O pique Precoce de uma Geração
Enquanto a mídia perde tempo com a pintura na cara dos jovens - uma
solução ideal para editores de fotos coloridas e de imagens de televisão
-, o verdadeiro rosto da nova geração desenha-se na sombra,
longe do oportunismo visual e da pauta redundante. Os exemplos estão por
toda a parte. E o motivo é óbvio: já que o mercado não
abre espaço para a mão-de-obra emergente, ela vai à luta
e começa a criar sua própria ocupação, por meio de
empreendimentos que começam a aparecer e a se consolidar.
Alexandre Tadeu da Costa, da Cacau Show Chocolates Finos - www.cacaushow.com.br -, empresa situada no
bairro da Casa Verde, em São Paulo, é um dos numerosos casos de
empresário brasileiro precoce. Em 1988, com apenas 17 anos, ele deu sua
primeira investida, vendendo chocolates artesanais na Páscoa. Hoje, aos
22 anos, emprega dez vendedores espalhados pela cidade, todos com condução
fornecida pela empresa, e produz dez toneladas por mês.
Sua especialidade são bombons de chocolate com recheios especiais, inclusive
licorosos, vendidos nas padarias, lojas de conveniência, restaurantes, videolocadoras
e doçarias, quase ao preço dos bombons comuns. "Descobri esse
nicho, quando vi como eram caros os bombons finos das grandes empresas do ramo",
diz Alexandre. "Achei que as pessoas mereciam ter produtos desses bem à
mão, para consumo próprio, e não para dar de presente."
Para chegar até esse estágio, ele precisou abrir mão de muita
coisa: lazer, escola - trancou a matrícula na Faculdade de Administração
da Faap no terceiro ano - e tranqüilidade. Mas não se arrepende
de nada. Hoje, ele se sente orgulhoso em gerar empregos e está animado
com a perspectiva de tornar-se um industrial importante do setor - para isso
até já comprou várias máquinas.
A seguir, ele conta como conseguiu deslanchar, com a ajuda do SEBRAE/SP, e decidir
seu destino longe do superficialismo que caracteriza a cultura "jovem",
inventada pelos meios de comunicação.
APRENDI A NEGOCIAR COM A FAMÍLIA
"Comecei a trabalhar como secretário do gerente de vendas da empresa
da minha mãe, onde aprendi muito sobre a técnica de vendas. Ela
era demonstradora de produtos cosméticos e utilidades e levava-me desde
os cinco anos de idade junto com ela, quando fazia contatos e fechava negócios.
Este foi um dos fatores mais importantes para o meu sucesso, pois adquiri cedo
essa sensibilidade para negociar.
Mais tarde, não me adaptei ao esquema familiar, pois gosto de desafios
e sempre sonhei em ter minha própria empresa, fruto de minha criação
e de meu trabalho. Mas, para dar esse salto, precisei, naturalmente, do apoio
e do incentivo familiar. Aproveitei, então, as 2 mil vendedoras que dispúnhamos
na época e relancei a marca criada pelos meus pais, a Cacau Show, que era
colocada no chocolate produzido por pequenas fábricas.
Usei, inclusive, os catálogos feitos dois anos antes e que estavam um pouco
de lado, pois a idéia não tinha dado muito lucro. Mas houve um problema:
vendi ovos de 50 gramas, que meu fornecedor não tinha, e precisei contratar
uma chocolateira na última hora para não decepcionar os clientes.
Felizmente, deu certo."
SUCESSO NÃO DEPENDE DE FACULDADE
"Fiz apenas até o terceiro ano da Faculdade de Administração,
porque precisei dedicar-me integralmente à empresa. Mas mantenho boas amizades
com minha turma. Como não completei a faculdade, não posso fazer
uma avaliação precisa, mas o tempo que passei lá me deu a
impressão de que ela ainda se ressente muito da falta de prática
e do excesso de teoria. Felizmente, hoje existem empresas juniores dentro das
faculdades para que o aluno tome contato com a realidade de mercado e não
saia da escola sem preparo.
Dentro de minhas limitações de terceiro-anista, também acredito
que a faculdade não trabalha muito a questão de tomada de decisão.
É como corrida no Jóquei Clube: um cavalo chega em segundo lugar,
quando perde por milésimos de segundos para o primeiro colocado. É
assim também no mundo dos negócios - você precisa estar
sempre na frente.
Acredito que é possível ter sucesso sem passar obrigatoriamente
pela faculdade. Lá, não aprendi detalhes que, à primeira
vista, parecem estranhos, mas que acontecem no dia-a-dia. Às vezes, por
exemplo, você precisa cortar o custo fixo e chegar até o ponto de
encará-lo como custo variável. Outra coisa que você aprende
na marra: o mercado fixa o preço, e não a minha estrutura interna.
Eu é que preciso adequar-me ao que está fora de mim, e não
o contrário.
É preciso, também, reinvestir de maneira permanente, ter força
de vontade, lutar para manter em pé sua auto-estima, correr riscos, descobrir
e aproveitar oportunidades. Descobri que preciso trabalhar sem dinheiro. Imobilizo
o capital e trabalho com contas a pagar, pois funciono precisando de dinheiro.
Sucesso depende de suor, sensibilidade e conhecimento. Hoje, por exemplo, procuro
ter um fornecedor para cada matéria-prima. Com esse método consigo
um volume razoável de compras, estabelecendo, assim, excelente parceria
com meus fornecedores, como Chocolates Garoto, Comarpe e Rekplast."
O MARKETING ANTES E O PRODUTO DEPOIS -
"Um publicitário chamou-me de louco, porque eu não
tinha o produto e já estava criando a marca e encomendando a campanha.
Mas é assim que funciona. Atualmente, estamos pesquisando recheio, porque,
no fundo, é isso que eu vendo. Montamos um laboratório ainda muito
pequeno, mas, aos poucos, vou incrementá-lo para poder ir desenvolvendo
soluções próprias.
Tivemos que aprender tudo aqui dentro. A empresa virou praticamente uma escola,
pois 90% dos nossos funcionários são jovens entre 18 e 25 anos,
sendo muito responsáveis e com habilidade para aprender rapidamente. Eu
aprendo e passo adiante. Com isso, o treinamento aqui é constante. Tenho-me
envolvido emocionalmente com todos os processos da empresa e, agora, estou tentando
desvencilhar-me dessa rotina para pensar mais na frente. Preciso aprender a delegar,
que é a única forma de crescer de fato.
Vivo a empresa de segunda a sábado, sem descanso, e, na Páscoa,
costumo virar a noite aqui dentro. Tenho um controle de custos muito rigoroso
e furo os concorrentes com uma estrutura ágil. Nossos produtos são
comercializados diretamente para o varejo, sem a intermediação do
atacado. Preciso disso, pois trabalho com vida útil de noventa dias no
máximo. Se produzo 10 toneladas, compro 12: o lucro vira chocolate e fica
estocado, para a Páscoa.
Procuro pensar sempre na frente. Por isso, tenho comprado máquinas, para
poder crescer no futuro. Tenho grande admiração por alguns empresários
do setor que conseguiram criar grandes empreendimentos com muito esforço
e uma estratégia correta."
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