa. As pessoas que tomaram as rédeas dos seus negócios é que sabem dizer o que realmente aconteceu, quais os acertos e erros, o que ficou dessa experiência e como isso nos ajuda a seguir em frente. Isso enriquece quem lê e nos prova o quanto é importante ter a memória empresarial como arma para o futuro num país como o nosso, enorme, complicado e mutante.

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