Emprego de Excepcional é Valorizado
Pessoas portadoras de deficiência física estão montando suas próprias empresas ou sendo colocadas no mercado de trabalho com sucesso, depois de um tratamento voltado para adequar suas capacidades - ou suas eficiências - às funções exigidas num mercado cada vez mais competitivo. Isso está acontecendo porque os excepcionais mostram-se tão empenhados em acertar que acabam impondo-se aos fornecedores e clientes, ou, então, convencendo os empresários do acerto em contratá-los. Um dos fatores é que as limitações orgânicas precisam ser compensadas com mais produtividade e qualidade no cumprimento das tarefas.
Isso tudo acaba gerando uma demanda crescente, que é atendida por entidades especializadas na colocação desse tipo de mão-de-obra. É o caso da Associação para a Valorização e Promoção de Excepcionais (Avape) www.avape.org.br , que faz um trabalho múltiplo, pois promove a habilitação e a reabilitação em diversas áreas, como neurologia, ortopedia, terapia ocupacional, fisioterapia, psicologia, entre outras, e faz a reabilitação profissional, funcionando, também como empregadora.
No depoimento a seguir, o superintendente e fundador da Avape, sociólogo Marcos Antônio Gonçalves, e a gerente do departamento assistencial, psicóloga clínica Sylvia Helena Moraes Cury, explicam como funciona essa entidade, que gera sua própria receita e está no caminho para conseguir a certificação ISO-9002.
FORMAÇÃO DA CIDADANIA
"Aqui, nós tratamos as eficiências dos excepcionais. Esse é o nosso diferencial. Ao chegar aqui, o indivíduo vai receber tratamento médico, clínico, fisioterápico, psicológico, o que ele precisar, mas, além disso ele, vai ter todo um plano de tratamento. Nossa intenção é deixá-lo pronto para conviver dentro de um processo de cidadania e não mantê-lo dentro da instituição.
O histórico da Avape está muito ligado à história da minha vida. Tenho um irmão deficiente, cuido dele há 23 anos e acabei envolvendo-me com essa causa. Junto com outras pessoas, funcionários da Volkswagen, que também tinham casos semelhantes nas suas famílias, sentíamos a necessidade de fundar uma associação diferente, que se auto-sustentasse, pois as que existiam estavam sempre à beira da falência. Depois de cinco anos de encontros, em 1982 fundamos a Avape.
Dentro dessa visão de que muitos dos excepcionais poderiam trabalhar, produzir e também ajudar a manter a entidade, montamos, em 1985, um centro de digitação. Treinado, um digitador nosso pode até alcançar os 15 mil toques por hora, o que é quase o dobro da média, que é de 8 mil toques. Hoje, a Avape tem doze unidades clínicas, em São Bernardo do Campo, Santo André e Taubaté e outras espalhadas pelo interior do estado."
SOLUÇÃO PARA OS EMPREGADORES
"Essas unidades clínicas, obviamente, dão prejuízo, pois, se centros de reabilitação dessem lucro, existiria um em cada esquina. Por isso, temos uma estrutura empresarial, uma estrutura forte de prestação de serviços exatamente para manter essa parte assistencial. Nosso orçamento, em 1995, foi de US$ 3 milhões. A maioria dos pacientes não tem condições de pagar, então, é preciso gerar receita para viabilizar esse atendimento.
Atuamos nas áreas de informática, processamento de dados, digitação, alimentação, desenho, eletrônica, pintura, desenvolvendo cursos voltados para as necessidades de mercado. Prestamos serviços à comunidade nos mais diversos segmentos, como administração e higienização de restaurantes, consertos telefônicos, consultorias, assessorias.
Com isso, conseguimos já colocar mais de mil pessoas no mercado de trabalho nos últimos cinco anos. Os funcionários da própria Avape que são portadores de deficiência e que prestam serviços nas empresas já passam de quatrocentos. Temos clientes como a Telesp, Dataprev, Dersa, Ford, Mercedes-Benz, TRW, entre outros. É preciso preparar os excepcionais para competir no mercado de trabalho e, nessa arena, a entidade, a instituição, também precisa estar preparada. É por isso que estamos investindo na certificação ISO-9002, que, no nosso setor, é um fato inédito no mundo. O empresário entende essa linguagem."
EFICIÊNCIA NO LUGAR DA CARIDADE
"No final de 1995, fizemos um seminário sobre o portador de deficiência e o trabalho com os micro e pequenos empresários. Foi um sucesso e contou com a participação do Simpi, Fiesp, Senai e do SEBRAE. Começamos um processo de parceria com o SEBRAE/SP para colocar pessoas no telemarketing. São trinta pessoas que trabalham lá, treinadas pela Avape. O próprio portador de deficiência também pode ser um empresário. Muitos deles estão fazendo trabalho de telemarketing em casa, pois não têm condições de sair. Por que não podemos ter gente portadora de deficiência desenvolvendo sistemas de computador dentro do seu escritório doméstico?
A sociedade brasileira ainda tem uma visão muito caritativa e não qualitativa, e isso precisa ser extirpado. Reconhecemos que o governo tem que ajudar, contribuir, mas temos que ser práticos e entender que existem 15 milhões de pessoas portadoras de deficiência e que acabam não sendo prioridade, pois, ao mesmo tempo, existem milhões de crianças passando fome, idosos desassistidos e mulheres fora do mercado de trabalho."
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