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« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 133 (23/10/1994)

Ponto de Mutação Desafia a Coragem

Uma pequena empresa, quando ultrapassa a linha da mortalidade precoce - dois anos de vida, em média -, corre o risco de começar a crescer. Chega, então, o momento de definir a rota adequada para dar o salto definitivo. Nessa curva do caminho, duas tentações costumam desafiar o empresário, dividido entre preservar o que conseguiu construir e aproveitar as oportunidades que o mercado oferece.
Primeiro, ele é incentivado, pelo hábito, a não mudar sua estratégia de gerenciamento - atitude inspirada na máxima "não se mexe em time que está ganhando". Segundo, é atiçado pela perspectiva de prosperidade e de realização profissional, que pode ser conseguida pela incorporação de novos valores ao seu empreendimento.
Mesmo quem trabalha num nicho de mercado que vive da revolução do comportamento - como é o caso dos produtos relacionados com o rock and roll - sofre diante dessa encruzilhada. Talvez porque lidar com espaços alternativos do mercado não chega a ser uma atividade que prometa altos vôos no Brasil. Mas Abraham Jacob Aflalo, que há onze anos toca a sua New-Rock Confecções Ltda., - Tel.: (011) 3022-9152 -, de São Paulo, já ultrapassou, há tempos, a fase de sonhos restritos.
Ele quer deslanchar - tanto que deixou de mexer só com a indústria e, em parceria, tem um ponto comercial que vende com exclusividade suas camisetas estampadas com motivos inspirados no mundo do rock. Mas reconhece que precisa definir uma série de coisas, antes de tomar o rumo do crescimento. É sobre isso que ele fala no depoimento a seguir.

VENDO O QUE O PÚBLICO QUER
"Vim de Piraçununga, interior de São Paulo, onde fiz farmácia na Unesp por um ano e meio e acabei descobrindo que estava no lugar errado. Havia um cenário familiar favorável a essa escolha que fiz, pois meu pai tinha um laboratório, minha irmã é bioquímica e minha mãe trabalhava num posto de saúde. Cheguei a entrar na pedagogia, mas acabei escolhendo o ramo de confecções.
Comecei com um sócio, que ficou por pouco tempo no empreendimento, e depois toquei o negócio junto com minha esposa. Nosso trabalho é semi-artesanal, mas de alta qualidade. Trabalhamos com estampas conhecidas e famosas, mas também encomendamos desenhos inéditos de artistas free-lancers, que fazem grande sucesso entre os jovens. Estampamos, em média, trezentas camisetas por dia e utilizamos entre quatrocentas e quinhentas estampas de rock. Trabalhamos, também, com outros tipos de peça, como bonés, jaquetas e bermudas.
As camisetas são confeccionadas pelo meu irmão, que tem uma fábrica em Piraçununga. Quando o SEBRAE/SP veio prestar-nos uma consultoria, achou meio complicado nosso processo, pois a gente compra o tecido, faz o corte, envia para o interior, traz de volta o produto pronto e faz a estampa. Mas o custo do transporte não é muito alto, e eu acho que compensa.
Atendemos um público que é muito restrito e atualmente está na fase do heavy metal - caveira é a imagem preferida. Tenho minhas preferências musicais e estéticas e entrei nesse ramo porque gosto de rock. Mas vendo o que o público quer e fico atento às mudanças de gosto e de comportamento. Consultamos nossos funcionários, que são jovens na maioria, e também o público da loja em que vendemos nossas confecções e que está situada na Galeria do Rock, na rua 24 de Maio, centro de São Paulo."

MEDO DE ERRAR VEM DE LONGE

"A consultoria do SEBRAE/SP mostrou que falta muita coisa aqui na empresa em termos de administração. Conseguimos tocar o negócio de maneira eficiente, mas preciso de mais tempo para criar novos vetores da produção, ficar atento a tendências, cuidar da parte comercial etc. Fomos elogiados em alguns aspectos, mas em outros precisamos melhorar, como no caso da estrutura de atendimento ao cliente, que precisa ser ampliada.
Ainda estou sentindo-me preso a alguns fatores, como a centralização das decisões, mas acho difícil começar a delegar. Assim mesmo, acho que mudei muito, pois consegui repassar algumas atividades que me envolviam pessoalmente. Ao mesmo tempo, sinto muito medo de outra pessoa cometer erros se eu repassar algumas funções.
A expansão comercial está dando certo, mas ainda é problemática em termos de crescimento. Na loja da Galeria do Rock, pago 10% do faturamento para um parceiro no empreendimento, mas ainda não sei se devo abrir uma loja em outro lugar. São idéias que estou amadurecendo e pretendo implantá-las com segurança. Tive exemplos familiares de quedas de faturamento devido à falta de estratégia, e isso marcou bastante minha carreira. Por isso, prefiro agir com muita prudência.

A DIFÍCIL DECISÃO DE CRESCER
"Já me falaram que posso continuar como estou, pois muita gente toca seus negócios sem se aprofundar demais nesses problemas gerenciais. Mas acho que cheguei a um ponto que, para melhorar e crescer, é preciso pensar muito. Mas o SEBRAE está ajudando-me muito nessa encruzilhada. Quero, por exemplo, implantar, aqui, a participação dos lucros, mas ainda não consegui.
Gostaria de organizar alguma coisa em que eu realmente acreditasse, dar para cada funcionário o equivalente ao aumento da produção. A idéia é melhorar ainda mais a qualidade e, portanto, o salário, dentro das nossas possibilidades. Tenho o exemplo de muitos empresários de rock que conseguiram deslanchar nos negócios e procuro fazer o mesmo.
Uma das possibilidades é conseguir alguém para poder trabalhar junto na parte administrativa. Não estou pensando em sócio, pois tenho um gênio difícil para isso e sou muito desconfiado. Trabalhei a vida inteira sozinho e acho que não é a hora de mudar essa filosofia. Quero ter tudo organizado, sem dores de cabeça, melhorar ainda mais meu preço, para evitar desgastes inúteis. Não me arrisco, não faço nada sem um bom resguardo por trás. Sou extremamente cuidadoso."


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