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« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 77 (26/09/1993)

Meio de Campo em Tempo de Guerra

No ajuste feito pelas empresas brasileiras, virou lugar-comum enxugar o meio de campo, eliminar cargos intermediários, exorcizar a média gerência. Mas, como a modernidade não se faz através de regras imutáveis, é bom escutar a experiência de empresários, como Rodrigo Aguiar Lopes e Adriano de A. Pinto, da Echo Eletrônica Indústria e Comércio Ltda., que funciona em uma área de 450 metros quadrados no bairro da Freguesia do Ó, em São Paulo. Eles estão fazendo exatamente o contrário, por necessidades estratégicas.
"O pequeno empresário acha que precisa fazer tudo ao mesmo tempo", diz Rodrigo. "Ele bate o escanteio e vai cabecear na área para fazer o gol. Mas isso está mudando, porque o mercado marca sob pressão."
Para conseguir vencer o jogo, eles estão contratando supervisores, criando a chamada linha intermediária da pirâmide. Ela é formada por um supervisor administrativo-financeiro, um de produção e outro de vendas, para dar suporte necessário à direção e fazer a ponte com os colaboradores e a cúpula.
Mas é claro que essas contratações obedecem aos novos esquemas empresariais, já que cada um dos supervisores terá múltiplas funções e não ficará, como em tempos remotos, estanque em seus cargos. Essa é uma das soluções encontradas pelos dois engenheiros, que, já na época de estudantes, tinham montado empresas e acabaram encontrando afinidades para fabricar cabos e conversores para informática, estabilizadores de tensão, chaveadores eletrônicos e mecânicos e filtros de linha.
Nesta entrevista exclusiva, Rodrigo conta como ele e seu sócio desenvolveram o esquema tático e o planejamento para enfrentar a guerra de um mercado aberto para o mundo, que ameaça equipes malpreparadas e empresários viciados no improviso.

FUNCIONÁRIO FAZ PARTE DA ESTRATÉGIA
"O funcionário da pequena empresa é diferente do funcionário de uma grande companhia. Ele transfere para o empresário carências afetivas, problemas familiares e suas dificuldades sociais: transporte, moradia, educação. A relação entre funcionário e patrão é muito próxima e direta. Mas deve ser feita a relação custo/benefício, quanto à produtividade e qualidade. Aí se decide quanto vai ser investido para ter alguém adequado às necessidades da empresa.
Graças à orientação do SEBRAE/SP, temos feito vários treinamentos e contratado consultorias. Mas surgem alguns problemas, pois vimos, por exemplo, que faltava motivação para discutir certos assuntos. O clima ficava meio dispersivo. É preciso esforço para mostrar que cada um faz parte da empresa. Essa indiferença é culpa também dos próprios empresários, que costumam colocar seu funcionário em terceiro ou quarto plano.
As dificuldades nos obrigam, muitas vezes, a contratar gente já treinada, pois a competição está cada vez mais acirrada no mercado. Estamos precisando de gente que já consiga interagir conosco na tomada de decisão. Mas o próprio funcionário está sentindo necessidade de se preparar melhor e conseguir mais qualificação. As agências de emprego já fazem uma pré-seleção.
Está existindo muita confusão no mercado, porque aqui, no Brasil, tudo é decidido às pressas. As grandes empresas sabem de tudo com antecedência, atuando nos bastidores, enquanto o pequeno empresário fica confinado ao seu trabalho e não consegue pressionar o Congresso para melhorar o País. É preciso mudar esses hábitos."

FALTA DE CONTROLE GERA FALÊNCIA
"O Brasil está modernizando-se, porque é uma necessidade de sobrevivência. É preciso produzir melhor, com custos mais baixos, e quem não está fazendo isso já faliu. Conheço muitas empresas do nosso setor que fecharam, porque não tinham controle de custos nem de estoques. Às vezes, o ladrão da caixa-d'água está do outro lado e você nem está vendo onde acontece a perda.
Nossa filosofia é agir como uma grande empresa, aproveitando o pequeno porte que temos atualmente. Como os volumes são pequenos, é possível implementar um controle geral sobre a organização, sobre tempos e métodos, pedidos, pagamentos, tributos, produção etc. O microempresário acha que, no dia seguinte, ele lembra de tudo, mas, em cinco meses, já não sabe o que aconteceu.
Queremos que a empresa cresça e, se isso acontecer sem controle, pode-se perder a memória do negócio, aumentando a bola de neve da desorganização. É preciso ser uma empresa moderna desde o início. Nos anos seguintes, você tem todas as informações desse histórico e fica fácil descobrir qualquer tipo de problema.
Como estamos evoluindo rapidamente, vamos perdendo essa visão geral sobre a empresa. Por isso, estamos contratando supervisores para melhorar a liderança, a organização e os processos. Eles vão atuar no controle gerencial com responsabilidades, tomando decisões. Vão trabalhar com agilidade, adequando a produção ao mercado. Naturalmente, não será um controle rígido, mas elástico, para saber se as metas estão sendo atingidas e o que é possível melhorar."

NA PERIFERIA, A VISÃO É MELHOR

"Queremos ficar na parte mais periférica da empresa, para enxergar as tendências do mercado e saber quais os diferenciais que devemos oferecer. Quando entramos no ramo de estabilizadores de voltagem, por exemplo, descobrimos que a dificuldade era a inadequação dos equipamentos para os vários tipos de tensão existentes no Brasil. Então, com os nossos estabilizadores, é possível selecionar no mesmo aparelho a tensão de entrada e saída correta, em qualquer lugar do País.
Agora, queremos entrar nos outros países do Mercosul, onde também existem grandes flutuações de rede. Estamos realizando estudos para saber como os consumidores de lá se comportam, senão corremos o risco de entregar produtos não adequados ao mercado.
Infelizmente, no Brasil, não existe uma cadeia de vendas correta, já que várias indústrias atravessam suas revendas para tentar sobreviver nesta crise, sem perceber que estão perdendo seus parceiros comerciais. A Echo Eletrônica investe no poder de penetração de seus distribuidores e revendas, tornando-os parceiros na luta de prospecção de clientes.
Nossa filosofia inclui, também, proporcionar soluções definitivas e completas para os usuários. A busca das características de cada mercado demanda tempo e um trabalho estratégico em sintonia fina com as tendências, pois elas mudam a toda hora.
Havendo visão de futuro, pode-se ter o melhor produto, com menor custo e melhor fornecedor. Deve-se evitar que a relação com os clientes seja sempre encarada como uma operação salva-vidas da empresa."


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