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« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 369 (02/05/1999)

De Bem Com a Profissão

Enquanto o mundo se preocupa em ouvir representantes das mais diversas seitas espirituais, esperando encontrar nas palavras desses "gurus" uma fórmula esotérica capaz de mostrar o caminho da felicidade, nunca esteve tão claro e evidente que essa jornada tem início dentro de cada um de nós. A partir do momento que aprendemos a reconhecer e a lidar com as emoções básicas do ser humano, como a agressividade, a inveja e o medo, buscando elaborar essas energias a nosso favor, tudo se torna mais fácil. Uma pessoa feliz emocionalmente sob todos os aspectos, sem dúvida alguma vai sentir-se estimulada a produzir melhor, e não se trata aqui de magia, de poderes sobrenaturais ou mesmo de modismo para vender livros e seminários. O processo é simples, desde que haja consciência por parte das organizações e dos seus dirigentes de que a valorização e o desenvolvimento dos recursos humanos se tornou, hoje, o diferencial de um negócio em termos de eficácia e competitividade na acirrada disputa pelo mercado global. Nesse sentido, a interação emocional que busca a sinergia de uma equipe para vencer os obstáculos impostos pelas relações humanas merece atenção especial daqueles que enxergam no trabalho muito mais do que um simples exercício burocrático de inserção na sociedade. É o que demonstra, de maneira muito própria e em depoimento exclusivo, Paulo Gaudencio www.paulogaudencio.com.br, médico psiquiatra e consultor de empresas na área comportamental.

PRIORIDADE INTERNA
"As empresas sempre souberam que a cabeça dos funcionários deveria estar voltada para uma atuação prazerosa. Agora, começam a descobrir que também as emoções dos indivíduos têm que estar direcionadas para esse mesmo fim. É preciso viver o lado emocional no papel profissional, viver a agressividade de forma normal, sabendo canalizar essa energia para a conquista do mercado. Ser feliz no trabalho aumenta a produtividade, e é essa fórmula que está levando as organizações a pensar na realização do empregado em primeiro lugar, pois isso vai garantir a satisfação dos clientes externos como conseqüência. As pesquisas revelam que as principais causas da felicidade profissional estão no desafio, no reconhecimento, no fato de se sentir útil e de gostar daquilo que se faz. A remuneração aparece em 22º lugar na lista, o que explica por que numerosas campanhas de motivação baseadas na recompensa financeira dão errado e quando atingem algum resultado, ele é efêmero, sendo necessário aumentar o prêmio cada vez mais."

MUDANÇA DE EXPRESSÃO
"Nós devemos mudar essa história de pequeno empresário para empresário de pequena empresa, porque existe basicamente o empresário, que materializa uma idéia, e o que diferencia é o tamanho da empresa. A conexão com a emoção é a chave de tudo e começa com o autoconhecimento. Quem não conhece suas próprias emoções, não sabe reconhecer as emoções dos seus subordinados, sendo incapaz de fazer com que eles cresçam profissionalmente. As grandes empresas já descobriram isso, mas o empresário de pequena empresa pensa que não tem meios para financiar esse tipo de treinamento. Se vários deles se associassem com o objetivo de investir em um trabalho comportamental, o preço ficaria bem reduzido, sem contar que iriam agregar a esse benefício de saber lidar com o lado emocional o fato de serem muito mais ágeis. Tem agilidade sobrando, mas é preciso aprender a lidar com isso. Aí, sai de baixo."

DESAFIO PENDULAR
"O equilíbrio emocional é fundamental para que o empresário possa superar períodos de depressão e perceber o quanto é responsável ou não pelas derrotas que teve. Existe uma grande diferença entre derrota e fracasso. Ele é um fracassado à medida que tem um cúmplice interno que o aponta como culpado, e, nesse caso, é bom olhar para dentro para não repetir o erro. Na derrota, ele só perdeu uma batalha, trabalhou bem, fez o melhor possível, mas as circunstâncias externas tornaram seu negócio inviável. O homem não é um ser que apresenta um desempenho profissional entediante e uma vida eufórica, tem que haver um movimento pendular entre a dificuldade e a habilidade. Grande dificuldade e baixa habilidade faz com que o indivíduo adoeça por estar acima do seu nível de competência. Da mesma forma que o oposto induz ao tédio. Já o equilíbrio entre as duas forças vai chamar-se desafio, ou seja, o medo estimulante e saudável que move o mundo e faz com que possamos correr atrás de um objetivo."


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