Um Economista Enfrenta o Mercado
Muitos
empresários têm motivos de sobra para desconfiar dos economistas,
que já inventaram de tudo: seqüestro da poupança, juros escorchantes,
arrocho no consumo, sucateamento da produção, com os resultados
já conhecidos. Para curar todo esse experimentalismo, que desemboca,
invariavelmente, na recessão, só mesmo um pesado estágio
na vida real, o mercado, longe da lucrativa vida virtual, a ciranda financeira.
Pois tem economista que está pegando o touro à unha. Francisco
Carlos de Oliveira Castro, formado pela Faculdade São Luiz, em São
Paulo, foi auditor e professor de economia e teve até um escritório
de consultoria, mas hoje está envolvido até a medula no segmento
de produtos de couro. Sua Serino Castro Ind. e Com. de Bolsas Ltda.
- Tel.: (0146) 21-3046 -, fundada em Jaú por ele e sua mulher, a
designer Leslie, é uma constante prova de fogo para quem precisa atender
os consumidores de bolsas e calçados, adivinhando a estratégia
do governo para não fechar.
A sorte é que ele participa de um dos Pólos de Modernização
implantados pelo SEBRAE/SP em convênio, primeiro, com a USP e, agora,
com a Fundação de Apoio à Tecnologia (FAT) e Senai. O conceito
articula concorrentes em redes horizontais de produção, substituindo
a antiga postura de competição pela parceria consorciada, aumentando
a eficiência geral, sem prejudicar o desempenho de ninguém. A seguir,
Francisco conta como desenvolve seu trabalho em dois cenários distintos:
um adverso, macroeconômico, e outro favorável, dentro da sua região.
SÓCIO AJUDA A EVOLUIR
"Fundamos a empresa porque verificamos um nicho, o de bolsas, que complementa
o calçado feminino, que é a especialidade desta região.
Unimos forças: a visão da moda por parte de minha mulher e a minha
experiência na área administrativa e financeira. Criamos a marca
Leslie Castro para as bolsas e, a partir deste ano, a Town's People para
os calçados. Com vinte funcionários, mais esquemas de terceirização,
produzimos 200 pares de calçados e entre 100 e 120 bolsas por dia.
Neste ano, decidimos trazer para nossa empresa um novo sócio, que é
amigo nosso de infância e está dando apoio na área administrativa.
Foi um salto muito grande, pois chega um determinado momento em que essa estratégia
de assumir todas as atividades acaba prejudicando a evolução do
empreendimento.
Hoje, Jaú tem suporte para o empresário que quiser receber o sapato
na caixa, pronto. Mas isso demanda esforço, pois essa é uma atividade
que possui muitos itens para se fechar todo o ciclo produtivo e a questão
de materiais e de localização atrapalha de certa maneira. Então,
nós fazemos uma opção parcial: só em determinados
setores nós terceirizamos, a montagem final é toda feita aqui
na fábrica."
A IMPORTÂNCIA DO PÓLO DE MODERNIZAÇÃO
"O Pólo de Modernização, que é uma idéia
trazida da Itália, existe aqui há três anos e aglutinou
a área intelectual, a industrial e as instituições como
as universidades, o SEBRAE, o Senai e o Sindicato das Indústrias de Calçados
de Jaú. Existem mais outros pólos no interior do estado, como
o cerâmico de Itu, o de móveis de Votuporanga, o têxtil de
Americana. A situação geral do nosso pólo está bem
avançada. Inclusive, estamos fechando o ciclo final, pois cerca de quarenta
empresas já foram beneficiadas com a consultoria de técnicos de
alto nível, que introduziram muitas idéias de melhora nas áreas
administrativa, financeira e de produção, além de ajudar
a alavancar as vendas do setor.
Graças a esse projeto, fazemos cursos de reciclagem e temos treinamento
para os funcionários, além de acesso a linhas de crédito,
o que tem sido de grande valia para nós. Com o apoio de grandes empresas
e de fornecedores, o pólo também está ajudando a implantar
um laboratório técnico de ensaios e análises para testes
de matérias-primas, como cola, solado, couro e outros materiais.
A partir do momento em que solicitamos uma análise de determinado produto,
o laboratório tem condição, através de um convênio,
de emitir um laudo, que tem peso internacional, porque ele atende as especificações
exigidas no mercado externo. Ele, inclusive, poderá servir, em caso de
demanda jurídica, como prova da qualidade da matéria-prima.
ATENÇÃO AOS CARTÉIS
"No momento atual, é muito difícil fazer qualquer planejamento
de produção, mesmo a nível de Mercosul. Não temos
preços competitivos, tanto nos insumos quanto na mão-de-obra.
Perdemos no preço, não na qualidade e na capacidade de produção.
Enquanto não houver uma definição do governo federal, não
teremos condições de exportar. Nesse processo, quem tem menos
poder é o pequeno empresário, que é discriminado na hora
de comprar materiais. Incentivos fiscais são pequenos e, além
disso, o couro importado alcança preço menor do que o vendido
no mercado interno. É preciso um mínimo de equiparação.
Muitas empresas tradicionais estão fechando, abrindo um espaço
para as empresas pequenas, que se adaptam mais facilmente às mudanças.
Para isso, precisamos ter domínio da tecnologia, uma visão muito
grande do mercado e agilidade na negociação. Procuramos acompanhar
as medidas do governo, mas não existe segurança, pois há
interferência de pessoas poderosas. Tentamos enxergar qual será
a reação do lado negro do mercado, que são os lobbies e
cartéis, para podermos definir nossa estratégia."
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