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« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 12 (05/11/1987)

A Boa Liderança Não Indispensável

A administração centralizadora e conformista, com chefes considerados indispensáveis, está totalmente ultrapassada. No seu lugar, surge um novo sistema, de delegação de funções, através de criação de departamentos dirigidos por homens competentes, para transmitir aos colaboradores a filosofia da organização. O verdadeiro líder transmite segurança, ao assumir o comando, correndo riscos, participando de todos os projetos e ampliando o leque do pessoal especializado em áreas diversas, de forma que a empresa fique saudável e perene.
Nesse sistema, os homens passam e fica a organização. Parece simples, mas é preciso coragem para aplicar essa fórmula e mudar o rumo da gestão de uma organização como o grupo Química Industrial Barra do Piraí S. A., como fez seu presidente, Eduardo Pereira Tostes. Convidado a assumir o cargo em 1981, ele teve que fazer uma reformulação completa nesse grupo, fundado em 1943 pelo seu avô e hoje formado por quatro empresas sediadas nos municípios de Barra do Piraí, no Rio de Janeiro, e em Arcos, em Minas Gerais. Com 950 funcionários, o principal produto é o carbonato de cálcio precipitado, largamente utilizado como matéria-prima nas indústrias de borracha, papel, tintas, PVC, poliuretano, entre outras. Hoje, as empresas do grupo colocam no mercado treze itens, com especificações diferentes.
No depoimento a seguir, Tostes detalha sua conceituação sobre a boa liderança e a influência que ela exerce, apoiada pela consultoria eficiente, sobre a saúde empresarial.

INCONFORMISMO NÃO TEM IDADE
"Meu avô era uma gaúcho que se estabeleceu em São Paulo, e minha mãe é do Rio de Janeiro. Eu pertencia ao ramo carioca da família e, mais distanciado das empresas e a exemplo dos meus irmãos, lá desenvolvi minha carreira profissional, primeiro, como piloto comercial e, mais tarde, na parte de administração de outras empresas. Meu último emprego antes de assumir o grupo, que enfrentava vários entraves, foi na Interbrás, empresa da Petrobrás.
Até a década de 80, a Barra do Piraí produzia apenas carbonato de cálcio precipitado, considerando-se uma fabricante típica desse produto, sem nenhuma outra ambição. Não tinha filiais e vivia de forma muita crítica. Com as crises, e os problemas de tabelamentos de preço, ela começou a apresentar queda nos números, exigindo mudanças estruturais e em seu planejamento estratégico, em que se inclui a diversificação.
O rompimento com as velhas estruturas, quando necessário, é uma qualidade inerente a um bom líder empresarial. É antiprofissional manter pessoas que um dia deram a vida pela empresa e mantêm-se, agora, nela, sem nada produzir. É preciso promover reformas adequadas ao rejuvenescimento e ao redirecionamento da organização, que é geradora de lucros, e não uma obra assistencial. Quero trabalhar com os eternos inconformados, com aquele inconformismo positivo que não tem idade."

ENTUSIASMO É SAÚDE
"A liderança eficiente implica participação, e o verdadeiro líder não é aquele que todos olham extasiados, mas a pessoa capaz de desenvolver na empresa um sistema de delegação de funções. A liderança deve vir do exemplo de quem a exerce, pois não adianta pregar uma série de condutas ou exigir dos subordinados o cumprimento de determinadas tarefas, se o que o líder faz é exatamente o oposto.
Para exemplificar, a cobrança austera na questão dos gastos esvazia-se, quando o próprio administrador irradia ostentação. Da mesma forma, eu acredito que a boa liderança não pode ser indispensável. Há empresas que, ao perder seus principais executivos, entram em declínio, muitas vezes deixando até de sobreviver. Isso não deve acontecer na empresa profissional, na qual o líder cria uma estrutura forte.
O carisma é também outro fator importante para um líder. Ele pode não ter nascido carismático, mas, dentro daquela função que ocupa, é indispensável que irradie carisma a seus subordinados para implantar de forma eficiente a mentalidade, a filosofia da vida empresarial. Na Barra do Piraí, nós procuramos, desde o início, aplicar modificações para transformar a empresa familiar em organização progressiva. Com isso, o empregado sente que participa de uma estrutura viva e saudável, em que terá oportunidades de promoção. Acho fundamental esse entusiasmo contagiante para o desenvolvimento da organização."

MUDAR NA HORA CERTA
"Uma empresa que passa pela transição - de profissional para familiar -apresenta um ‘staff’ em fase de promoção, quando os empregados devem ser treinados para ocupar novos cargos. O administrador não pode, nesse contexto, bancar o professor, por lhe faltarem tempo e didática necessários para isso. Aí é que entra a figura do consultor empresarial, que eu considero, também, importantíssima para o sucesso.
Além de trazer à empresa um sangue novo, a consultoria analisa as prioridades em conjunto com o administrador, como uma pessoa de fora, sem a menor preocupação de agradar o patrão. Aliás, a verdadeira consultoria deve ser assim. Em nosso período de transição, tivemos consultores nas áreas administrativas, de recursos humanos, processamento de dados e treinamento. Esse trabalho foi muito importante, servindo-nos como um tipo de alavancagem.
Através da consultoria, criamos um sistema elementar de orçamento que a empresa não tinha; gerências nas fábricas; implantação da informática, entre outras providências. Até então, tudo era centralizado numa pessoa, o diretor técnico, que tinha ali uma posição de liderança absoluta. Na ocasião, não pude aceitar a situação, mas, devagar, fui tentando mudá-la. Às vezes, você já sabe o que mudar, mas precisa esperar pelo momento oportuno. Caso contrário, quem sai da empresa é o elemento inovador."


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