Meio de Campo em Tempo de Guerra
No ajuste feito pelas empresas brasileiras, virou lugar-comum enxugar o meio de
campo, eliminar cargos intermediários, exorcizar a média gerência.
Mas, como a modernidade não se faz através de regras imutáveis,
é bom escutar a experiência de empresários, como Rodrigo Aguiar
Lopes e Adriano de A. Pinto, da Echo Eletrônica Indústria
e Comércio Ltda., que funciona em uma área de 450 metros quadrados
no bairro da Freguesia do Ó, em São Paulo. Eles estão fazendo
exatamente o contrário, por necessidades estratégicas.
"O pequeno empresário acha que precisa fazer tudo ao mesmo tempo",
diz Rodrigo. "Ele bate o escanteio e vai cabecear na área para fazer
o gol. Mas isso está mudando, porque o mercado marca sob pressão."
Para conseguir vencer o jogo, eles estão contratando supervisores, criando
a chamada linha intermediária da pirâmide. Ela é formada por
um supervisor administrativo-financeiro, um de produção e outro
de vendas, para dar suporte necessário à direção e
fazer a ponte com os colaboradores e a cúpula.
Mas é claro que essas contratações obedecem aos novos esquemas
empresariais, já que cada um dos supervisores terá múltiplas
funções e não ficará, como em tempos remotos, estanque
em seus cargos. Essa é uma das soluções encontradas pelos
dois engenheiros, que, já na época de estudantes, tinham montado
empresas e acabaram encontrando afinidades para fabricar cabos e conversores para
informática, estabilizadores de tensão, chaveadores eletrônicos
e mecânicos e filtros de linha.
Nesta entrevista exclusiva, Rodrigo conta como ele e seu sócio desenvolveram
o esquema tático e o planejamento para enfrentar a guerra de um mercado
aberto para o mundo, que ameaça equipes malpreparadas e empresários
viciados no improviso.
FUNCIONÁRIO FAZ PARTE DA ESTRATÉGIA
"O funcionário da pequena empresa é diferente do funcionário
de uma grande companhia. Ele transfere para o empresário carências
afetivas, problemas familiares e suas dificuldades sociais: transporte, moradia,
educação. A relação entre funcionário e patrão
é muito próxima e direta. Mas deve ser feita a relação
custo/benefício, quanto à produtividade e qualidade. Aí se
decide quanto vai ser investido para ter alguém adequado às necessidades
da empresa.
Graças à orientação do SEBRAE/SP, temos feito vários
treinamentos e contratado consultorias. Mas surgem alguns problemas, pois vimos,
por exemplo, que faltava motivação para discutir certos assuntos.
O clima ficava meio dispersivo. É preciso esforço para mostrar que
cada um faz parte da empresa. Essa indiferença é culpa também
dos próprios empresários, que costumam colocar seu funcionário
em terceiro ou quarto plano.
As dificuldades nos obrigam, muitas vezes, a contratar gente já treinada,
pois a competição está cada vez mais acirrada no mercado.
Estamos precisando de gente que já consiga interagir conosco na tomada
de decisão. Mas o próprio funcionário está sentindo
necessidade de se preparar melhor e conseguir mais qualificação.
As agências de emprego já fazem uma pré-seleção.
Está existindo muita confusão no mercado, porque aqui, no Brasil,
tudo é decidido às pressas. As grandes empresas sabem de tudo com
antecedência, atuando nos bastidores, enquanto o pequeno empresário
fica confinado ao seu trabalho e não consegue pressionar o Congresso para
melhorar o País. É preciso mudar esses hábitos."
FALTA DE CONTROLE GERA FALÊNCIA
"O Brasil está modernizando-se, porque é uma necessidade de
sobrevivência. É preciso produzir melhor, com custos mais baixos,
e quem não está fazendo isso já faliu. Conheço muitas
empresas do nosso setor que fecharam, porque não tinham controle de custos
nem de estoques. Às vezes, o ladrão da caixa-d'água
está do outro lado e você nem está vendo onde acontece a perda.
Nossa filosofia é agir como uma grande empresa, aproveitando o pequeno
porte que temos atualmente. Como os volumes são pequenos, é possível
implementar um controle geral sobre a organização, sobre tempos
e métodos, pedidos, pagamentos, tributos, produção etc. O
microempresário acha que, no dia seguinte, ele lembra de tudo, mas, em
cinco meses, já não sabe o que aconteceu.
Queremos que a empresa cresça e, se isso acontecer sem controle, pode-se
perder a memória do negócio, aumentando a bola de neve da desorganização.
É preciso ser uma empresa moderna desde o início. Nos anos seguintes,
você tem todas as informações desse histórico e fica
fácil descobrir qualquer tipo de problema.
Como estamos evoluindo rapidamente, vamos perdendo essa visão geral sobre
a empresa. Por isso, estamos contratando supervisores para melhorar a liderança,
a organização e os processos. Eles vão atuar no controle
gerencial com responsabilidades, tomando decisões. Vão trabalhar
com agilidade, adequando a produção ao mercado. Naturalmente, não
será um controle rígido, mas elástico, para saber se as metas
estão sendo atingidas e o que é possível melhorar."
NA PERIFERIA, A VISÃO É MELHOR
"Queremos ficar na parte mais periférica da empresa, para enxergar
as tendências do mercado e saber quais os diferenciais que devemos oferecer.
Quando entramos no ramo de estabilizadores de voltagem, por exemplo, descobrimos
que a dificuldade era a inadequação dos equipamentos para os vários
tipos de tensão existentes no Brasil. Então, com os nossos estabilizadores,
é possível selecionar no mesmo aparelho a tensão de entrada
e saída correta, em qualquer lugar do País.
Agora, queremos entrar nos outros países do Mercosul, onde também
existem grandes flutuações de rede. Estamos realizando estudos para
saber como os consumidores de lá se comportam, senão corremos o
risco de entregar produtos não adequados ao mercado.
Infelizmente, no Brasil, não existe uma cadeia de vendas correta, já
que várias indústrias atravessam suas revendas para tentar sobreviver
nesta crise, sem perceber que estão perdendo seus parceiros comerciais.
A Echo Eletrônica investe no poder de penetração de seus distribuidores
e revendas, tornando-os parceiros na luta de prospecção de clientes.
Nossa filosofia inclui, também, proporcionar soluções definitivas
e completas para os usuários. A busca das características de cada
mercado demanda tempo e um trabalho estratégico em sintonia fina com as
tendências, pois elas mudam a toda hora.
Havendo visão de futuro, pode-se ter o melhor produto, com menor custo
e melhor fornecedor. Deve-se evitar que a relação com os clientes
seja sempre encarada como uma operação salva-vidas da empresa."
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